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Resenha: Os meninos da Rua Paulo

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Título: Os meninos da Rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 8535928464
Ano: 2017
Páginas: 280
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Sinopse:

Publicada em 1907, a história dos meninos que travam batalhas pela posse do “grund” da rua Paulo, um pedaço de terra cercado onde se brinca à vontade, é conhecida por leitores de todo o mundo. A luta pelo “grund” vai além da vontade de comandar o local: ali, infância e fantasia prevalecem sobre as imposições do mundo adulto. O espírito de aventura, amizade e heroísmo presente nesta obra é capaz de transpor qualquer barreira de tempo, espaço ou idade. Esta nova edição conta com, além dos textos presentes na anterior, uma orelha assinada por Luiz Schwarcz, um posfácio de Michel Laub e um glossário.

Resenha:

Os Meninos da Rua Paulo, clássico da juventude para muitos, é uma obra envolvente, ágil e bela, que fala de valores que, muitas vezes, encontram-se esquecidos por nossas crianças e adolescentes. É uma aventura para os pequenos e saudosismo para os grandes. É um livro que você precisa conferir. Os motivos? Conto-lhe abaixo.

Nesta obra, acompanhamos um grupo de meninos que lutam em defesa do “grund”, um espaço quase abandonado, que fica na Rua Paulo, usado por eles para brincar e se divertir. Contudo, após algumas desavenças com os garotos do Jardim Botânico, estes resolvem invadir o terreno da Rua Paulo. Porém, não com uma briga desorganizada, com paus e pedras, mas uma guerra. Cada pessoa no grupo tem a sua patente. O combate é regido pela ética e tem regras bem definidas. 

Nesse contexto, destaca-se o general dos meninos da Rua Paulo, João Boka, e o soldado raso, o franzino Nemecsek. Aliás, ele, apesar do pequenino tamanho, é grande em coragem e pretende galgar postos e tornar-se oficial. Contudo, a vida reserva gratas e ingratas surpresas para todos. Quais? Para tal, é necessário ler a obra.


Partindo dessa premissa, Molnár constrói um romance de formação que é formidável. Valores como honra, amizade, ética, lealdade e coragem são trabalhados intensamente durante toda a obra. Esse é aquele tipo de livro onde encontramos exemplos para levar para a vida toda, seja de inteligência, perspicácia, estratégia ou de coragem. Lido na juventude, os protagonistas marcarão a sua vida. Lido na idade adulta, a marca será a mesma, porém, deixará um gostinho a mais: a saudade dos tempos passados.

Outro ponto que chama a atenção da obra é a qualidade do texto. Apesar de ser um livro para jovens e crianças, a obra não narra as aventuras de maneira superficial, apressada e simples. O autor, em parte também devido ao período que a obra foi escrita, preza por uma construção mais elaborada, uma escrita mais formal e um enredo bem amarrado. Pode causar estranheza para alguns no começo, mas, página a página, tornar-se-á um deleite para os olhos. Afinal, nada melhor do que uma escrita rica para completar uma premissa também maravilhosa.

Além dos elementos já destacados, chamam a atenção a construção dos personagens, que demonstram uma profundidade e um potência psicológica incrível. Aliás, vale ressaltar, o livro é muito melhor nesse aspecto do que centenas de livros adultos que encontramos por aí. Os personagens são bem delineados, conhecemos seus pensamentos, a forma de agir e entendemos a essência de tudo. Ademais, no fim da obra, a ação dos jovens guerreiros faz-nos refletir sobre o que realmente importa no mundo.


Há, entretanto, alguns pontos que precisam ser explicados. Não são pontos negativos, mas características de seu tempo que precisam ser entendidas de forma correta, sem um olhar anacrônico que hoje é tão comum. Destes, o primeiro é a ausência quase que total das personagens femininas da obra. Os combatentes, tanto da Rua Paulo quanto do Jardim Botânico, são meninos. Às mulheres, resta o papel da costura da bandeira e de cuidar dos doentes. Ademais, há certo ideal de militarismo pregado nas páginas, o que nós sabemos que culminou nas duas grandes guerras. Se entendermos essas duas características como do tempo da gênese da obra, aproveitaremos grandemente a leitura. É claro, entretanto, que não é pregado uma leitura acrítica aqui. Contudo, faz-se necessário não julgar uma obra de 1907 com um olhar de 2017.

Quanto à parte física, eu só tenho elogios para a Companhia das Letras. A capa está genial e representa com perfeição tudo que iremos encontrar na obra. A diagramação está boa e muito confortável, propiciando uma excelente leitura. Devo destacar, entretanto, a tradução que está primorosa. É, sem dúvidas, um dos melhores trabalhos que já encontrei nesse sentido. Ou seja, tudo colabora para uma leitura prazerosa.

Em suma, o presente livro, além de ser um excelente romance de formação, é uma obra que possui todos os aspectos para ganhar os leitores mais jovens e também os mais adultos. Sem dúvidas, uma leitura que precisa ser feita por todos que gostam de boa literatura. 



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