Sinopse:
Um homem acorda acorrentado com os braços para cima em uma sala escura, com dois torturadores vestidos com detalhes masoquistas ao lado e um interrogador baixinho, vestido com roupas sociais e uma camisa surrada do Black Sabbath. Eles o informam que ele acordou em uma banheira sem um rim e sofreu um choque amnésico, que o impede de lembrar os detalhes. Assim sendo, eles partem do princípio de que outros choques traumáticos podem desbloquear essas memórias, se necessários. E se iniciam as piores partes. O livro faz referências à lenda urbana da banheira de gelo, às lendas ao redor da história do rock’n roll e até às motivações e psicologia ao redor da criação de lendas urbanas.
Resenha:
Se você espera encontrar nesse livro uma fantasia bem construída, você está errando de livro. Nesta obra, Draccon expõe outra faceta de sua escrita, onde sexo, violência e rock se misturam de uma maneira hegemônica. Esse não é um livro leve e bonitinho e, provavelmente, pode não agradar algumas pessoas.
Tudo começa quando um rapaz acorda preso em um ambiente insalubre, sendo torturado por pessoas um tanto quanto excêntricas. Os torturadores querem respostas; os métodos para consegui-las pouco importam. Socos, chutes, xingamentos, perfurações... Todas as torturas possíveis e imagináveis são utilizadas para que nosso protagonista fale. Porém, há um grande problema: ele não se lembra de seu passado.
“O balde de água gelada bateu forte como um soco. E, quando digo forte, não me refiro como o soco de um pugilista na cara de outro treinado para receber golpes, mas forte como o impacto do soco que um pai bêbado dá no filho que se coloca no caminho para proteger a mãe” (p. 9).
Depois de muito apanhar, suas memórias parecem tentar voltar ao eixo. O protagonista começa a lembrar-se de alguns momentos, mesmo que desconexos. Porém, os torturadores acreditam que agressões fazem bem para a memória; então, a tortura se intensifica para que as lembranças se encaixem.
O livro é muito pequeno, então não me alongarei no enredo, evitando que spoilers sejam proferidos. Quando eu digo que o livro é pequeno, é muito mesmo. Ele tem apenas 176 páginas e a letra é enorme. Aparentemente, a fonte utilizada foi tamanho dezesseis. Ficou claro que a Leya deixou a letra enorme para ocupar mais espaço, a fim de que o livro não parecesse apenas um conto.
A escrita da obra é bem rápida e fluída, mas nada leve. As falas são repletas de agressões verbais e palavrões para todos os gostos. Até porque, querer um torturador pedindo “por favor” e usando “por gentileza” é, no mínimo, incompreensível. Logo, quem não gosta de cenas fortes e um linguajar mais vulgar pode não gostar da obra.
“– Existem três coisas capazes de virar a cabeça de uma pessoa: amor, dinheiro e poder. Dê ou retire qualquer um desses itens, e ela enlouquece” (p. 30).
Quanto aos personagens, conseguimos aprofundar bastante na personalidade do protagonista. A narração em primeira pessoa possibilita isso muito bem. Vemos seus defeitos, suas poucas qualidades e seus muitos erros. Através dele também conhecemos outros personagens, como sua namorada. Todos os personagens têm características bem peculiares, o que enrique a obra.
Para quem gosta de rock, vai encontrar, nessa obra, diversas referencias às bandas clássicas desse gênero, como o Rolling Stones e o Black Sabbath. Além disso, o autor também demonstra conhecer bastante do cenário nerd, fazendo referências a essa comunidade e suas características.
“Eu me virei assustado, pensando se já era o anjo da morte falando comigo. Olhei para baixo com o intuito metafísico de perceber se o corpo já tinha disparado na frente e deixado o espírito para trás. Sabe como é; a gente se influencia muito com o que vê em filmes, por aí” (pag. 46).
Apesar da premissa da obra ser bem interessante, o desenrolar da obra não me agradou muito. Achei alguns aspectos muito exagerados e excêntricos. Por exemplo: muitos palavrões foram bem colocados, devido à construção dos personagens. Porém, outros parecem ter sido jogados despropositalmente no papel. Da mesma forma, foram colocados detalhes muito aprofundados sobre as bandas de Rock no livro. Não é o meu caso, pois gosto de quase todas as bandas mencionadas, mas, quem não é fã do gênero ficará literalmente sem saber do que os personagens falam.
Em geral, confesso que esperava mais da obra e achei o livro apenas mediano. Porém, continua sendo uma obra bastante recomendada para quem gosta da mistura de sexo, rock e violência em um só livro.
Livro: Espíritos de Gelo
Autor: Raphael Draccon
Editora: LeYa Brasil
ISBN: 9788580442861
Ano: 2011
Páginas: 176