Título: Criaturas Estranhas
Organizador: Neil Gaiman
Editora: Fantástica Rocco
ISBN: 9788568263440
Ano: 2016
Páginas: 400
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Sinopse:
Dezesseis histórias fantásticas, algumas escritas há mais de cem anos, outras inéditas, selecionadas por ninguém menos que o aclamado autor de Coraline e outros tantos sucessos, Neil Gaiman. Como o título sugere, Criaturas estranhas é uma coletânea de contos povoada por seres fantásticos, magníficos e às vezes assustadores. Assinadas por autores clássicos de ficção científica e fantasia, como Anthony Boucher e Diana Wynne Jones, a escritores contemporâneos, como Nnedi Okorafor e o próprio Gaiman, as histórias, que parecem ter saído de um sonho, ou talvez de um pesadelo, têm em comum o olhar atento e único de Neil Gaiman para o insólito. Cada conto é precedido de um comentário do escritor, que visa a provocar ainda mais a imaginação do leitor.
Resenha:
Antologias, por seu aspecto muitas vezes heterogêneo, chamam-me a atenção, mas também me fazem ficar com um pé atrás. Afinal, é a grande chance de conhecer muitos autores. Por outro lado, também há a possibilidade de não haver coesão entre os enredos, o que causa a queda de qualidade da obra. Quando se tem Neil Gaiman como organizador, o livro ganha um brilho ainda maior e um ar ainda mais chamativo, o que pode piorar a desilusão, caso a obra seja ruim. Porém, felizmente, Criaturas Estranhas não fica apenas na promessa. O motivo? Eu conto abaixo.
De todos os textos, o que mais chama atenção, principalmente pelo final inovador, foi Pássaro do Sol, escrito exatamente pelo Neil Gaiman. No conto, temos uma escrita um tanto enigmática, meio cadenciada, com um tema até mesmo estranho: um clube onde os membros comiam criaturas estranhas e bizarras. Os membros se reuniam diariamente para experimentar iguarias: de besouros e restos de mamutes a criaturas que muitos acreditavam ser mágicas. Eles imaginavam já ter comido de tudo, quando surge uma ideia: comer o Pássaro do Sol.
O texto tinha tudo para cair na esquisitice, mas a solução final mostra a genialidade do autor. Gaiman parte do improvável para mostrar como um texto fantástico pode ser realmente fantástico, com o perdão do trocadilho. Só um gênio conseguiria pensar em algo tão inteligente e transportar de maneira tão natural para o papel.
“O pássaro aterrissou no abacateiro. As penas eram douradas, roxas e prateadas. Era menor do que um peru, maior do que um galo e tinha as patas e pescoço compridos de uma garça, embora a cabeça mais se parecesse com a de uma águia” (p. 91).
O segundo texto que merece destaque é o conto que abre a obra, de Gahan Wilson. Se o texto do Gaiman me ganhou pela estranheza, esse conquistou-me pela originalidade partindo de algo simples. Tudo começa quando Reginald Archer encontra uma coisa na sua mesa, algo que, segundo o texto, “era, em sua simplicidade, algo absoluto” (p. 15). Na verdade, era apenas uma pequena mancha. Era, pois ela se transformará em algo muito maior.
Nesse texto, além da satisfação de conhecer um novo autor, o inusitado chamou-me a atenção. Wilson prova que é possível fazer uma fantasia de qualidade, partindo de algo quase banal, quase natural. O cotidiano pode misturar-se com o fantástico, fundir-se, e encantar o leitor. Ademais, a escrita leve e contagiante do autor torna tudo ainda melhor, mostrando, além de uma grande criatividade, um ótimo trabalho com o texto.
Aliás, apesar de não ser possível falar de todos os contos da obra separadamente, essa é a grande característica do livro: a escrita envolvente, na maioria das vezes ágil. Há alguns contos mais cadenciados, mais densos, mas mesmo eles prendem o leitor de uma maneira sobrenatural. As criaturas estranhas saltam aos olhos e provam ser verdadeiramente mágicas e encantadoras.
“Se as regras formam um arcabouço para a mente explorar, por que a mente não pode sair delas, diz o sábio da dissolução” (p. 115).
Para fechar a obra espetacular e combinar com o enredo rico e mágico, a Rocco preparou uma edição de encher os olhos de qualquer leitor. Temos uma capa belíssima e que combina perfeitamente com a obra. Ademais, a diagramação está perfeita: bonita, confortável e muito bem trabalhada. A revisão e tradução também foram bem feitas, contribuindo para uma leitura fantástica.
Em suma, Criaturas Estranhasé, em alguns momentos, uma leitura um tanto estranha, mas, ao menos tempo, encantadora. Vale a pena mergulhar nesse universo fantástico e descobrir tantos autores incríveis. Leitura mais do que recomendada!
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