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Resenha: O avião de Noé

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Título: O avião de Noé
Autor: Fernando Vita
ISBN: 9788581302485
Editora: Geração Editorial
Ano: 2014
Páginas: 240
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Sinopse:

Nos anos 1950, começando com uma explosão durante uma missa em louvor à Santa Rita dos Impossíveis. Uma fábrica de fogos pega fogo, mas todos acham que o barulho é devido às comemorações pela vitória do Brasil contra a seleção sueca. O responsável: o porco de um enfermeiro. Um inventor improvisado acredita que, com os restos de sucatas que vai encontrando, poderá construir um helicóptero, o Águia de Todavia, e até marca o dia para seu lançamento. A geringonça voará? Este e muitos outros relatos desfilam numa sucessão de acontecimentos vertiginosos na cidadezinha imaginária baiana criada pelo jornalista e romancista Fernando Vita, que compõe um mosaico debochado, escatológico e cheio de aventuras populares com tipos folclóricos neste seu segundo livro, depois de Cartas anônimas.


Resenha:

Senhores passageiros, este voo tem como destino uma agitada e imaginária cidade do interior da Bahia chamada Todavia. Apertem os cintos e vamos embarcar nessa incrível aventura de Fernando Vita. Prepare-se para rir com a obra do início ao fim, pois, ao embarcar neste livro, não há choro e nem lamentos. Se existe algo que possa deixar o leitor triste, Vita nos conta de maneira engraçada e hilariante.

Nessa cidade criada por Fernando Vita, tudo pode acontecer. Em 1958 algo chocante comove a população: uma explosão acontece durante a missa em louvor à Santa Rita dos Impossíveis. As pessoas acreditam que o barulho é em virtude do jogo do Brasil contra a Suécia, em que os fogos anunciam a vitória de nossa seleção na Copa do Mundo. No entanto, enganaram-se quem pensou dessa forma.

Uma fábrica clandestina de fogos de artifício, pertencente a Antônio Trovão das Mortes, conhecido como Bigorrilho Fogueteiro, pegou fogo e a explosão causou várias mortes na região. O causador de tamanho incêndio é um suspense que não vou revelar, embora seja anunciado na orelha do livro. Porém, na contracapa não se faz menção e prefiro que fique no suspense. Leiam a obra e vocês saberão quem é e darão muita risada pela criatividade do autor.
A obra é uma mistura de várias histórias, não falarei de todas. Contudo, é impossível resenhar esse livro sem falar de Noé. Não aquele que ficou conhecido por criar a arca e enfrentar o grande dilúvio da Bíblia. Este Noé a que me refiro tinha o desejo de voar, não apenas ficar com os pés em solo. Ele tinha o desejo de ir além e, para isso, resolveu unir a sua intimidade com as ferramentas e a vontade de voar. O inventor improvisado acredita que pode conseguir criar um helicóptero, no fundo do quintal, apenas com restos de sucatas, porcas, parafusos, fios e arruelas. Será que ele irá conseguir fazer o “Águia de Todavia” alçar voo? E como os seus amigos perguntam: a geringonça voará?
“Em nome dessa anarquia falsamente progressista, liquidamos o nosso passado e não pensamos no nosso futuro. E é aí que entram os tais fabricos de fogos, pocilgas humanas perigosas, onde tantas vidas já se foram e aonde tantas outras ainda irão” (p.25).
Pode-se perceber que alguns até desejam ver o sucesso de Noé, embora seja mais fácil notar aqueles que querem olhar a ousadia do inventor com um ar de incredulidade. Alguns o achavam louco e outros ousavam dizer que ele era sonhador. Contudo, no decorrer da obra temos certeza do que ele realmente era. 

Não recomendo a leitura para todas as idades, mas para maiores de 18 anos, ou pelo menos maiores de 16. A narrativa contém muitos palavrões, embora vivamos em um mundo onde as crianças e adolescentes saibam mais de gírias e palavrões do que os próprios adultos. Porém, o que é certo deve ser seguido e se a obra tem termos pesados, é necessário avisar antes de o jovem pegar desconhecendo o real conteúdo.
“O homem não é um produto do meio. É verdade que há grandes homens e pequenos meios; e grandes meios e pequenos homens. Em quaisquer das hipóteses o homem sobressai na luta pela vida não como resultado do meio ambiente, porém, a lhe impor o espírito, base e sede de suas virtudes e de seus defeitos” (p.43).
Achei a capa bem diferente, não que eu tenha gostado ou desgostado. Posso afirmar que estou em cima do muro, sem uma definição certa. Acredito que tem muitas informações na capa, o que soa muito confuso para quem está observando. Contudo, esse jogo de coisas faz com que seja bastante chamativa em qualquer vitrine e estante. A diagramação é bem feita e em cada capítulo temos uma imagem. O trabalho da Geração prima sempre pelo cuidado e pelo melhor. Acredito que em sentido de atenção, esse resultado foi muito satisfatório e, no conteúdo, muitos leitores irão gostar, pois é uma obra para nos tirar daquela leitura densa e, muitas vezes, cansativa.

O que mais me chamou a atenção nessa obra foi a determinação de Noé, sua garra e sede por tentar concluir um desejo seu. Não obstante, outro ponto que me marcou bastante e que não é alvo apenas de nossas utopias, mas está presente em nossa realidade diariamente: a justiça, aliás, a injustiça. Aquela venda que deveria impedir a deusa da Justiça de enxergar não realiza de fato essa função, pois ela observa por baixo da venda e pende a balança para aqueles que têm melhores condições de pagar.

A obra de Vita é uma grande lenda quando se menciona sobre a cidade. Porém, não há nada de surreal quando o personagem bardo Amabílio Moreira Opobre estampa à sociedade o seu pensamento e a triste realidade que se perpetua em Todavia (e não somente por lá, mas em nosso opróbio país). 
“Se cagada maior não se der, esse nosso inventor da rua das Queimadas vai acabar miado do juízo como o Dumont, que de tanto mexer com coisas de voar, voou dessa para a melhor, e não foi de avião, mas como Tiradentes, enforcado numa corda; Tiradentes, porque quis brigar com o rei de Portugal, ou da Espanha, lá sei eu?; Santos Dumont, por espontânea e livre vontade, de tão desgostoso que estava com a vida amargurada que levava ele mesmo comprou a corda, armou o laço, ajustou no pescoço, apertou o nó e desencarnou o laço, que doidice mais doida, meu Deus!” (p.49).
Confesso que nunca tinha lido nada de Fernando Vita, o conhecia apenas como um conceituado jornalista daqui da Bahia. Na própria obra é mencionado sobre um trabalho do autor publicado em 2011 por título “Cartas anônimas”. É notório que o autor tem uma bagagem vasta e seu sucesso é apenas consequência da excelência de seus trabalhos.

http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2014/12/resultado-do-top-comentarista-de.html

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