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Resenha: História Zero

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Título: História Zero
Autor: William Gibson
Editora: Aleph
ISBN: 9788576571858
Ano: 2015
Páginas: 514
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Sinopse:

“História Zero”, assim como em Reconhecimento de Padrões e Território Fantasma, explora o lado mais sombrio do marketing e o cenário conturbado do pós-11 de setembro e da crise global de 2008. A nova meta do ambicioso Hubertus Bigend é controlar o fornecimento de uniformes militares nos Estados Unidos e se valer da crescente influência desse estilo no mercado mainstream. Para tanto, ele busca aliciar o criador anônimo de uma obscura e desejada marca de roupas que virou febre entre consumidores do mundo inteiro. A ex-roqueira e jornalista Hollis Henry está praticamente falida. A contragosto, ela aceita a proposta do bilionário belga para rastrear e identificar o misterioso designer. Nessa missão, Hollis contará com a ajuda de Milgrim, um tradutor ex-viciado em drogas cuja drástica reabilitação fora bancada pelo próprio Bigend. Mas o trabalho de ambos chama a atenção de concorrentes indesejados, dando início a uma delirante perseguição que acaba envolvendo um agente do governo norte-americano, o intrépido namorado de Hollis e até mesmo o ex-baterista de sua antiga banda.

Resenha:

Diferente do que faço normalmente, nessa resenha não colocarei aquele breve resumo inicial da premissa do livro. O motivo é simples: a rede criada pelo autor é tão intrincada que qualquer coisa que eu possa falar, sem promover spoiler, já se encontra na sinopse. Então, a leia atentamente, pois partiremos direto para a análise da obra.

De início, devo dizer que já conhecia a escrita do autor, então já sabia parcialmente o que esperar. Ao ler Neuromancer, tive contato com uma escrita inteligente e futurística do Gibson. Porém, assim como no primeiro livro, ele conseguiu me surpreender. E o motivo simples: o William mostrou saber trabalhar o presente, o que encontramos em História Zero, de maneira tão brilhante quanto trabalha o futuro no cyberpunk.


Nesta obra, o ponto alto é a intrincada rede de informações e objetivos criada. Bigend, que é um ricaço curioso, quer dominar um determinado setor industrial e para isso contrata algumas pessoas de áreas totalmente distintas. Essas pessoas farão investigações, cada uma em sua área. Contudo, as linhas começam a se enroscar de maneira inesperada e trará incômodo para algumas pessoas muito poderosas.
“Narrativa. Consumidores não compram produtos, mas narrativas” (p. 33).
Porém, o que chama a atenção são as áreas envolvidas em toda a rede: que passam por moda, marketing, produção de material militar e tráfico internacional. Você deve estar se perguntando o que isso tudo tem em comum, mas isso você terá que ler para entender. E já aviso, você precisará ler com muita calma para assimilar tudo.

Outro ponto alto da obra, e que exatamente permite essa rede de intriga e interesses, é a escrita do autor. Cadenciada e muito detalhada, ele vai conduzindo o leitor pelos becos obscuros da sociedade. Com grandes e boas descrições, situa muito bem cada ambiente e personagem, além de deixar dicas para o desfecho do livro. Aliás, são essas dicas que fazem que seja necessária uma leitura calma e atenta. O autor não diz tudo claramente; ela vai até a metade do caminho e dá dica para o resto, cabe ao leitor chegar ou não. Se você ler rapidamente, sem prestar atenção nos detalhes, a obra se torna incompreensível.


Porém, a escrita excelente e detalhada do autor, que foi uma das maiores qualidades da obra, também foi o seu único defeito. Parece contraditório, mas não é. No ápice do livro, no momento de maior ação, essa mesma escrita que deixou a obra inteligente, deixa o auge um pouco mais lento. Como o autor esmera-se pelos detalhes, ele acaba esfriando um pouco os picos que deveriam ser de ação. Contudo, não é nada que afete a qualidade da obra de maneira tão significativa. Mesmo com esse detalhe, a leitura me deixou muito satisfeito.
“O sal da terra nunca lhe diz que é sal da terra. As pessoas que caem em armadilhas não sabem disso” (p. 72).
O autor também merece os parabéns pela gama de personagens incríveis que criou. Enigmáticos, conturbados, confusos, desesperados, exagerados... Humanos. Extremamente reais e problemáticos, Gibson consegue desnudá-los através das palavras. Entre uma página e a outra, é possível entender suas dores, suas motivações e principalmente suas neuroses. Mesmo em terceira pessoa, a aproximação com cada integrante da trama é enorme.

Como a cereja do bolo, a editora Aleph entrega mais uma excelente edição aos fãs. A capa é bonita e reflete bem o conteúdo da obra. A tradução e a revisão estão perfeitas, o que já é padrão da editora. A diagramação, por sua vez, está bem simples, mas agradável.


De uma maneira geral, a leitura me agradou muito e eu, certamente, lerei outras obras do Gibson. Sua narrativa madura e inteligente me ganhou sem dificuldades. Se você também está procurando uma obra nesse estilo, certamente essa é uma excelente opção. Contudo, se o objetivo for apenas uma leitura para passar o tempo, é melhor deixar esse livro para um momento de maior concentração.
“Ler, sua terapeuta havia sugerido, provavelmente havia sido sua primeira droga” (p. 121).


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