Cedo ou tarde, a maturidade chega para todos. Para uns bem mais tarde do que para outros, é verdade, mas isso pouco importa no final. Na matemática da vida – e estou falando de vida verdadeira, não dessa vida plástica que a sociedade defende –, a meritocracia funciona de maneira diferente. O importante é chegar à maturidade e aproveitar o trajeto, com seus erros e acertos.
Depois de muito tempo, cheguei à maturidade tão desejada. Nela, percebi o elemento mais fundamental da vida: quem é maduro dá com amor, dá com o coração, dá sem medo. Desde que alcancei comecei a flertar com a maturidade, comecei a dar meus livros, sem medo, sem dó. Dei com gosto. Exemplos claros são os livros do Capinejar: Felicidade Incurável e Amor à moda antiga. Depois de deliciar-me, de banhar-me, dei. Os livros eram belos demais para ficarem pegando poeira na estante. Quem ama dá com o coração aberto. Eu amava os livros.
Na literatura, puto é quem não dá. Quem ama a literatura dá sem medo, dá com força, dá diversas vezes. Obviamente, não perdi a tara de uma estante enorme, cheia de livros com lombadas belas e coloridas. Eu ainda tenho a minha. Porém, uma estante viva é uma estante sem poeira, é uma estante que vira prato de orgia – e essa orgia não é pecaminosa, que os fundamentalistas se acalmem –; na minha estante, quero que todos comam, diversas vezes, ao mesmo tempo e de muitas formas. Porque de nada adianta amar a literatura e deixá-la parada, às moscas. Quem ama mantém um relacionamento aberto com seus livros. Em papo de desbravador, possessividade é crime.
Cada vez me parece mais horrendo um livro sem marcas, sem rugas, sem dobras, sem grifos, sem gritos. Que literatura morta é essa que tanto prezamos? Que beleza plástica é essa tão estimada? Livro bonito é com marcas de guerra, com traços e laços, com grifos e tipos, anotações e arranhões. Essa é a prova que o livro teve história, que ele teve vida. Livro parado na estante não é melhor do que humano sedentário morrendo em casa. A felicidade está lá fora; a maturidade também.
É dando que se aprende. Dê também; depois de presentear com o primeiro livro, você sentirá um prazer irresistível. O melhor de tudo: aqui a dor de cabeça nunca é desculpa; livro bom cura todas as dores.