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Resenha: A Pequena Guerreira

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Título:A Pequena Guerreira
Autora:Giuseppe Catozzella
Editora:Record
ISBN:9788501107626
Ano:2016
Páginas:224
Compra:Aqui

Sinopse:

“A Pequena Guerreira” é um romance baseado na vida de Samia Omar, a menina determinada a ser uma atleta de sucesso que cresceu numa Somália devastada pela guerra. Samia dormia com a foto do campeão olímpico Mo Farah ao seu lado, treinava arduamente apesar da violência e do preconceito que a rodeavam, e conseguiu, contra todas as expectativas, integrar a seleção somali de atletismo, além de participar das Olimpíadas de 2008 em Pequim. Um dia, com a família sob risco de ser irremediavelmente afetada pela guerra, sua irmã se vê forçada a fazer a perigosa viagem de barco para a Europa, como refugiada. Pouco tempo depois, Samia, temendo por sua segurança e por seus sonhos, resolve seguir os passos da irmã, e com isso coloca a própria vida nas mãos de traficantes de pessoas, demonstrando até onde alguém é capaz de ir por um sonho.

Resenha:

Resenha escrita por Thaís Snape.

Sabe aquele livro que quando você termina de ler não sabe o que fazer? E pior ainda, quando você não tem com quem conversar, mas quer que todo mundo saiba como se sentiu e que leiam porque o livro tem uma história linda e emocionante que o mundo deveria conhecer? Então, prazer, pois esse livro chama-se A Pequena Guerreira, que promete abalar seu emocional e conquistar-te de uma maneira encantadora e inspiradora.

Samia é uma garota espirituosa, destemida e feliz, apesar das condições que vive, em um país repleto de violência, guerras, preconceitos e divididas em clãs que muitas das vezes se odeiam. Ela, uma abgal, é melhor amiga de Alì, uma darod, clãs que deveriam se odiar, porém suas famílias mostram o contrário, vivem na mesma casa de forma harmoniosa e amigável, diria que parecem uma mesma família pela maneira como se tratam. Logo nas primeiras páginas, eu fiquei apaixonada pela amizade da Samia e Alì, pois no início acompanhamos a infância e paixão de ambos pelo atletismo. Samia é a mais determinada e com mais potencial e talento para a corrida de 100 e 200 metros, mostrando ter uma vontade enorme em ser corredora. 
“Morar na mesma casa, como acontecia comigo e com Alì, era proibido. Nós deveríamos nos odiar, como se odiavam os outrosabgale darod. Mas não. Em vez disso, sempre fizemos tudo da nossa maneira – incluindo comer e fazer cocô”.

Uma das questões mais abordadas no livro é a pobreza de um país como a Somália e me fez refletir bastante e perceber o quão egoísta sou as vezes ao que tenho, as vezes reclamo de coisas que seriam fúteis comparadas ao que as pessoas desse lugar passam e sofrem e percebi que as pessoas que tem pouco são as que mais dão valor ao que têm e que mais compartilham de bom grado.

Samia tem seis irmãos e os que mais destacam-se são Hodan e Said  seus irmãos mais velhos, mas o destaque fica entre a irmandade e cumplicidade entre Samia e Hodan, que são inseparáveis, uma entende a outra e fica perceptível e até palpável essa intimidade. Assim também é sua amizade com Alì; são amigos desde pequenos, tem a mesma idade e quase os mesmos sonhos, porém Alì quer sair de seu país e Samia que provar que ela pode ser um símbolo de libertação da Somália e principalmente para as mulheres. Seu patriotismo é admirável, ela não quer ser atleta de outra nação, ela quer representar seu povo com sua bandeira azul e uma estrela branca nas Olimpíadas.


O Al-Shabab é um grupo que destruiu muitos sonhos na Somália e privava as pessoas de coisas simples, pequenas e importantes como: ouvir música, andar com a roupa que desejassem, ou até ler na rua com as luzes dos postes. As pessoas deveriam respeitar essas leis ou sofreriam consequências envolvendo, principalmente, a família como exemplo de punição. Não existia mais meio-termo.

A obstinação de Samia em querer representar seu país e mostrar que sua nação pode ser liberta é admirável em meio a guerras, violências, preconceitos, tristezas e inúmeras dificuldades; nossa pequena guerreira se apegava em sua enorme esperança em ser uma campeã nas corridas provando que conseguiu sem auxílio adequado e com apenas seu esforço, dedicação e palavras de seu pai, Yusuf, e a foto de Mo Farah, um refugiado da Somália que conseguiu ser um campeão olímpico. Esses eram como impulsos para ela vencer as provas que competia e que, na maioria das vezes, ganhava.
“Você é uma pequena guerreira que corre pela liberdade, e com sua força libertará todo um povo”.
Treinar sem um treinador, equipamentos adequados e uma alimentação ideal que lhe proporcionassem um físico adequado para vencer nas Olimpíadas eram obstáculos constantes para Samia, além disso, corriam boatos de que a Al-Shabab estava com ódio de ela e seu amigo Abdi Said Ibrahim terem competido nas Olimpíadas de Pequim em 2008 e, por último e dolorosamente, a morte de seu pai deviam ser motivos suficientes para fazê-la desistir, mas o efeito que teve foi o contrário, foram razões que a incentivaram a impulsionaram a seguir seu sonho.
“ – Reclamar só serve para fazer você continuar no que não gosta- respondeu aabecom seu vozeirão, enquanto passava a mão nos cabelos pretos e lisos [..] – Se realmente não está satisfeita com alguma coisa, então, é só mudá-la, pequena Samia. Eu amo o meu trabalho, e o amo porque faço para vocês. Isso me deixa feliz”.


Teve um dos momentos mais emocionantes do livro que me fizeram derramar muitas lágrimas; foi um momento que durou pouco, mas que trouxe toda a emoção e saudade que estava entalada e estava esperando para ser liberada quando encontrasse esse personagem tão importante na vida de nossa heroína. Eu não consegui conter mais a emoção, foi uma sensação indescritível, ao mesmo tempo reconfortante e triste; diria que foi uma das cenas mais fortes emocionalmente do livro e que eu não esperava externar tanto minhas emoções com essa história.

Além disso, fez-me perceber o quanto sou sortuda e absurdamente feliz e não percebia, ter a liberdade de ouvir as músicas que eu quiser, ter a liberdade de seguir a religião que quiser ou não ter não ter nenhuma e não ser tão recriminada por isso, de poder ler onde eu quiser e não precisar preocupar-me tanto com a hora de parar, de ter uma casa com luz e televisão e outras tecnologias que são difíceis de outras pessoas possuírem, de ter uma comida diferente todo dia e correr atrás dos meus sonhos em sua maior parte com estudos e determinação, sem medo de que tenha alguma organização querendo meu mal. Você já parou para pensar e refletir quantas coisas possuímos com facilidade e de morar em um país que por mais que tenha seus pontos negativos conseguimos pelo menos viver nele com um pouco de tranquilidade?

Samia mostrava ser uma pequena grande guerreira e uma inspiração para um povo que estava sendo oprimido pelo seu próprio país, com sua história de conquistas e superação dos preconceitos e dificuldades, e provando que sim, você pode ir aonde quiser se sua persistência  fosse maior que seus medos.
“ Nunca diga que tem medo, abaayo, porque senão as coisas que deseja não se realizarão”.

A Viagem era uma coisa que as pessoas desde pequenas tinham na cabeça, sair do país e se arriscar no desconhecido, nas mãos de traficantes que exploram as pessoas. Porém, muita das vezes, esses refugiados não conseguem sobreviver a Viagem pelas condições deploráveis que são impostas e fora outros detalhes que são explicados no livro. Confesso que fiquei bastante comovida e com uma grande tristeza e compaixão por essas pessoas. Quando Samia decidiu aventurar nessa travessia desumana e insana, meu coração foi ficando apertado e despedaçando-se aos poucos com os relatos que lia, com o que ela podia ter passado; foi algo que eu não aguentaria ler por tanto tempo sem sentir comovida. Parecia que as dificuldades nunca iriam terminar, sua lucidez e sanidade eram postas à prova a todo momento. Sobreviver tornou-se muito mais que apenas um instinto; nossa pequena guerreira lidou com situações e cenas que nenhum ser humano deveria assistir ou passar, além disso, ela encontrou seres tão cruéis e desumanos que nem deveriam existir na face da terra. Sua jornada estava tornando-se longa e perigosa, estava sendo angustiante e desesperadora para mim e parecia que eu estava junto de Samia, sentindo todas as suas apreensões, emoções, medos e pensamentos.


“ Você entende isso cedo, na Viagem. Que a verdade não é uma coisa que pertence a quem foge e precisa de refugio”.

Eu li o livro em poucas horas e, ao fechá-lo, não consegui mais uma vez conter as lágrimas que dessa vez não paravam de cair; não consegui acreditar no rumo que a história teve, eu não li a contracapa onde fala que ela morreu, então estava com toda esperança de que ela conseguiria, porém, a ficha caiu ao ler o final. Samia com toda certeza tornou-se uma heroína para mim, uma fonte inesgotável de inspiração e que sempre lembrarei emocionada e com carinho de sua história. Foi, com toda certeza, um livro que não apenas superou minhas expectativas, mas que mais me impactou esse ano e fez-me chorar de verdade desde que liComo eu era Antes de Você.

O autor conseguiu com perícia e facilidade, depois do estudo que teve e com a ajuda de Hodan, transmitir a essência de Samia. Parece que foi ela quem escreveu, sem ao menos sabermos de verdade como ela realmente escreveria, porém, acredito e imagino a pequena guerreira como foi descrito nesse livro, que foi uma mulher destemida, corajosa e lutadora até o fim em busca de realizar seu sonho. Quando fui pesquisar sobre ela, vi que tinha poucas informações e algumas imagens suas nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. Confesso que chorei ainda mais quando vi que, na foto, ela transparecia a pessoa narrada no livro. Fico extremamente feliz de saber que alguém buscou saber mais dela e que escreveu um livro tão lindo e forte. Se um dia eu encontrar o Giuseppe Catozzella eu vou agradecer muito, muito mesmo por ter feito essa obra.
“ Quem sabe um dia poderíamos descobrir as leis que levavam os homens a fazer guerra, e, nesse dia, nós a eliminaríamos para sempre. Seria o dia mais bonito da história da humanidade”.
Eu espero que outras pessoas leiam essa história e  vou recomendar sempre esse livro; queria poder dá-lo a várias pessoas para que conheçam Samia Omar, já que estamos em tempo de Olimpíadas. Ela foi homenageada nos jogos de Londres, em 2012, e citada esse ano na abertura quando a Somália apareceu com seus dois atletas Mohamed Mohamed e Maryan Nuh Muse; é claro que eu fiquei emocionada e acho que não conseguirem superar tão cedo essa história. Estou ansiosa para a estreia da adaptação do livro nos cinemas e o documentário televisivo.


O grupo Editorial Record está de parabéns não só por trazer esse livro, mas por fazer uma capa tão linda que expressa toda a essência do enredo; toda a confecção da obra está impecável, desde a diagramação até a revisão. A tradução da Aline Leal ficou primorosa ao colocar palavras da linguagem dos somalis.

Se você gosta de histórias inspiradoras, com personagens cativantes e reflexões sobre diversos assuntos, esse livro foi feito para você. Não deixe de conhecer a incrível jornada de Samia Yusuf Omar e encante-se e apaixona-se por essa pequena guerreira.
“ Corra, Samia, corra como se não devesse chegar a nenhum lugar…”


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