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Resenha: Laranja Mecânica

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Sinopse:

Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica"é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.


Resenha:

Essa foi uma das resenhas mais difíceis que eu já me propus a fazer. Não porque o livro seja ruim, pelo contrário, Laranja Mecânica cumpriu o que prometeu na sinopse: não dá para ser o mesmo após a leitura. O livro é assombroso, mexe com seus pensamentos, abala sua ideologia. Surpreendi-me e encantei-me com a obra.

Anthony Burgess, em Laranja Mecânica, retrata a vida do jovem anti-herói Alex, um adolescente amante da boa música clássica e conhecedor de cultura. Porém, por outro lado, nosso protagonista é extremamente agressivo; faz parte de uma gangue, sai durante a noite para perturbar e roubar, mesmo sem ter necessidade disso. Alex é um verdadeiro delinquente.


Outros personagens fundamentais na obra e que conhecemos logo no princípio da narrativa são Pete, Georgie e Tosko. Os três são os druguis de Alex – seus companheiros de gangue – e, assim como o protagonista, são extremamente insanos e violentos. Porém, com uma exceção: enquanto Alex ama a arte, os demais a ignoram.

“Se os plebeus são bons é porque eles gostam, e eu jamais iria interferir com seus prazeres, e o mesmo vale para a outra loja. E eu frequento a outra loja. E mais: maldade bem de dentro, do eu, de mim ou de você totalmente odinokis, e esse eu é criado pelo velho Bog ou Deus, e é seu grande orgulho e radóstia” (p. 89).

Em uma dada noite, ao saírem para uma das costumeiras farras, o destino prega uma peça nos amigos de gangue. Por causa da disputa de poder, a amizade é colocada à prova. Será que eles saberão enfrentar a disputa? Com a polícia no rastro deles, será que eles conseguirão escapar mais uma vez?

Perturbador é a palavra que melhor caracteriza esse livro. Apesar de ser uma distopia, o livro relata uma situação que poderia acontecer hoje, amanhã, no próximo mês. E a pergunta é: será que estamos preparados? Será que estamos maduros suficientes para entender e resolver os problemas do mundo em que vivemos?


Laranja Mecânica cutuca em uma das feridas mais abertas da sociedade contemporânea: a violência. Até onde será permitido ir para que esse fenômeno degradante que atinge nossa civilização seja controlado? Será válido mexer na mente alheia? Será que a cadeia realmente só piora o ser humano?

“Quando cheguei ao pé das escadas do flatbloco, fiquei um tanto surpreso. Mais do que isso até. Abri a minha rot como as velhas gárgulas faziam. Eles haviam vindo me encontrar” (p. 100).

O próprio nome do livro é totalmente profundo e filosófico. A laranja é um fruto cítrico, gostoso, que alimenta muitas pessoas. Porém, essa laranja aqui tratada não é natural, é mecânica. Ela não pode alimentar, ela é uma máquina. E máquinas não são nada mais do que um conjunto de engrenagens controladas por alguém. Alex é essa laranja.

Se todo o enredo é um tapa na cara da sociedade, Anthony dá outro show na construção de seus personagens. Ele cria um protagonista real, autêntico e totalmente distinto de tudo que eu já encontrei na literatura. Porém, apesar de ser distinto na literatura, certamente você consegue achar muitos Alex’s pelas ruas. 


Os demais personagens também são muito bem construídos e trabalhados. Assim como no protagonista, conseguimos perceber uma autenticidade nas ações de todos os coadjuvantes, o que torna o livro ainda mais real e assustador. Você lê a obra e se pergunta se isso não está acontecendo em alguma parte do mundo.

“Eu tinha espasmos mas não conseguia vomitar, videando primeiro uma britva cortar um olho, depois fatiar uma bochecham depois cortar cortar cortar tudo, enquanto um króvi vermelho espirrava na lente da câmera” (p. 167).

Se o livro é um espetáculo, a edição preparada pela editora Aleph – que já se tornou minha editora favorita – é um show à parte. A capa é dura, as folhas são estilo de revista, com uma qualidade que dá gosto. O livro conta com ilustrações maravilhosas e uma nova tradução. Quer mais? Tem mais! O livro ainda possui material exclusivo: artigos escritos pelo autor, entrevista e muito mais. Encontrei nesse exemplar a melhor edição que já vi nestes meus anos de literatura. Meus sinceros parabéns à editora. Livros bonitos estão um patamar acima.

Eu poderia ficar o dia todo falando da obra e não conseguiria demonstrar todo o meu amor e meu assombro. Minha dica é: leia, delicie-se, assuste-se, deixe-se assombrar. O livro é incrível e você precisa conhecer.

Livro: Laranja Mecânica
Autor: Anthony Borges
Editora: Aleph
ISBN: 9788576571360
Ano: 2012
Páginas: 352

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