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Resenha: Até você saber quem é

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Título: Até você saber quem é
Autor: Diogo Rosas G.
Editora: Record
ISBN: 9788501107534
Ano: 2016
Páginas: 224
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Sinopse:

Uma narrativa instigante que desvenda a ascensão e a queda de um gênio atormentado por seus demônios pessoais
Desesperado para fugir de Curitiba, sua cidade natal e cárcere pessoal, o jovem escritor Daniel Hauptmann se entrega obsessivamente à tarefa que acredita ser sua tábua de salvação: produzir uma obra literária definitiva sobre o Demônio, que afirma nunca ter recebido uma representação adequada na literatura brasileira. O resultado o consagra ao posto de fenômeno instantâneo e o leva à elite da cultura nacional. O custo de sua empreitada, porém, torna-se uma sombra que se intensifica quanto maior seu prestígio e sucesso, transformando o rapaz brilhante e carismático em criatura niilista, temperamental e destrutiva. Entrelaçando de forma magistral personagens e situações reais da história da literatura brasileira do final do século XX às “vítimas e sobreviventes” de Daniel Hauptmann, o autor constrói uma instigante narrativa não linear que aos poucos desvenda a ascensão e queda de um autor atormentado por seus demônios pessoais – e, há quem suspeite, pelo próprio Demônio.

Resenha:

O primeiro passo para um livro ser bom é fugir da temática comum, do batido, do mais do mesmo; foi no incomum que apostou Diogo Rosas G. em seu primeiro livro, criando uma das melhores e mais maduras estreias que eu já vi na literatura nacional contemporânea. Fazendo uma espécie de um romance dentro do outro, o que pode ser comparado, até certo ponto, com o que Clarice fez em A Hora da Estrela, Diogo se confirma como uma grande promessa da nossa literatura.

A obra inicia-se com a obsessão de Daniel por fazer uma obra definitiva sobre o Demônio. Segundo ele, tal ser nunca foi bem apresentado em nossa literatura. Ou, como é citado em certo momento, ele desejava fazer um Grande Sertão: Veredas melhor e mais completo. Um desejo ambicioso, sem dúvidas. Tal ambição pode ser, exatamente, o primeiro contato com o Diabo.


Depois de muito esforço, e com a ajuda do seu amigo Roberto, o narrador da obra, Daniel alcança o seu intento. O mais surpreendente: o seu livro, mesmo de leitura difícil, de um tema abstrato, torna-se um best-seller, fazendo-o ficar conhecido e o elevando a rodas literárias mais altas e mais cultas. Contudo, certos caminhos não têm volta.
“Chegamos a São Paulo no começo de uma madrugada malcheirosa, opressivamente quente. Anos de residência terminaram por anestesiar em mim o impacto olfativo da cidade, mas naquela noite seu perfume de lixo azedo agrediu duramente nossos narizes provincianos” (p. 21).
Quanto mais o livro de Daniel vendia, mais melancólico, distante e problemático ele se tornava. Enquanto o primeiro aparecia, o segundo minguava. Daniel era, agora, sombra do homem que escrevera o primeiro livro. Roberto acompanha isso, a cada passo, tentando salvar o amigo. Seria aquele desfecho resultado de uma brincadeira com o Demônio?

Partindo dessa premissa, Diogo cria uma obra inteligente, rica e muito bem amarrada. Passando-se verdadeiramente no Brasil – não apenas de nome, como uma parte considerável da literatura nacional –, a obra aproveita muito bem como fundo a situação social, política e econômica do país. Aliás, tudo que acontece no Brasil, e particularmente em Curitiba, vai influenciar no desenvolvimento da obra, fazendo com que a obra ganhe em verossimilhança e deixe o leitor mais envolvido.


A obra é escrita de maneira não linear, baseando-se nas memórias de Roberto. Isso torna a leitura mais densa, profunda, mas também muito mais cadenciada, fazendo com que o livro seja muito lento em determinados momentos. A obra não possui grandes reviravoltas, então é o aspecto psicológico e a construção dos personagens que prende o leitor. Aqueles que preferem tramas mais simples, com grandes reviravoltas e ganchos, dificilmente passarão das primeiras páginas. Aqui o diferencial não é descobrir o que irá acontecer, mas entender o que está acontecendo a partir da riqueza de detalhes.
“Daniel tomou um gole de cerveja, afastou a sua cadeira da de Juliana para poder olhá-la de frente e apenas sorriu. Loquaz entre amigos, sua marca inequívoca de felicidade era um silêncio sorridente” (p. 33).
Outro ponto que merece destaque é a escrita do autor, que é extremamente madura, algo incomum para o primeiro livro. Todas as palavras parecem meticulosamente escolhidas e encaixadas, não deixando nada fora do lugar. Apesar de iniciante, Rosas mostra a destreza de um veterano, o que é também a promessa de outros bons livros pela frente.

Além do bom livro, o conjunto também ganha destaque pela parte gráfica. A capa é simples, mas transmite de uma maneira interessante o conteúdo sombrio da obra. A diagramação é igualmente simples, mas muito confortável; combinada com a boa revisão, gera uma leitura tranquila.



Em suma, Até você saber quem é mostra-se um livro extremamente maduro, inteligente e muito bem costurado. Apesar de um momento ou outro de lentidão excessiva, a obra envolve o leitor por sua riqueza de detalhes e pela trama incomum. A obra é uma ótima aposta para quem está buscando fugir desse mar de obviedade atual.



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