Este é um convite ao risco. Ao percorrer estas páginas, conduzido por um dos mais experientes jornalistas brasileiros, o leitor mergulha na mente de matadores de aluguel, traficantes e assaltantes, entrevistados em seus esconderijos. Cruza os céus da América para cobrir tentativas de golpe de Estado.
O premiado jornalista gaúcho Humberto Trezzi revela, neste Em Terreno Minado, os bastidores de reportagens em áreas de risco que fez em quase trinta anos de profissão. Ele mostra, em detalhes de arrepiar, conflitos, rebeliões e catástrofes em várias partes do mundo: Angola, Bolívia, Chile, Colômbia, Haiti, Líbia, México, Paraguai, Timor e também em Porto Alegre, Rio e Santa Catarina. Um vigoroso testemunho da história contemporânea, com fotos impressionantes.
Resenha:
Em terreno minadoé uma obra que não tem o objetivo de ser épico ou didático. O intuito do autor é destacar o que lhe causou impacto nos tempos de estrada. A obra relata as coberturas de risco que o repórter gaúcho, Humberto Trezzi, realizou durante sua jornada.
Humberto presenciou inúmeros conflitos, rebeliões e catástrofes. O primeiro citado por ele se passa na Líbia, em 2011. Por e-mail, ele recebeu um convite de Altair Nobre, editor-chefe do jornal Zero Hora, para ir a campo e descrever a rebelião. Tal convite foi prontamente aceito.
“Não sou novato em coberturas de conflitos. Estive em locais de tiroteio mais vezes do que consigo lembrar e fiz dois cursos de correspondente em área de risco, ministrados por militares veteranos de guerra. (...) Mas nada me preparou para o que viria a seguir” (p.24).
Em meio aos conflitos, Humberto conta que sentiu um arrepio, mas, também, “um misto de curiosidade, orgulho e fascínio mórbido”. Contudo, jamais pensou em desistir. Cada situação narrada pelo autor deixa os leitores admirados com sua calma nos momentos difíceis e com os obstáculos superados.
Os perigos relatados nessas memórias são inúmeros e cada fato gera mais contemplação. Em Angola, por exemplo, no ano de 1996, Trezzi encontra um sargento carioca da Força de Paz e recebe algumas instruções. Graças a essas informações recebidas, em um momento inesperado, tem a sua vida salva diante de uma grande turbulência.
“Todo jovem líbio, aos dezesseis anos, é obrigado a fazer treinamento militar. É levado para campos no deserto, onde aprende a desmontar armas, atirar e sobreviver. Isso explica como Kadafi ‘exportou’ seus revolucionários para lutas em todo o Oriente Médio nas décadas de 1970, 1980 e 1990” (p.77).
O autor descreve de maneira incrível diversos confrontos que presenciou, transformando a sua carreira de repórter em uma grande aventura. Ele faz com que o leitor entre nas batalhas, sentindo o medo e a comoção na pele. As fotografias deixam o cenário ainda mais vivo em nossa mente, tirando-nos, completamente, da realidade.
O livro é separado em quatro partes. A primeira conta os conflitos ocorridos na Líbia, Angola, Colômbia, Haiti e Timor. Na segunda parte, são narradas as catástrofes ocorridas em Santa Catarina e no Chile. No estado brasileiro, o autor registrou os desmoronamentos causados por causa das chuvas, em 2008. Já no Chile, o repórter relatou o terremoto que aconteceu em 2010.
“Repórteres são inevitáveis como baratas. Aparecem em todas as guerras e sobrevivem. A piada foi feita por um militar argentino enquanto um grupo de jornalistas, incluindo eu, rastejava como inseto dentro de um túnel escuro, lamacento e pegajoso no qual mal cabiam os ombros” (p.149).
A terceira parte descreve as rebeliões políticas ocorridas em Bolívia e Equador. A primeira aconteceu em 2008 e a segunda, em 2010. A última parte da obra trata do crime organizado no Rio de Janeiro, Paraguai, México e Porto Alegre.
O autor coloca nesta obra a entrevista feita com Faraj Mohamed, o Comandante da base da Marinha Líbia, em Benghanzi. Ele ainda entrevista um bandido, no estado do Rio, e as respostas deixam o leitor indignado.
“Eu mato por dinheiro, esse é meu ganha-pão. Há quatro anos faço isso. A minha parada (serviço) é quebrar os outros (matar). Comecei por outro motivo: um cara num bar deitou prosa para cima de mim, me tirou para otário. Marquei bem o rosto dele, busquei dois amigos e fomos pegar ele em casa. Levamos para um valão e matei o sujeito com um tiro de revólver 38, no meio do rosto” (p.259).
Vários trechos me fizeram refletir sobre a situação atual do mundo. Porém, essa citação acima foi como um balde de água fria. Mesmo sabendo que essas coisas acontecem, temos um fio de esperança que tudo não passe de um teatro. Todavia, ao “ouvir” um criminoso confessar dessa maneira, nota-se que a realidade é pior do que se imagina.
A obra, além de nos mostrar as nuances dos conflitos, nos deixa antenados sobre as mazelas praticadas no mundo. Sem dúvida alguma, esta é uma leitura muito recomendada não apenas aos estudantes de jornalismo, mas para todos que gostam de história e curtem detalhes sobre guerras.
Autor:Em terreno minado
Título:Humberto Trezzi
ISBN:9788581301303
Editora:Geração Editorial
Ano:2013
Páginas:343