Autor: Ayrton Centeno
Editora: Geração
ISBN: 9788581302188
Ano: 2014
Páginas: 856
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Sinopse:
Quem ganhou, perdeu. Quem perdeu, ganhou. Cinquenta anos após a instauração da ditadura de 1964, é assim que se resume a ópera daqueles anos de chumbo, sangue e lágrimas. Por ironia, os vitoriosos de ontem habitam os subúrbios da História, enquanto os derrotados de então são os vencedores de agora. Exilados, presos, torturados e proibidos no passado tornaram-se presidentes, ministros, governadores, parlamentares, escritores, artistas, cineastas, músicos. Quando o AI-5 arreganhou suas mandíbulas, parte deles empunhou as armas, enquanto outra fração usou palavras, sons e imagens contra o regime.
É a jornada destes vencedores tardios – na imensa maioria jovens ou adolescentes em 1964 – que Ayrton Centeno persegue, resgata e narra neste livro. Sob a forma de uma grande reportagem, sem abrir mão do rigor jornalístico, mas com a pegada de um thriller arrebatador.
Resenha:
A ditadura militar é um assunto extenso e, para muitos, até mesmo chato. Porém, para ler Os Vencedores, eu recomendo que você afaste da mente as lembranças de algumas aulas de história ruins que você possa ter tido e abra seu pensamento. E, claro, leia sem pensar nas políticas partidárias modernas, pois o presente é infinitamente diferente do passado.
Como dito na sinopse, o livro Os Vencedoresé uma obra jornalística e não tem uma intenção política partidária, apesar de qualquer ato jornalístico ser político. Nele, conhecemos a luta de diversos ícones no período mais negro da história brasileira e vemos como foi necessário, até mesmo, a população recorrer a grupos paramilitares para fazer valer seus direitos.
Quantas figuras políticas atuais você imagina que foram perseguidas pela ditadura? Quantos intelectuais ou músicos de sucesso? Se você pensou em apenas alguns, está completamente enganado. Eu também estava, ao menos antes de ler essa obra. Boa parte dos atuais vencedores nas eleições lutou bravamente contra as algemas da ditadura que assolou nosso país.
“Quem perdeu, ganhou. Nas últimas duas décadas, os perdedores de ontem têm governado o Brasil. Primeiro um ex-exilado, depois um ex-preso político e, finalmente, uma mulher, ex-presa política e torturada. Quem ganhou, perdeu” (p. 17).
Obviamente não poderei mencionar todas as pessoas apresentadas no livro, mas falarei de algumas que se destacaram no passado e também no presente, mesmo que no momento atual seja de modo negativo. Além disso, tentarei fazer uma ambientação sobre o período, apesar de só ser capaz de entendê-lo por completo após a leitura de um material amplo como a obra.
O primeiro fato que precisamos ter em mente é: a ditadura foi muito pior do que imaginamos. Os presos políticos sofreram torturas inimagináveis e alguns não conseguiram escapar com vida. Choques, surras e tortura psicológica eram práticas comuns para tentar retirar confissões daqueles que lutavam pela liberdade. Ou, até mesmo, para que confessassem “crimes” que não cometeram.
Diante de tais afrontas, muitos grupos se organizaram militarmente para lutar de igual para igual com aqueles que diziam estar salvando o país. A luta foi árdua, tanto na cidade quanto na mata, e envolveu membros de diversos seguimentos da sociedade: músicos, políticos e principalmente estudantes que sonhavam em mudar a realidade.
“Quando relembra aquele aniversário distante, Carlos Alberto não fala de bolo, velas e festa. Nunca antes daquele 25 de agosto de 1961 havia ido às ruas para desafiar a polícia. Queria convocar os estudantes para defender a posse do vice eleito” (p. 133).
Dentre os quase heróis mencionados no livro, os que mais me chamaram a atenção foram exatamente Lula, Dilma e José Dirceu. As lutas enfrentadas por eles foram dolorosas e certamente deixaram marcas. Eles chegaram ao ponto de serem considerados terroristas pela ferocidade de sua luta e tornaram-se, ao lado de muitos outros, essenciais para a volta da democracia. Contudo, por outro lado, no presente as coisas se inverteram. Muitos os têm como vilões. Eu mesmo confesso que fiquei com a sensação nostálgica. Se eles ainda mantivessem o mesmo espírito aguerrido quando chegaram ao poder, certamente as coisas seriam diferentes Mas as pessoas mudam... E muitas vezes para pior.
E por falar em mudança, através do livro também percebemos uma mudança grandiosa, mas em um partido político. Antes chamado de MDB, este partido era de oposição aos militares; ele lutou, mesmo que legalmente, contra os disparates do governo e tentou aumentar a liberdade da população. Hoje o partido se chama PMDB. O nome pouco mudou, mas a índole... Bem, quanto a essa há muito para se questionar.
Para mim esta foi a principal importância da presente obra: além de abrir o passado para uma visão mais ampla, me ajudou a perceber o presente de uma forma mais consciente. Para entender-se o porquê do presente ser tão ruim, é necessário esclarecer melhor o passado. Até porque lá foi onde tudo começou.
“A primeira imagem enquadra dezenas de jovens correndo pela calçada. Estão fugindo. Ouve-se tiros e um matraquear de metralhadora. Da bruna no fundo destaca-se um veículo militar” (p. 167).
Além da qualidade da obra, essa tem outro enorme diferencial: o livro não é difícil; Ayrton Centeno transmite todos os seus estudos com uma linguagem bem simples e direta, fazendo com que a leitura flua de uma maneira rápida, apesar das muitas páginas. A quantidade de fotos e propagandas da época apresentadas no livro também torna a leitura mais suave e enriquecedora.
A leitura da obra me acrescentou muito em conhecimento sobre o nosso passado e também em visão crítica sobre o nosso presente. Exatamente por isso aconselho a leitura dessa obra para todos. Mesmo que você não goste de obras do gênero, leia; afinal, conhecimento nunca é demais. Além disso, é raro encontrar um material tão completo e com uma linguaguem tão simples.
Repito: leiam; vocês não irão se arrepender.