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Resenha: As águas-vivas não sabem de si

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Livro:As águas-vivas não sabem de si
Autor:Aline Valek
Editora:Fantástica Rocco
ISBN:9788568263334
Ano:2016
Páginas:296
Compre:Aqui

Sinopse:

A três mil metros de profundidade, o oceano é um mundo sem luz, cheio das mais curiosas formas de vida e em sua maior parte inexplorado para quem vive na superfície. É nesse ambiente que mergulha Corina, flutuando no escuro como um astronauta no espaço, do jeito que gosta: cercada de água. Mas também perseguida pela sensação de que não deveria estar ali. Está sendo observada? Corina faz parte de uma equipe que pesquisa os arredores de uma zona hidrotermal com o objetivo de testar trajes especiais de mergulho. Cinco pessoas trabalhando isoladas, da superfície e umas das outras, numa estação a trezentos metros de profundidade. Como o abismo diante delas, escuro e insondável, cada uma dessas pessoas tem algo a esconder. Incapaz de afogar uma doença que pode pôr tudo a perder, Corina se vê obrigada a enfrentar seus dilemas e os dos colegas, em uma expedição liderada por um cientista com uma obsessão: encontrar inteligência no fundo do oceano. Uma história sobre mergulhar na solidão e ao mesmo tempo se cercar das vozes que pulsam no oceano. Uma história que convida a suspender o fôlego e a ouvir. Uma história que lança a inquietante dúvida: se as águas-vivas não sabem de si, sobre o que sabem então?

Resenha:

Estava doida para ler esse livro desde o ano passado, mas como vida de leitora é complicada, acabei esquecendo-o diante dos livros de parcerias; porém, quando a oportunidade apareceu, solicitei-o imediatamente e foi uma grande surpresa ler essa história em todos os sentidos. Quer saber o porquê? Confira abaixo.

No início, estava achando a leitura interessante, mas bastante lenta e, consequentemente, não conseguia ler uma boa quantidade de páginas, mas ao tentar prosseguir a história, fui percebendo que esse era o ritmo natural da obra e que eu é quem não estava acostumada com livros nesse estilo. Aos poucos, porém, fui conseguindo pegar o ritmo da história e ler com mais rapidez e fiquei fascinada com tudo que desbravei.

Ao embarcaram em uma missão para testarem trajes especiais de mergulho aos arredores de uma zona hidrotermal, Corina e seus colegas tentam trabalhar em um lugar totalmente isolado da superfície.  Por lá, talvez a pior coisa que possa acontecer, além de falhar na missão, é tentar não sentir muito estresse; é muito difícil manter alguma rotina e conversa entre eles.

Corina carrega uma doença que pode acabar com sua carreira de mergulhadora e a esconde de seus colegas de trabalho e até de seu amigo Arraia; mas será que apenas ela esconde um segredo? Cada um da equipe parece ter embarcado não apenas em testar trajes, mas em busca de rendição e enfrentar seus dilemas. Por que o Dr. Martin Davenport estaria nessa missão? Maurício, seu assistente, parece estar fugindo de algo, mas o quê? Susana, tão quieta e fechada, parece carregar um grande peso; o único que parece equilibrado é Arraia.


“Estar no escuro não é tão ruim. Martin tirou os óculos, dobrou a blusa sobre as lentes e começou a esfregá-las. “ É onde realmente podemos enxergar melhor”.
O trabalho de Corina é extremamente perigoso – para alguém que possui uma teimosia igual a dela não é tão difícil de encarar os desafios e perigos –, já que deve confiar em seus equipamentos, ainda mais sendo cobaia; até agora, seus trajes parecem aguentar bem a profundidade e temperatura.  A cada mergulho, ela sente que o oceano é um grande mistério envolto de solidão, mesmo possuindo inúmeras criaturas que não consegue ver, mas parece sentir a todo momento. Será que ela está sendo observada por elas ou pelo oceano?
“O mar era tudo o que existia, mas era um lugar perigoso, com tanto alimento quanto ameaças”.
As descrições sobre as profundezas do oceano e os animais que o habitam são fascinantes; conseguia, com absurda clareza, enxergar como era a água que envolvia os mergulhadores, como era a sensação de estar tão fundo no mar, o vazio e, ao mesmo tempo, o fascínio pela água e a profunda escuridão.  Ademais, a autora demonstra beleza e leveza ao descrever como alguns desses animais têm curiosidade sobre os humanos ou como enxergam o mundo no fundo do oceano.


“Inteligência era mais do que arrumar meios de impedir as mudanças, mas de aprender com elas e de se adaptar às novas condições. As baleias sabiam disso, foi o que elas fizeram, afinal”.
Gradualmente, vamos conhecendo o pequeno grupo e suas funções, no que cada um trabalha e como são suas rotinas. É bem verdade que Corina é fechada e cada um ali parece não querer muito contato, mas um mês confinado acaba criando uma certa intimidade e elo entre eles. Pouco a pouco suas histórias são contadas, como Arraia conseguiu esse apelido, qual a doença de Corina e os segredos do restante.

Confiança é algo que deve estar constantemente presente na equipe, sem ela seria impossível conseguir trabalhar, precisam confiar nos relatórios, mapeamentos e descrições e comandos dados por eles principalmente quando se refere aos mergulhadores. Mas e quando a teimosia entra em cena? Conflitos de ideias e interesses aparecem? Desconfiança pode ser um grande passo para o fracasso.

Como falei antes, confiança é um sentimento bastante importante, mas até onde vai seu limite? Quão ínfima é a linha entre a razão e loucura? São por alguns desses questionamentos que o grupo irá passar e até criar alguns conflitos que podem colocar a missão no fim antes do previsto. Além disso, o grupo lida com a obsessão Dr. Martin em descobrir vida inteligente no fundo do mar; sua convicção em que achará algum som que possa provar que está certo chega a ser até absurda e poucos levam seu trabalho a sério.


Uma das cenas que mais gostei foi da câmera e o polvo, a sutileza, sensibilidade e delicadeza descrita na cena mostram como a criatura que pouco conheço pode reagir de uma forma inusitada e até engraçada aos humanos, a curiosidade que o polvo descreve parece ser tão real que fiquei espantada e maravilhada. Sério, nada consegue apagar a imagem que criei desse encontro entre Corina e o polvo.
“A vida, claro, sempre arrumou uma forma de continuar. Coisa teimosa, ela. Porque, por maior que fosse a destruição, uma ou outra espécie sobrevivia, dava continuidade a história, ficava para ver o que viria depois”.
A sensibilidade da história é tão intensa que é impossível não se sentir um pouco egoísta ou ignorante ao pensar que nossa vida é tão importante ao ponto de esquecer que existem tantas outras vidas pouco exploradas ou que tem alguma importância no fundo do mar. Por que procuramos tanto o que há no espaço quando o fundo do mar é um grandioso mistério e até mais fácil de explorar? A verdade é que estamos acostumados a achar que não existe nada mais de interessante aqui além de nós mesmo. O oceano e as muitas vidas que moram nas profundezas são repletas de histórias, pois a água é quase tão antiga quanto o mundo.

Confesso que fiquei bastante emocionada e impactada com o último capítulo, pois é o oceano quem narra, de uma forma tão carregada e poderosa que consegui sentir na pele como seria conversar com o mar e como é o sentimento dele sobre o mundo e quem vive e morre em suas águas. A forma como a Aline escreveu sobre a solidão e empatia é assombrosa e sublime, em muitos pontos a história descreve a humanidade, em como sozinhos não somos ninguém e raramente podemos existir assim como bem exemplificado acontece com muitas espécies que entram em extinção.


“Somos capazes de entender as mensagens que estão circulando pelos mares? Há mensagens endereçadas a nós? Ou, talvez o mais importante, de onde essas mensagens estão vindo e o que dizem?”
As águas-vivas não sabem de si é uma história que explora as profundezas do oceano de uma forma bastante poética e sensível; acho que será bastante difícil não se sentir diferente e com uma visão sobre o mundo melhor, são muitas metáforas e mensagens importantes deixadas para nós ao decorrer da leitura. A história é dividida em capítulos em como nós enxergamos o oceano e seus habitantes e como eles nos enxergam e não há nada que possa ser comparado a experiência deste livro, aliás, sinto que ainda não consegui descrever como foi a leitura, pois parte dela é apenas para ser sentida e nada consigo fazer quanto a isso.

A Rocco está de parabéns por ter feito um livro tão lindo e valorizar toda a beleza que a história já carrega, esta capa é simples. mas tão graciosa e encantadora; a revisão está ótima e a diagramação está deslumbrante e muito bonita, o que proporciona uma leitura melhor.

O oceano é quase como outro mundo de tão desconhecido que é para nós e quando um grupo decide viver tão fundo nele só pode encontrar muitos mistérios e uma beleza que poucos param para apreciar. Desafio-o a ler este livro e não sentir um sentimento diferente – talvez empático? – pelo mar e seus habitantes.





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