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Resenha: O Tocaio

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Título: O Tocaio
Autor: Edison Rodrigues Filho
ISBN: 9788561977726
Editora: Primavera Editorial
Ano: 2014
Páginas: 200
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Sinopse:

Flávio Moretto é o xará, o Tocaio, de Flávio Fontoura, o Biotônico. Um triângulo amoroso inicialmente entre Amanda, Tocaio e Biotônico desencadeará uma trama cheia de mistério, permeada por política e história. Depois da suposta morte de Biotônico, é a vez do triângulo amoroso entre Tocaio, Amanda e uma garota parecida com Juliana, a filha de Biotônico e Amanda. Uma dúvida paira se a garota é mesmo Juliana ou alguma moça parecida com ela. Tocaio fica confuso entre o amor por Amanda e a paixão pela garota. Será que este e outros mistérios se desfazem ao final da trama?
Toda essa história é permeada por acontecimentos políticos, como quando estudantes foram às ruas fazer a campanha Fora Collor, que culminou no impeachment do então presidente da República.

Resenha:

Surpreendente, essa é a palavra que define O Tocaio, em minha concepção. Há surpresas positivas e negativas, é claro; Contudo, esse livro faz parte das primeiras, sem dúvidas. Esse é um daqueles livros que provam que o romance por ir muito além do que geralmente vai.

Flávio Moretto, o Tocaio, é amigo de infância de Flávio Fontoura, o Biotônico. Desde pequenos os dois compartilham falcatruas, diversões e uma paixão: Amanda. Porém, obviamente, apenas um poderia ganhar o coração da moça, o que deixaria o outro em segundo plano, na função de amigo. Tocaio, para sua infelicidade, ganha essa posição.
Entretanto, tudo muda de uma hora para outra na vida de Tocaio. De um modo inesperado e até estranho, Biotônico morre. Desta forma, ele tem a chance de ganhar Amanda e, pela primeira vez, se tornar protagonista na vida dela. Mas, será isso realmente o certo? E quando uma garota, supostamente menor de idade, entra em sua vida subitamente, a mente de Tocaio fica ainda mais confusa.
“A sala de aula está apinhada de alunos dispersos e inquietos. Uma centena deles, afogados em calor e desleixo. Diante da lousa, o professor fala para poucos, os de sempre, aleatórios, mera condição estatística” (p. 9).
Pela premissa, tudo parece se revestir de um clichê imenso. Porém, as aparências enganam. O livro é inovador e interessantíssimo. Além disso, mergulha em questões sociais, políticas, criminais e morais, o que torna a obra muito mais complexa e atraente para o leitor.

A crítica social que mais me chamou a atenção no livro foi em relação ao sistema educacional brasileiro. É uma crítica dura, mas muito realista. Tocaio é professor da rede pública, então está submergido no controverso ambiente da escola. O protagonista deixa claro como o lugar é muito mais um depósito de alunos do que um centro de aprendizado. Sua fala relata diversos problemas, desde o princípio organizacional do sistema de ensino à falta de interesse por parte dos alunos.
Além disso, como já mencionado, o aspecto político da obra é bem marcante. O livro se passa no período Collor. Então, vemos nitidamente o problema da inflação, a corrupção que era mais do que presente na época – e ainda é até hoje – e a falta de confiança da população. Os movimentos sociais na luta política também são muito bem representados, o que nos dá uma boa visão histórica da época através da obra.
“O efeito imediato de uma eleição e do processo democrático, em geral, é a renovação da esperança. Periodicamente, é preciso renovar os sonhos do cidadão, mas na verdade o poder é um exercício de repetição que não muda nunca sua face perversa, de se ocupar em massacrar lentamente qualquer possibilidade de realização efetiva para o bem da maioria, que dirá de um indivíduo ou categoria profissional” (p. 31).
Além de toda parte social envolvida, Edison Filho ainda brinda o leitor com personagens convincentes, reais e bem construídos. Não existem personagens perfeitos, idealizados, todos eles são problemáticos e complexos. E até por isso o autor parte bastante para o lado psicológico na construção de todos, o que faz o leitor esquadrinhar melhor a profundidade de cada protagonista e da trama.

Para terminar como uma cereja desse bolo literário, o autor possui uma escrita bem diferenciada. Há várias passagens quase poéticas, com jogos de palavras e metáforas, o que faz que o livro fuja do lugar comum. Toda a construção tem aquele ar de “o autor sabe o que está fazendo”.
Quanto à parte física, o livro também não deixa a desejar. A capa é interessante e convidativa, apesar de não passar bem a essência da obra. As folhas são brancas, mas como a fonte é grande e a diagramação é confortável, isso não atrapalha a leitura. Além disso, a revisão está muito boa, o que corrobora para que tenhamos uma experiência agradável.
“Escândalos no Brasil duram quatro dias, são como o Carnaval, desfilam sob os holofotes, chamando a atenção de todos, para na Quarta-feira de Cinzas ninguém lembrar nem do samba-enredo” (p. 188).
Dessa forma, chega até ser redundante indicar o livro. Sem dúvidas ele é mais do que indicado, principalmente quem quer uma obra inteligente.
http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2015/06/top-comentarista-de-junho.html

 

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