Título: O Ciclista Mascarado
Autor: Neil Peart
Editora: Belas-Letras
ISBN: 9788581741659
Ano: 2016
Páginas: 352
Compre: Aqui
Sinopse:
Pedale com o roqueiro Neil Peart em uma extraordinária jornada de bicicleta por estradas de chão batido, encontros com milícias armadas e crises estomacais na África Ocidental dos anos 1990. Graças a esse meio de transporte – rápido para ir de uma cidade a outra em apenas uma manhã e lento o bastante para perceber a alegria das pessoas humildes pelo caminho – a longa jornada proporciona surpresas, choques culturais, momentos de fome, sede e conflitos internos. Este é o livro de estreia de Neil Peart, compositor do Rush, a lendária banda de rock canadense, publicado originalmente em 1996 e só agora traduzido no Brasil. O clássico indispensável para quem está disposto a viver, como o ciclista mascarado, uma emocionante e desafiadora aventura sobre duas rodas.
Resenha:
Viajar o mundo, ou mesmo que para alguns lugares específicos, é sonho de uma parcela considerável de pessoas. Neil Peart também tinha essa vontade. Contudo, ele não queria apenas conhecer, ele queria vivenciar. Para isso, ele resolve viajar pela África Ocidental, tendo maior contado com o modo de vida da população, com a cultura e com as dificuldades. Essa aventura virou livro: O Ciclista Mascarado; é sobre tal obra que vamos comentar hoje.
A obra de Peart tinha tudo para ser apenas mais livro sobre viagens, como centenas que vemos por aí. Porém, dois fatores são o diferencial: a jornada ter sido feita em das rodas não motorizadas e a análise que o autor faz sobre tudo que viveu. Não é simples narração de aventuras que compõe a obra, mas a análise cultural, social e de vivências, deixando o livro com uma atratividade quase única.
O livro é dividido em três partes, cada uma abordando, de maneira mais específica, momentos vividos durante a viagem. Essa divisão é interessante, já que serve para dar ao leitor uma abordagem histórica e geográfica muito completa; ademais, temos todos os aspectos sociais retratados e analisados. Por fim, vemos a dificuldade de desafiar um terreno novo, com pouca comida e água.
“(...) Parte da medicina tradicional africana, como ocorre na China, tem se provado eficaz (...). O poder da fé para a cura também é inegável, e isso é parcialmente a razão pela qual os médicos missionários não gostam muito desses “médicos sobrenaturais”. O conflito de crenças: ciência e superstição são amparadas da mesma forma pela crença do paciente em ambas, e os profissionais que se opõem a ela têm inveja de tal fé” (p. 51).
Dentro dos diversos aspectos relatados, os culturais e sociais foram os que mais me chamaram a atenção. Quanto ao primeiro, é interessante perceber como temos, muitas vezes, uma visão totalmente estereotipada dos povos residentes na África. Jogamos todos dentro de um mesmo pacote e catalogamos na nossa pilha de preconceitos. A obra, então, serve para quebrar um pouquinho com essa visão destorcida. O autor apresenta peculiaridades de povos, tribos, regiões, religiões. Cada povo é mais fascinante do que o outro, e bem fora do que nossa cabeça ocidental prejulga.
Outro ponto interessante, apesar de lamentável, é a análise da situação social que muitas pessoas ainda vivem. Há comunidades inteiras carentes, com comida escassa, água potável diminuta, e que ainda sofrem com sistemas opressores. Para piorar, muitas missões, que deveriam ser humanitárias, se revestem de puro assistencialismo ou de nova catequização. Ou seja, certos problemas são fracamente resolvidos, mas criam outro tão grande quanto: a dependência.
Além desses problemas sociais, é interessante acompanhar a jornada de Peart e a sua equipe por um ambiente pouco conhecido por eles. Sofrer privação de água e comida, dormirem em locais sem qualquer conforto e vivenciarem a falta de segurança mostra como a vida em algumas localidades é extremamente complicada. Além disso, abre os olhos do leitor, mostrando que a realidade africana é mais complexa do que o turista de safari consegue enxergar.
“Poucos possuem carro na África Ocidental, a maioria viaja de táxi compartilhado ou de ônibus. Nenhuma visita à África estará completa sem viajar por um desses métodos – se você estiver com pressa e não se importar em ficar espremido no meio de seus companheiros humanos por longas horas, com uma das nádegas sobre o assento e a outra suspensa no ar” (p. 203).
Quanto à parte física, só tenho elogios para a editora Belas-Letras. A capa é muito bonita e a diagramação é maravilhosa, jogando o leitor na realidade dos locais onde o autor passou. A revisão e tradução estão ótimas, contribuindo para uma boa leitura.
Em suma, O Ciclista Mascaradoé uma obra rica, interessante e muito envolvente. Quem gosta de conhecer novas culturas e conferir viagens vai adorar o livro.
Outras fotos: