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Resenha: Placebo Junkies

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Título: Placebo Junkies
Autora: J. C. Carleson
Editora: Fábrica 231
ISBN: 9788568432754
Ano: 2016
Páginas: 304
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Sinopse:

Audie é uma jovem como qualquer outra, mas encontrou uma forma incomum de descolar uns trocados: ela serve de cobaia para a indústria farmacêutica. Neste irreverente romance, J.C. Carleson, ex-agente da CIA, mergulha no universo pouco conhecido, mas muito impressionante, dos voluntários em série de testes farmacológicos. Na tradição de Trainspotting e Drugstore Cowboy, doses cavalares de humor negro disputam espaço na trama com o drama de jovens que vivem no limite. No caso de Audie, ela precisa juntar dinheiro para oferecer a Dylan, seu namorado que tem uma doença terminal, uma festa de aniversário de 18 anos inesquecível. “Não há ganho sem dor”, ela repete, em meio aos efeitos colaterais das substâncias e procedimentos a que está sujeita e aos esquemas para lidar com eles. Mostrando as entranhas de um mundo desconhecido da maioria das pessoas.

Resenha:

Placebo Junkiesatraiu minha atenção pelo nome e em seguida pela sinopse tão interessante e intrigante, abordando um tema que não é comum de se encontrar; eu, particularmente, nunca tive interesse por não se tratar de um assunto comum, por não ser algo que lemos ou ouvimos com facilidade nas mídias. Exatamente por isso, o livro conseguiu deixar-me absorta na leitura e totalmente mais familiarizada após. Quer saber como? Confira abaixo.

No prólogo nos é apresentado como são os voluntários, sem enrolação, entendemos um pouco como entrar nesse mundo e só saberemos como os personagens chegaram ou o que são ao decorrer da leitura, deixando o leitor com uma curiosidade absurda. Como tornaram-se voluntários? Quais os riscos e perigos? Quanto recebem? Quanto tempo estão nesse meio? Por fim, como descobriram esse mundo de negócios? Todas essas perguntas são respondidas ao longo da leitura.
“E isso, meus amigos, é muito mais do que qualquer outra pessoa jamais quis para mim. Então, claro, essa vida pode me matar. Mas, na minha experiência, a vida real mata você ainda mais rápido”.

Com uma linguagem bem direta, a nossa narradora-personagem Audie nos contará, com um humor negro, como ela e os outros adolescentes vivem. Não espere uma história de superação, pois não é; aqui iremos saber como somos desatentos para muitos assuntos, e as empresas farmacêuticas é um deles. Cada personagem tem um passado nada feliz, diria horrível e até deprimente em alguns casos. Aliás, se não fosse pelas relações deles com a Audie saberíamos pouquíssimas coisas.

Aos poucos sabemos como Audie tornou-se “voluntária” ou cobaia e como lida com o dinheiro que recebe. Por ser menor de idade, não tem como criar uma conta no banco e aparentemente ela não mora com os pais, é independente, aprendeu a crescer nas ruas e conheceu esse mundo submerso dos testes de drogas e os esquemas que utiliza para conseguir uma grana, às vezes, alta. Ela nos explica quando saber a hora de desistir de um “negócio” se for muito perigoso, nos explica todos os esquemas utilizados e como conseguem arrecadar uma bolada de dinheiro se souber administrar, e vai ser assim que ela vai querer esse dinheiro para realizar a melhor festa de 18 anos para Dylan.
“O medo é o dom que não para de ajudar, um presente de aniversário das criaturas rastejantes e com crânios achatados das quais evoluímos. A disposição de dizer que se foda esta cena e fugir é o que manteve seus ancestrais Neandertais livres da ponta afiada de uma presa de mamute lanoso”.

“Não há ganho sem dor” e Audie sabe muito bem disso. Quanto maior a dor, mais dinheiro se consegue. Retirar sangue e algumas amostras são fichinhas comparadas com alguns testes, como, por exemplo: uma amostra de tecido celular, ser cobaia de alunos de medicina, sobre algumas lacerações e outros métodos. Essa esfera de testes pode chegar, em alguns casos, a ser cruel. Com ajuda de um esquema bem armado, a jovem vai tentar participar de quase todos os exames ou experimentos, tudo com o pretexto de ser a única forma de pagar o presente de Dylan e que não durará por muito tempo esses dias de tortura.

Embarcados nessa viciante trilha de remédios e placebos, observamos os descasos dos funcionários, que nem olham para a cara dos “voluntários” e nem para suas identidades falsas; algumas clínicas não têm controle sobre essas cobaias e acaba pegando os mesmos e, quando descobrem, já é tarde demais, pois precisa pagar visto que já tem a papelada assinada. Os “pacientes” são maltratados e são vistos apenas como objetos e contêineres de dinheiro. Muitas das vezes, as pessoas que conseguiram entrar nesse meio foi como última alternativa para sobreviver.
“ Sabemos que a mão que nos aplica injeções é a mesma que nos alimenta”.

Percebemos, ao longo do livro, que existem diferentes cobaias: as que são realmente doentes e precisam daquele teste ou tratamento específico como uma última chance de tentar se salvar; as que fazem sem perceberem que estão sendo testadas; e as que são como Audie, que estão pelo dinheiro que irão receber e outras vantagens. São tantas opções e testes que fiquei boquiaberta em como o ser humano pode tirar lucro de pequenas negociações e oportunidades; um personagem em questão apresenta esses traços.

Audie quer realizar de qualquer forma essa festa que custa um valor exorbitante, e cada vez mais nos conta nos testes, experimentos e tratamentos que se envolve, em como entre as cobaias existem traições e pessoas que querem tirar vantagem de você a qualquer custo. Alguns testes, eu achei surreais, mas a curiosidade de saber como a personagem se vira fez-me avançar ainda mais na leitura.
“[...] Mas acho que se eu aprendi alguma coisa com essa vida de rato de laboratório, é a importância do controle. A importância de pegar toda a porcaria que a vida tenha jogado em cima de você em todos esses anos, e devolver pra quem arremessou”.

A construção dos personagens é tão verossímil e detalhista que fica nítido que a autora escreveu com muita pesquisa e perspicácia. Cada personagem tem uma história que descobrimos pela narração de Audie ou entendemos pelas sutis dicas como foram deixadas; de outros, não sabemos a história. Como em todo livro, iremos nos apegar a alguns e odiar outros e nesse não foi diferente. Dougie, meu querido, como te odeio! Audie, como você é uma heroína da sua maneira para nós. J.C Carleson narra uma história alucinante e viciante que faz o leitor abrir os olhos para as indústrias farmacêuticas e o emociona e desafia com as questões abordadas. Como disse, não espere finais felizes e nem coisas boas, essa história é sobretudo reveladora e muito perto da realidade cruel e violenta que vivemos. Como este foi o primeiro livro que li da autora, posso dizer que ela ganhou uma fã e que estou ansiosa para poder ler um dia seus outros livros que parecem ser tão bons quanto esse ou até melhores.

Quando percebi o verdadeiro propósito do livro, eu fiquei estarrecida e sem palavras. Acontece uma reviravolta tão grande no livro que nunca poderia desconfiar e, ao mesmo tempo, o quebra-cabeça que nem sabia que existia começava a fazer sentido. Audie estava cada vez mais arriscando-se nesses testes; os efeitos colaterais já não valiam a pena, nem mesmo pelo dinheiro que se recebe. Esse mundo de cobaias é algo extremamente perigoso e também lucrativo, mesmo para aqueles que sabem onde estão envolvidos e conhecem as façanhas utilizadas. É um meio ainda mais perigoso para as pessoas que desconhecem ou pouco entendem os perigos e sacrifícios feitos por indivíduos que não possuem outras opções ou só querem o dinheiro.
“Todos temos nossas vidas de fantasia, não temos? Eu me dou conta de que há uma linha tênue entre delirante e ambicioso. Todos estamos basicamente na esperança de uma realidade melhor”.

A história fala sobre doentes mentais, sem-teto, e como são as mais vulneráveis para entrar nesse mundo. Nossas concepções ideológicas, através do enredo, são confrontadas; além disso nos questiona sobre nossas afirmações e nos desafia. Cada verdade revelada é uma punhalada que recebemos, tudo é e deve ser questionável, o livro nos faz desconstruir um pouco a questão de que nem sempre as empresas farmacêuticas são a vilã, não apenas como a raiz de todos os males, tudo tem seu lado bom e ruim, a cura e o sacrifício, o remédio e a loucura. Aliás, não é diferente com essas indústrias; quem não quer os melhores medicamentos, as melhores curas e com máxima rapidez?  Deixo essas questões para vocês; ao lerem esse livro, irão compreender o que a autora quis dizer.

A Editora Rocco mais uma vez conseguiu nos trazer uma história incrível, manteve a capa original, e os pequenos detalhes que a editora criou deixaram-na ainda melhor; a revisão está ótima, a tradução do Edmundo Barreiros ficou maravilhosa, mesmo os termos e palavras pouco usadas para quem não é da área de saúde. A diagramação, por sua vez, ficou coerente e com letras e espaçamentos confortáveis.

Se você gosta de livros com temáticas diferentes e pouco abordadas, vai gostar dessa história e irá terminá-la sentindo-se um pouco mais conhecedor do assunto.





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