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Resenha: Cujo

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Título:Cujo
Autor:Stephen King
Editora:Suma De Letras
ISBN:9788556510259
Ano:2016
Páginas:376
Compre:Aqui

Sinopse:

Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são Bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.

Resenha:

Quando a própria realidade pode ser aterrorizante, o sobrenatural é apenas um detalhe; ao menos é nisso que aposta Stephen King. Na obra Cujo, o terror mais profundo parece estar na mente das pessoas, e a realidade é o ponto de partida. Afinal, o qual aterrorizante pode ser um cão com raiva?

A princípio, King nos faz conhecer duas famílias: a Trenton e a Camber. A primeira é uma família da cidade que foi morar no Maine. Vic Trenton é o típico pai de família, que luta para dar conforto ao seu filho Ted e à sua esposa Donna. Entretanto, por baixo dessa faixada, há problemas. Ted tem problemas para dormir e acredita ter um monstro no seu armário, o que acaba se tornando um problema para a família. Donna, por sua vez, não consegue se adaptar bem à rotina de dona de casa, que é opressora. O conjunto é uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento.


Na outra família, temos Joe Camber, um pai de família que acha que o cérebro e a mão precisam estar conectados, caso contrário, você não é um homem de verdade. Desde cedo, ele molda o filho Brett com essa ideia, fazendo-o ajudar na oficina mecânica da família, mesmo que o menino tenha ainda os dez anos. Charity, por sua vez, é uma esposa infeliz, nada contente com o casamento e que quer muito viajar para passar um tempo com sua irmã. Contudo, Joe é possessivo e agressivo, não permitindo que isso aconteça. Nessa família, o conjunto também é uma bomba relógio.
“(...) o monstro que é monstro nunca morre. Lobisomem, vampiro, carniçal, criatura sem nome de terras arrasadas. Monstro que é monstro nunca morre” (p. 14).
Além deles, conhecemos Cujo, um São Bernardo de noventa quilos que é a personificação da bondade; ele é bom com crianças, faz tudo que os donos pedem e, às vezes, até caça um animal ou outro. Porém, tudo muda quando ele é mordido por um morcego raivoso. A raiva vai se alastrando pelo organismo e o cachorro vai mudando. A bondade se esvai e uma ânsia assassina o toma de uma forma quase inexplicável. Cujo, que era bondoso e agora não é mais, será a ponte entre as duas famílias.

Partindo dessa premissa, Stephen King cria uma trama forte, bem desenvolvida e, principalmente, real. De todas as obras do autor que já li, essa foi a que deu a maior sensação de “isso realmente poderia acontecer”. Talvez por isso essa seja uma das obras mais assustadoras do mestre do terror, não por ter um lunático ou assassino em série, mas por pegar as coisas cotidianas que podem ser capazes de tirar o nosso sono. A abordagem psicológica feita em cada um dos personagens é tão aterradora que nos faz questionar a sanidade deles e a nossa. King constrói o tipo de terror que realmente é bom; aquele onde o monstro não está no armário, mas ao nosso lado e também na nossa mente.


Além do desenvolvimento psicológico, os personagens em si foram o ponto alto da narrativa. O destaque inegável vai para Cujo, o cachorro raivoso. King constrói toda uma personalidade para o animal, incute nele pensamentos, mesmo que primitivos. Em muitos momentos, é possível esquecer que Cujo é apenas um cão, pois a prosopopeia é intensa. Cujo sofre uma metamorfose diante dos nossos olhos: era uma vez um cão; agora ele é o nosso pior pesadelo.
“Cujo estava sorrindo para ela. Donna sentiu um grito crescendo no peito, queimando a garganta como ferro, porque conseguiu sentir o cachorro pensando nela, dizendo: Eu vou pegar você, moça” (p. 198).
Outra personagem que se destaca é Donna. Na ânsia de consertar seus erros, de ser uma boa mãe e salvar seu filho, ela se transforma também. No primeiro momento, vira algo pastoso, que foge pelos dedos. Sua personalidade desmorona, os medos tomam conta e o seu psicológico começa a lhe pregar peças. Posteriormente, de terror em terror, ela começa a ficar anestesiada e a sua coragem volta. Surge uma mulher forte, apesar de profundamente abalada; sua raiva e ódio tornam-se os principais ingredientes da sua personalidade, além da necessidade de sobrevivência.

Destaca-se também, durante a obra, a escrita do autor. Stephen King mostra-nos, novamente, que para construir um ótimo livro é preciso bem mais do que ter uma história interessante, é preciso técnica e construção textual de qualidade. A obra, a princípio, se desenvolve lentamente, pois o autor foca de forma quase que exclusiva no desenvolvimento dos personagens, dando-nos acesso à mente de cada um deles. Esse começo é mais lento e pode afastar os que gostam da ação instantânea. Contudo, a lentidão inicial vale a pena depois. Quando o terror entra em cena, o aceso à mente dado no princípio da obra faz com que o livro seja alucinante, prendendo o leitor até a última página. O apego emocional com cada um dos personagens é forte e aterrador ao mesmo tempo, o que pode acabar destruindo as suas emoções no fim.


Além de toda parte textual, o livro também chama a atenção pela sua parte física invejável. Cujo conta com uma capa dura belíssima, com direito à relevo. A diagramação, por sua vez, é bonita e confortável, proporcionando uma excelente leitura. Ademais, o livro conta com uma tradução e revisão excelentes.
“O mundo estava cheio de monstros e todos eles conseguiam morder os inocentes e os descuidados” (p. 326).
Em suma, Cujoé uma obra bem escrita e que nos ensina que o terror mais intenso não precisa de grandes monstros imaginários. O medo verdadeiro mora ao lado. Normalmente, mais perto do que você imagina. Esta é, sem dúvidas, uma obra essencial para os amantes do terror.

Outras fotos:






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