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Resenha: O Evangelho de Loki

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Título: O Evangelho de Loki
Autor: Joanne M. Harris
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528620757
Ano: 2016
Páginas: 336
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Sinopse:

A épica história do Deus trapaceiro. Com sua notória reputação para trapaças e enganações, Loki é um deus nórdico sem igual. Nascido demônio, é visto com profundas suspeitas por seus companheiros deuses, que jamais o aceitarão como um deles; por conta disso, Loki promete se vingar. Mas enquanto o deus-demônio planeja a derrocada de Asgard e a humilhação dos seus opressores, poderes maiores conspiram contra os deuses e uma batalha é arquitetada para mudar o destino dos Mundos. Do recrutamento por Odin do reino do Caos, através dos anos como solucionador de problemas de Asgard, até a perda do seu posto no desenrolar para o Ragnarök, este é o Evangelho de Loki, a sua longa e curiosa versão da história — e se alguém disser o contrário, não acredite!

Resenha:

Eu ainda estou fascinada por esse livro, Loki sempre foi um Deus nórdico que sempre tive muita curiosidade em saber a história e como tornou-se o “Deus Trapaceiro”. O Evangelho de Loki cumpriu seu papel. Quer saber como? Confira abaixo.

Loki é um vilão por natureza ou vítima da rejeição e preconceito dos deuses asgardianos? Seriam eles culpados pelo declínio de Asgard e consequentemente transformando o Deus trapaceiro vingativo? Essas duas perguntas pairavam sobre minha cabeça enquanto passava as páginas; sempre acreditei que ele fosse o vilão, e mesmo assim era o único que chamava minha atenção nos filmes. Pode ser um pouco pela influência do ator Tom Hiddleston, mas o que indefinidamente gostava no personagem era o senso de humor e as ironias.
“Bem, pode me chamar de cínico, mas nunca fui de aceitar as coisas baseadas em confiança e acontece que eu sei que história não é nada além de voltas e metáforas, componentes que fazem parte de toda lorota quando você os expõe desde sua base. E o que faz sucesso ou cria um mito, é claro, é como e por quem ela é contada”.

O livro começa com uma apresentação dos personagens que iria encontrar no decorrer da história. Como o narrador é o próprio Loki, já esperava algumas gracinhas em descrevê-los antes mesmo de conhecer; e não é que no final suas descrições têm sentido e foram as melhores possíveis? O que posso dizer é que, ao finalizar essa leitura, você ficará encantado com a personalidade do trapaceiro.


Loki é um demônio, agente do Caos, Deus do Fogo e outros títulos, só essas três informações são o suficiente para sofrer opressão e preconceito dos asgardianos, mesmo sob proteção de Odin, O Pai de Todos. Seu objetivo, ao contar sua versão sobre a criação dos Mundos até Ragnarök, Fim do Mundo, é mostrar como são seus pensamentos acerca desses acontecimentos e mostrar sua talvez inocência sobre tudo o que aconteceu. Essa é uma versão não autorizada, contrária a versão do oráculo, aqui ele nos contará o poder das histórias, lendas e suas mentiras.

Quando o Deus trapaceiro chega a Asgard sabia dos riscos que corria, mas com a palavra de Odin, O Ancião, não imaginava que sofreria inúmeras repreensões e intolerâncias vindas de praticamente todos os argardianos; acho que as únicas que não o discriminam são Iduna e Sigyn. Imaginem como o pobre coitado, que estava em Aspecto humano, sentiu-se confuso e até – será? – magoado. Não conhecia muito bem as sensações e emoções que os humanos possuíam, não sabia o que era tristeza, angústia, dor, felicidade porém, imediatamente se identifica com humor, ironia, sarcasmo, luxúria e gula. Principalmente esses dois últimos; para ele não existia nada melhor do que mulheres e comida.
“As pessoas tendem culpar o Caos sempre que alguma coisa dá errado, mas na verdade, na maioria das vezes, o Caos não precisa intervir. O Povo não precisa de nenhuma ajuda quando se trata de massacrar uns aos outros. O que vier à sua cabeça, eles fizeram – assassinato, estupro, sacrifício infantil –, o tempo todo culpando o céu sem luz, mesmo quando a escuridão já estava em seus corações”.

E assim, aos poucos, o Pai das Mentiras constrói sua personalidade tornando-se sinônimo de caos, trapaças, mentiras, injustiças e malandragens. Ao mesmo tempo, virou o motivo de todas as desgraças e infelicidades que aconteciam com os deuses. Se alguém ficava resfriado, era sua culpa; se alguém perdesse algo, com toda certeza foi ele quem roubou; se alguma pegadinha acontecesse, o culpado por unanimidade era Loki – Bem, algumas foram feitas de propósito, mas isso vocês vão descobrir. Tudo o que acontecesse de ruim era sua culpa, então, por mais que ele tentasse arrumar desculpas ou fingisse não ligar para esses acontecimentos, sentia-se não bem-vindo naquele lugar, nunca conseguiria chamar de lar e os sentimentos que poderia criar para essas pessoas eram de repulsa e vingança…


“Caras inteligentes não são populares de forma alguma. Eles incitam suspeita. Não se encaixam. Podem ser úteis, como provei ser em diversas ocasiões, mas, entre a população geral, sempre há a vaga sensação de desconfiança, como se as mesmas qualidades que os tornam indispensáveis também os tornassem perigosos”.

Sim, vingança... O Trapaceiro estava farto do que sofria, era muita carga negativa para alguém tão solitário carregar, precisamente alguém que nunca conheceu o amor e afeto, essas palavras eram desconhecidas no seu vocabulário e vida, consequentemente, nunca desejou ser pai ou manter um relacionamento monogâmico. Então, entregava-se a várias noites de prazer e fartura, enquanto Sigyn nutria sentimentos por ele; mesmo assim não amolecia o coração deste que não dava a mínima importância pelo o que ela sentia.

Mesmo a história sendo focada no Deus Trapaceiro, ele nos conta com muitos detalhes um pouco da vida de cada deus e outras criaturas. Conheci melhor os filhos de Odin, já que só ouvimos falar de Thor. Balder e Hoder são de certa forma importantes em uma profecia que Loki tem o prazer de participar, já que a mãe destes não era lá tão amorosa com todos eles. Conheci também outros deuses, como Freia, a Deusa do Amor; Bragi, Deus da poesia e um pouco chato com seu alaúde; Njord, Deus dos Mares; o guardião Heimdall, que é dos mais hostil com o Pai das Mentiras; e claro, descobri mais sobre Thor e sua pouca inteligência e grande grau de ser manipulado, segundo palavras do Loki.
“Quem disse que nomes não podem machucar ou estava bêbado ou era idiota. Todas as palavras possuem poder, é claro, mas nomes são as mais potentes de todas, por isso os deuses tinham tantos. Nomear um ser é subjuga-lo, conforme aprendera naquele primeiro dia, quando Odin me chamou de Caos. Tenho sido a encarnação do Incêndio, livre e corruptível. Tornei-me o Trapaceiro, O Fogo de Casa; sua criatura, nomeada e domada”.


A relação entre Loki e Thor não é feita com tanta hostilidade, haverá algumas desavenças, discussões e brigas, mas o Deus do Trovão é o mais propenso a dar risadas e achar peculiar o senso de humor do nosso narrador, além disso irão participar de algumas aventuras juntos e aprender que até os deuses podem ser fracos e derrotados por aqueles que subestimaram. Sentiram-se como meros mortais e homens e que estão inclinados a decepcionar àqueles que acreditam neles.

O Deus do Fogo tem seus Aspectos: luxúrias e um orgulho tão grandes que acarretarão em várias quedas e consequências desastrosas e até dolorosas, mas o que percebi foi que ele só queria ser alguém aceito, mais valorizado até por Odin, que aos poucos mostra que nunca confiou nele, além de tentar não ser a decepção que todos esperam que ele seja. No entanto, o preconceito e hostilidade que recebia diariamente, por causa de sua origem, faziam-no ser alguém sombrio e impiedoso que, inevitavelmente, buscaria vingança contra esses que tornaram sua vida difícil e seu coração cada vez mais ficava frio e inalcançável. 

Por mais que fosse um trapaceiro, cruel, desonesto, um belo mentiroso, você acaba gostando dele, não pelas histórias e lendas que conhecemos dele e sim por suas jornadas, dificuldades e persistências. Todo “vilão” tem uma história e, às vezes, ele nem chega a ser o inimigo do mocinho quando está seguindo um ideal, uma crença ou buscando sua justiça ou sua proteção ou até provação mesmo que os meios sejam injustificáveis. Afinal, não é assim que muitos heróis, muitas das vezes, combatem os inimigos por essas razões? Ser um vilão é uma questão de perspectiva, talvez Loki seja o vilão dos asgardianos apenas por ser o que eles queriam que ele fosse, alguém desprezível e sem escrúpulos, alguém que eles nem deram uma chance de não ser o que eles pensavam. Para nós, o filho do Caos era alguém que nunca teve uma oportunidade de ser diferente do que esperavam ou acolhimento dos asgardianos.
“No final das contas, palavras são o que resta quando todas as ações estão completas. Palavras podem estilhaçar a fé, dar início a uma guerra, mudar o curso da história. Uma narrativa pode fazer seu coração bater mais rápido, derrubar paredes, escalar montanhas… Ei, uma boa trama pode até levantar os mortos”.


A Joanne M. Harris narrou tão bem que se tornou fácil ler a história pelos olhos de Loki. O sarcasmo, o senso de humor, as ironias e como elaborou os momentos de mentiras e trapaças pareciam escritas pelo Deus Trapaceiro até as impressões que os outros deuses tinham deste. Foi um belo trabalho que teve para poder incorporar a personalidade tão forte e orgulhosa que Loki possuía. Outro fator que gostei demasiadamente foram as Lokabrennas, várias lições que o personagem nos passa sobre basicamente não confiar em várias coisas ou pessoas. Gostei, na verdade, adorei intensamente esse livro e espero que tenha outro ou outros que continuem essa história épica de um personagem incompreensível e fantástico.

A Bertrand Brasil novamente fez um trabalho incrível. Essa capa ficou tão bonita, com esses pequenos detalhes dourados e desenhos que ilustram bem o que o livro guarda; parabéns ao capista. A revisão ficou ótima e a tradução da Ananda Alves ficou agradável com uma linguagem de fácil entendimento. Para finalizar, a diagramação ficou confortável, proporcionando uma leitura rápida.

Este livro contém histórias épicas, doses altas de humor e numerosas reflexões e lições de alguém que você não poderia imaginar. Então, se você gosta de mitologia, vai adorar o que O Deus Trapaceiro tem a revelar sobre sua vida até Ragnarök.




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