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Resenha: Inácio: o cantador-rei da catingueira

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Título: Inácio: o cantador-rei da catingueira
Autora: Arlene Holanda
Ilustrador: Alexandre Teles
Editora: Gaivota
ISBN: 9788564816459
Ano: 2014
Páginas: 76
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Sinopse:

Inácio de Catingueira, menino-escravo, um dos precursores do repente no sertão da Paraíba, deixou sua história na boca do povo, como memória cultural coletiva. E é a partir da tradição oral que a história surge neste livro, como uma biografia romanceada, mais ligada às tradições do que a fatos documentados e informações oficiais, trazendo traços da cultura de um povo que, há muito, é renegado pelo racismo e pelo preconceito.

Resenha:

Inácio da Catingueira foi um menino que nasceu em uma fazenda escravista. Por tal motivo, ainda durante a infância, foi separado de sua mãe – que perdeu todos os privilégios que tinha na casa-grande por, supostamente, ter se relacionado com um homem branco – e foi inserido na sociedade como um jovem à margem, escravizado e um quase órfão.

Contudo, Inácio redescobriu o prazer da vida nos cânticos. Contudo, não eram músicas tradicionais que faziam a sua cabeça, mas o “repente”. Esse estilo é uma espécie de rimas musicalizadas, construídas no improviso, onde os dois cantadores participantes travam uma batalha de versos. Aliás, é uma marca da cultura brasileira, especialmente no Nordeste.


Como cantor, Inácio conseguirá se redescobrir como homem, como humano. Também é com a sua voz que seu nome é marcado na história. Contudo, nem o sucesso pôde apagar todas as marcas que a escravidão deixou. Nessa biografia romantizada, que se aproxima muito mais das tradições do que dos livros de história, você conhecerá a vida de Inácio, as marcas que ficaram na sua vida, e também a triste situação social do Brasil escravista.
“O cacique Piancó e seus guerreiros lutaram até as últimas forças. Dizem que seu nome, traduzido para a língua portuguesa, significa terror, pavor. Por fim, os povos indígenas foram escorraçados, e começaram a se instalar as fazendas de gado. Fazendeiros truculentos faziam valer suas próprias leis. Trouxeram filhos, mulheres, escravos, bois, cavalos, tropas de mulas e jagunços. Erigiram casas-grandes e fizeram edificar igrejas em honra aos santos de sua devoção. A população nativa, assim como a escravizada, foi compelida a troca de crenças e divindades” (p. 13).
Nesta reconstrução do trajeto de Inácio, Arlene cria mais do que um bom livro: ela presta um serviço à sociedade. A obra vai além de contar a vida de um homem escravizado que marcou seu nome na história e na cultura brasileira; mostra a realidade crua e dolorosa do sistema servil que vigorou no Brasil. Essa explanação da realidade é excelente, principalmente para o público mais jovem ao qual o livro se destina, afinal, ajuda a entender a nossa realidade hoje e evita que voltemos a repetir erros do passado.

Devido ao tamanho diminuto do livro, por ele ser juvenil e ter uma proximidade maior com a cultura oral, não há um aprofundamento muito grande da biografia de Inácio. Esqueça aquela estrutura de datas, dias e cronologia precisa. A romantização deixa o texto mais leve e propício para que se conheça a vida do protagonista e tome-se conhecimento da sua arte.


Além das críticas sociais e da boa escrita da Arlene, a obra ainda conta com belíssimas ilustrações de Alexandre Teles. Todas em amarelo e preto, como na capa, retratam momentos da vida de Inácio, seja praticando a sua arte, seja se relacionando com pessoas que marcaram a sua vida, ou até mesmo praticando o seu trabalho duro de escravo.
“O alojamento dos escravos ficava perto dos currais e não era propriamente uma senzala. Mas havia, fixadas na parede, argolas de ferro providencialmente dispostas para alguma emergência. O cheiro de terra, do melaço de cana e do esterco dos bois fundiam-se num aroma específico, que se espalhava pelas redondezas” (p. 20).
A parte física, além das ilustrações, não deixa a desejar. A capa é bonita e chamativa, ao menos para quem já tenha algum conhecimento sobre quem foi Inácio da Catingueira. A diagramação é um luxo: folhas grossas, diversos detalhes coloridos, letras e espaçamento confortáveis e ainda possui trechos das músicas do repente destacados. Ademais, a revisão está perfeita, deixando a leitura ainda melhor.


Em suma, Inácio: o cantador-rei de Catingueiraé uma obra bela, rica e perfeita para conhecermos mais um aspecto da vasta cultura brasileira. Sem dúvidas, vale a leitura.

Outras fotos:







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