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Resenha: Abandonado

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Título: Abandonado
Autor: Vinícius Pinheiro
ISBN:
9788581300986
Editora: Geração Editorial
Ano:
2015
Páginas: 186
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Sinopse:
No intrigante filme Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier, habitantes de uma cidade à beira do fim do mundo se comportam como ratinhos de laboratório. O diretor nos faz ver quão ridículos somos quando vistos do alto. Em Abandonado, Vinícius Pinheiro leva seus personagens para reinar na estonteante São Paulo, cidade que centrifuga tudo o que há de bom e ruim numa força avassaladora. Todos tentam dar o melhor de si, mas parecem ridículos. Tentam se levar a sério, mas percebem que o mundo está se tornando uma grande piada. Somos nós lutando para sobreviver e viver nas poucas horas vagas, enfrentando dificuldades financeiras, chefes carrascos, a mediocridade e o imediatismo que nos impedem de ser um pouquinho original. Tudo é produção, tudo é pra ontem, tudo é insumo. Nas pinceladas das palavras, Vinícius vai desenhando momentos de ironia, sarcasmo, e nos faz rir das próprias desgraças, das próprias fragilidades. Assim, nos sentimos mais humanos quando viramos a última página. Faz lembrar os versos de Fernando Pessoa em Poema em linha reta: “Ora, então são todos semideuses? Onde há gente neste mundo?”.

Resenha:
Como diria Vinícius Pinheiro, não é preciso ser um divisor de águas da literatura para contar uma boa história; assim foi com o personagem deste livro. Alberto Franco, um jornalista informal e roteirista em início de carreira, se envolve com uma atriz iniciante, a misteriosa Clara Bernardes.

A jovem é bastante impulsiva e tem uma personalidade forte. Por sua vez, o protagonista não fica atrás quando o quesito é caráter marcante. O envolvimento dos dois é algo que toca nosso jovem Alberto. A paixão desenfreada que ele sente por ela é de deixá-lo louco e, até mesmo, cego.
“Pode parecer paranoia à primeira vista, eu sei. Guardadas as proporções de tempo, espaço e qualidade literária, sentia-me como um personagem de Homero, reclamando da vida aos deuses ao lado de uma bela ninfa imortal em uma ilha paradisíaca” (p.24).
Além dos dois, o autor nos apresenta uma personagem um tanto incomum em obras: uma vidente. Ela parece saber de tudo, porém, seu tom irônico mostra que nem tudo é o que parece. De forma veemente, ela costuma afirmar aos clientes: “tudo já está escrito”. Todos parecem manipulados por uma força invisível, precisam enfrentar a crise da criatividade para sair dessa armadilha de que tudo já está destinado e não há mudanças. É necessário buscá-las, contudo, parece que o final é apenas a solidão.

O autor faz uma referência à obra com o intrigante filme Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier. Nele, habitantes de uma cidade à beira do fim do mundo se comportam como ratinhos de laboratório; a alusão que a obra nos passa é exatamente essa. Muitos se sentem abandonados, acreditam que o seu destino está escrito como a vidente declarou e não há mais nada a ser feito.
“- A revelação é algo pessoal. Cada um vê o que precisa ser visto e sente o que precisa ser sentido, acredite. Mesmo que você me dissesse o que houve eu não seria capaz de entender” (p.55).
Porém, Vinícius nos mostra que é necessário buscar, incessantemente, para que sejamos melhores sempre; para que busquemos o ápice de tudo. É uma luta para sobreviver diariamente, enquanto apenas aproveitamos o pouco que nos resta para “viver”. Os valores são invertidos e a dignidade da pessoa humana é deturpada. Salários cada vez mais raquíticos, humilhações dos chefes carrascos, um labor excessivo para pagar as dívidas e tentar preencher o estômago como der.

Vive-se de modo exaustivo, tudo deve ser feito para ontem e o verbo viver nos é roubado constantemente. Pagamos para sobreviver, enquanto o lazer nos é violado. Vinícius nos faz divagar de diversos modos e, a todo o instante, pude refletir melhor sobre como vendemos, por tão pouco, nossas horas preciosas.
“Você tem o direito de me matar. Você tem o direito de fazer isso, mas não tem o direito de me julgar” (p.73).
Não sei dizer se estou numa fase reflexiva, mas acredito que estou absorvendo as lições que os livros podem me passar. Esse, em especial, é um grande meio de fazer a sociedade acordar para o que está acontecendo ao nosso redor. Abandonadoé um trabalho que te faz se sentir solitário, usado e vendável. Não vejam isso como algo ruim, pois esses adjetivos mostram que precisamos despertar para a realidade e mudar. Vendemos nossas horas, nos submetemos a humilhações e sequer reivindicamos, com medo de perder a única coisa que temos; seja trabalho, amizade ou algum tipo de vínculo que nos beneficia, de alguma forma. Abandonadoé o típico livro que não podemos deixar de ler. Desperta aquele que dorme e não deixa dormir aquele que está acordado.

http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2015/05/top-comentarista-de-maio.html

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