Título: Eu estou pensando em acabar com tudo
Autor: Iain Reid
Editora: Fábrica231
ISBN: 9788568432969
Ano: 2017
Páginas: 224
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Sinopse:
No romance de estreia do canadense Iain Reid, Jake conduz o carro em que ele e a namorada, que narra a história, vão à fazenda dos pais do rapaz. Durante a longa viagem por estradas desertas e escuras, a garota, atormentada com a perseguição de um homem misterioso que deixa sempre a mesma mensagem de voz em seu telefone, pensa em encerrar o relacionamento com Jake. Mas talvez seja tarde demais. Reid, que tem dois livros de não ficção elogiados pela crítica e contribui para veículos de prestígio como a revista New Yorker, une, numa narrativa profundamente psicológica, tanto referências de terror clássico, quanto elementos de suspenses menos tradicionais, sustentando a trama para além das limitações inerentes ao gênero. Um thriller denso que esconde, em meio ao medo provocado pela sensação de uma tragédia iminente, alegorias sobre a própria vida ser uma tragédia anunciada.
Resenha:
Após a leitura de Eu estou pensando em acabar com tudo, não consegui formar bem um conceito sobre o livro. Ótimo? Maravilhoso? Genial? Não sei. O que eu posso afirmar, porém, é que ninguém pode acusar o autor de não ser original, pois ele surpreende. Ademais, a obra, psicologicamente falando, é tensa. Se ele é boa? Aí dependerá do leitor. Uma certeza, porém, é inegável: Reid faz uma estreia retumbante no mundo da literatura; ele mexerá com os brios do leitor.
No início da obra, conhecemos um casal peculiar: Jake, que está animado com o relacionamento novo, e a namorada, que está pensando em acabar com tudo. Obviamente, ele não sabe das intenções dela. Como dizer para um rapaz ótimo que quer terminar? Para ela, usar o clássico clichê do “não é você, sou eu” é inconcebível. Além disso, ela está curiosa com a viagem que estão fazendo para conhecer a família de Jake. Ela quer terminar, mas também quer conhecê-los. Ela se sente confusa, mas não sabe exatamente o motivo.
Ao chegar na casa do namorado, a protagonista começa a reparar em cada detalhe da moradia. A residência, segundo a sua visão, é bem velha, porém, muito limpa e bem cuidada; entretanto, guarda uma aura de mistério, principalmente no porão. O que terá lá? Aliás, por que Jake parece se esquivar do assunto quando ela fala desse cômodo? Para completar, os pais dele parecem um pouco estranhos, do tipo que podem estar escondendo alguma coisa.
“Eu estou pensando em acabar com tudo. Quando este pensamento chega, ele fica. Gruda. Perdura. Domina. Não há muito o que fazer” (p. 7).
Será que ela deveria ir ao porão escondida? Será que deveria estar ali? Deveria mesmo era ter coragem para acabar com tudo. Se bem que Jake é ótimo, apesar de um pouco estranho. Será que ele esconde algo? Todos nós escondemos, não é mesmo? Isso provavelmente não acabará bem.
Partindo dessa premissa, Reid compõe uma história que prende o leitor completamente; as páginas viram sozinhas e a vontade de saber o que vai acontecer a seguir é alucinante. O grande detalhe é que essa ânsia por descobrir o que acontecerá não é motivada por um ritmo narrativo ágil; ao contrário, a escrita do autor é bastante cadenciada. O desespero surge de uma abordagem psicológica bem construída e fundamentada, apresentando as mais diversas nuances da mente da protagonista. O autor vai além de nos fazer conhecer os fatos, ele nos faz viver cada acontecimento.
Para alcançar tal efeito, o autor faz uma escolha acertada: aprofundar e humanizar os dois personagens, principalmente a narradora-protagonista. Entender os pensamentos dela, conhecer suas ânsias e seus medos e, principalmente, seus sentimentos são essências para que a trama seja convincente. A obra, página a página, vai ficando mais próxima do leitor e os personagens passam a ganhar contornos verdadeiros; sentimos que aquele enredo poderia estar realmente acontecendo na vida real.
“Acho que muito do que aprendemos sobre os outros não é o que eles nos contam. É o que observamos. As pessoas podem nos contar o que quiserem. Como Jake apontou certa vez, sempre que alguém diz: “Prazer em conhecê-lo”, está na verdade pensando em algo diferente. Fazendo algum julgamento. “Prazer” nunca é exatamente o que a pessoa está pensando ou sentindo, mas é o que dizem, e escutamos” (p. 37).
Apesar desses artifícios muito bem utilizados, o grande momento da obra é o final. O autor aposta no impensável para finalizar a obra, surpreendendo o e leitor de um jeito único. Não sei, ainda, se a surpresa foi positiva ou negativa; contudo, o impacto foi grande. Li inúmeros elogios à obra; as críticas foram na mesma intensidade. Isso mostra que a obra mexe com o leitor, seja positiva ou negativamente. Aliás, não é esse o grande motivo da literatura: mexer conosco, bagunçar as nossas emoções e psicológico? O resultado inegável é: o autor consegue brincar conosco e nos enganar. Se desse sacolejar sairá ódio ou admiração, aí é outra história.
Além do bom desenvolvimento, o livro ainda conta com um trabalho gráfico impressionante. A Fábrica 231 preparou um livro com uma capa dura chamativa e muito bonita. A diagramação, por sua vez, é muito bem trabalhada, além de bela, chamando à atenção do leitor. Temos também uma boa tradução e revisão, o que torna a leitura mais agradável.
Em suma, Iain Reid cria um livro envolvente, com aspectos psicológicos bem desenvolvidos e que prende o leitor do começo ao fim. É uma obra que desperta muitas emoções, algumas contraditórias, mas que merece ser conferida por quem gosta de desfechos corajosos.