Sinopse:
Quando a realidade torna-se brutal demais para uma garota de 18 anos, ela é hospitalizada. O ano é 1967 e a realidade é brutal para muitas pessoas. Mesmo assim poucas são consideradas loucas e trancadas por se recusarem a seguir padrões e encarar a realidade. Susanna Keysen era uma delas. Sua lucidez e percepção do mundo à sua volta era logo que seus pais, amigos e professores não entendiam. E sua vida transformou-se ao colocar os pés pela primeira vez no hospital psiquiátrico McLean, onde, nos dois anos seguintes, Susanna precisou encontrar um novo foco, uma nova interpretação de mundo, um contato com ela mesma. Corpo e mente, em processo de busca, trancada com outras garotas de sua idade. Garotas marcadas pela sociedade, excluídas, consideradas insanas, doentes e descartadas logo no início da vida adulta. Polly, Georgina, Daisy e Lisa. Estão todas ali. O que é sanidade? Garotas interrompidas.
Resenha:
“Na verdade, eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria se matar, que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia” (p.46).
O ano é de 1967, data marcada para Susanna Kaysen por um motivo inesquecível: uma tentativa de suicídio. Com apenas 18 anos, ela já agia em benefício da morte, pois já não aguentava a realidade a sua volta. Após essa tentativa, ela foi internada em uma clínica psiquiátrica, McLean, e, em seguida, diagnosticada como portadora de um distúrbio de personalidade limítrofe.
Em sentido lato, essa personalidade seria uma balança entre neurose e psicose. Conforme a autora elenca em seu livro, seria um psiquismo fraturado, mas não desmontado.
Para uns, Kaysen não tinha plano de vida, não tinha futuro e objetivos. Não queria estudar, não se interessava em ir à faculdade e nem trabalhar. Desde nova, já tinha um caso com seu professor de Inglês. Para uns, era taxada de louca, doente mental e psicótica. Foi encaminhada ao hospital, após espremer uma espinha e tomar inúmeras aspirinas de uma vez.
“Nem sempre o que sobe desce; um corpo em repouso não tende a permanecer assim e nada garante que a toda ação corresponderá uma reação igual e contrária. O próprio tempo é outro. Pode correr em círculos, refluir, saltar ao léu de hoje para ontem. Até a disposição das moléculas é fluída. Uma mesa talvez seja um relógio; um rosto pode ser uma flor” (p.12).
Kaysen foi internada acreditando que passaria apenas algumas semanas, porém, passou dois anos sendo tratada e cuidada. Agora, ela terá de conviver com novas pessoas e passar a viver uma nova vida. Ela conhece várias pessoas e se torna amiga de algumas, assim como Georgina, Lisa, Polly e Daisy. Todas são portadoras de algum problema mental, o que faz com que Susanna passe a olhar para os problemas dos outros e enxergar que o seu não é o único e o mais difícil de ser solucionado.
Geordina é a companheira de quarto de Kaysen, é portadora de pseudologia fantástica e estuda no Vassar College. Polly tem esquizofrenia e já ateou fogo em si mesma. Daisy tem anorexia. Lisa é diagnosticada com sociopatia, sempre tenta fugir do hospital e não dorme há dois anos.
O hospital em que essas garotas vivem é localizado na periferia da cidade. Porém, era considerado bastante famoso e havia abrigado grandes cantores e poetas, como a Sylvia Plath. Para quem não conhece, ela foi uma das melhores poetisas de sua época e cometeu suicídio com apenas trinta anos de idade (isso não é relatado no livro, mas apenas para nível de curiosidade).
“O hospital se especializou em poetas e cantores, ou será que os poetas e cantores se especializaram na loucura?” (p.59).
A história não é uma ficção criada pela a autora. O livro é um relato de tudo o que ela vivenciou. Ela conta passo a passo de como é viver em um hospital psiquiátrico e deixa claro os seus pensamentos, a todo o momento.
Porém, mesmo tratando de uma autobiografia, a autora não faz relatos de modo fixo e cronológico. Ela intercala os acontecimentos com seu ponto de vista e conforme sua lembrança. Não existe uma regra ou uma lista sobre as datas. Contudo, mesmo sendo dessa maneira, é fácil compreender o que ela quer dizer e entender todos os processos em que ela vivencia.
Somos apresentados não apenas pelos relatos, a autora também anexa fichas e relatórios. Tanto a sua entrada quanto a sua saída são mostradas na obra. É possível fazer um cálculo baseando o seu tempo de internação e seu período de progresso na recuperação.
“Se a família deixasse de pagar, a internação era suspensa e éramos atiradas nuas em um mundo onde não sabíamos viver. Preencher um cheque, usar o telefone, abrir uma janela, passar a chave na porta – essas eram apenas algumas das coisas que havíamos esquecido como fazer” (p.110).
A forma como a obra foi dividida faz com que a leitura seja rápida. A diagramação é bastante agradável e linda. Confesso que achei a capa um pouco "cheguei" demais, mas para quem gosta da cor e de chamar a atenção, vai gostar bastante.
Indico a obra para aqueles que gostam de uma biografia mais pesada e com algumas descrições sem censuras. Kaysen não coloca rodeios em suas falas, ela é direta e não teme o que está por vir.
Título: Garota, interrompida
Autora: Susanna Kaysen
ISBN: 9788573128628
Editora: Gente
Selo:Única
Ano: 2013
Páginas: 189
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