Quantcast
Channel: Desbravador de Mundos
Viewing all articles
Browse latest Browse all 1532

O autor da vez #9: Edison Rodrigues Filho

$
0
0


Biografia:
Edson Rodrigues Filho nasceu em 1960, em Porto Alegre, e formou-se em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica/RS em 1985. Depois de três anos em São Paulo, em 1990, pós-graduou-se em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. A partir de 1995 passou a trabalhar como escritor e roteirista, tendo participado de cursos e wokshops com renomados roteiristas como Syd Field, Richard Walter, Fernanda Pompeu, Tata Amaral, Cristina Fonseca e Chico de Assis. Em 1996, foi o vencedor do VII Prêmio Jorge Andrade de contos, da Academia Barretense de Cultura. É autor dos livros juvenis O Segredo da Chave (2002), O Segredo da Invisibilidade (2004), O Segredo da Longevidade (2005), Jardim do Céu (2010) e Meio Circulante (2012). Também é autor do romance adulto O Tocaio.

Sobre o livro O Tocaio (resenha):
Flávio Moretto é o xará, o Tocaio, de Flávio Fontoura, o Biotônico. Um triângulo amoroso inicialmente entre Amanda, Tocaio e Biotônico desencadeará uma trama cheia de mistério, permeada por política e história. Depois da suposta morte de Biotônico, é a vez do triângulo amoroso entre Tocaio, Amanda e uma garota parecida com Juliana, a filha de Biotônico e Amanda. Uma dúvida paira se a garota é mesmo Juliana ou alguma moça parecida com ela. Tocaio fica confuso entre o amor por Amanda e a paixão pela garota. Será que este e outros mistérios se desfazem ao final da trama?
Toda essa história é permeada por acontecimentos políticos, como quando estudantes foram às ruas fazer a campanha Fora Collor, que culminou no impeachment do então presidente da República.

Entrevista:

Desbravadores de Livros: Olá, Edison. Primeiramente, muito obrigado por aceitar ceder uma entrevista ao blog. É uma satisfação imensa conversar contigo.
A pergunta que sempre faço aos escritores que cruzo é: como você começou a escrever? Em qual momento da sua vida você decidiu que era a hora de tocar as pessoas com palavras?
Edison R. Filho: Lembro que nos anos 1970, no Colégio Santo Antônio em Porto Alegre, o professor Firmino de Português e Literatura (que homenageio em O Tocaio) passava exercício de ditado, lia trechos de livros, jornais e revistas para depois fazermos por conta própria a correção gramatical daquilo que escrevíamos. Eu achava o máximo todas aquelas páginas escritas por mim, ou pelo menos com a minha própria mão. Depois, na adolescência, escrevi letras de música para uma banda de garagem que não foi adiante, e contos em que a Terra invariavelmente era destruída. Quando entrei pra faculdade parei de escrever ficção, mas muito sobre economia e política. Na vida profissional, sempre a mesma habilidade era solicitada – escrever – atas de reunião, propostas comerciais, relatórios de visita, projetos, avaliações técnicas e por aí vai, ou foi, ainda bem! Em 1994, aos 35 anos, diante de mais uma encruzilhada, tomei o rumo da escrita, o que mais me apetecia na luta pelo pão de cada dia. Depois de pós-graduado voltei a fazer não um, mas dois cursos profissionalizantes em roteiro para TV e Documentários para Cinema. Enquanto buscava um espaço no mercado de trabalho, fui escrevendo ficção como uma opção de liberdade, em que só eu podia mexer na história. Quanto a tocar as pessoas com a literatura, isso realmente é a parte mais gratificante, o retorno do leitor é sempre bem-vindo, embora quase sempre os autores sejam generosamente poupados das críticas.

Desbravadores de Livros: O Tocaio, além do romance, possui um forte cenário de crítica no sentido político-social. Como surgiu a ideia desse livro, em específico? Como foi para conseguir misturar de forma tão inteligente romance e questionamentos sobre o país?
Edison R. Filho: Vem desse interesse em imaginar como as coisas poderiam ser a partir de como elas realmente são. Essa percepção ou consciência do que acontece na realidade sempre foi muito fácil para mim, a compreensão do subtexto escondido no alinhamento dos fatos. O que até então nunca havia tentado, era revelar a índole brasileira estampada num grupo de personagens que acompanha e é afetado por esses eventos históricos. Aproveitei a chance de mostrar a contingência de quem vive no fio da navalha da sedução, no limite do moral e do, digamos, conveniente, do honesto e da riqueza fácil, do quanto se tenta andar na linha, mesmo numa estrada tão sinuosa, cheia de curvas perigosas, o quanto é exigida retidão, ética, dos outros – autoridades, empresários, políticos – e ao mesmo tempo ser autoindulgente ou condescendente com a falta de comprometimento com estas mesmas exigências quando se trata de si mesmo ou de sua vida particular.


Desbravadores de Livros: Flávio Moretto é um personagem complexo e com um aspecto psicológico bem trabalhado. Como aconteceu a construção desse personagem? Você se inspirou em alguém real?
Edison R. Filho: O exercício criativo está em construir algo novo a partir do conhecido, principalmente quando nos referimos ao sentido comum do caráter humano. Partindo do princípio de que o indivíduo é um conjunto de elementos físicos e psicológicos voláteis ou instáveis, é difícil sequer contorná-los com os dedos cegos do autor e tocar a dimensão do ser humano em sua complexidade infinita. Sim, haverá algo deste ou daquele num personagem, porque somos um pouco esse e aquele, além, claro, de nós mesmos, isso tudo resulta no que somos.

Desbravadores de Livros: Aliás, ainda no campo das inspirações, quais são os autores que você gosta e que deixaram marcas no seu processo de escrita?
Edison R. Filho: Romance histórico é a minha preferência – Érico Veríssimo, Ken Follett – os meus ídolos. Ambiente é drama, e forjar virtudes em épocas brutais é um desafio interessante que vale a pena ser enfrentado pelo escritor e mais ainda pelo leitor. É a humanidade que renasce a cada momento. De modo geral, se ganha muito escrevendo (intelectualmente), mesmo quando por uma razão ou outra o texto não é publicado, porque esse patrimônio ninguém tira de você: o de ter se envolvido com pessoas quase de verdade, que você mal conhecia até há pouco e estão ali, saindo do texto e parando na sua mente, assim, direto, sem intermediação de telas, luzes, imagens em movimento ou trilha sonora para extrair sensações e sentimentos. Com o livro é assim – leitor e autor – numa história que faz sonhar vividamente com cenas impactantes, faz despertar ideias novas, dessas que mudam tudo, ou quase, neste faz de conta da vida. Escrever é verbo, ação e atitude, uma grande recompensa para o escritor quando o livro nasce pelas mãos de um editor profissional, ganha uma oportunidade de encantar leitores que dedicam algumas horas numa leitura voraz, prazerosa, aí tudo fica bem, tudo no seu lugar.

Desbravadores de Livros: Edison, você é um autor que já possui uma longa bagagem no mundo literário. Conte-nos um pouco mais sobre isso e também nos apresente suas demais obras.
Edison R. Filho: Este ano de 2015 chega o décimo livro, Percurso Livreé um romance juvenil que integra uma coleção sobre olimpíadas, da Editora Garamond, do Rio de Janeiro. Dentre esta dezena, o romance adulto, O Tocaio, pela Editora Primavera, e um não-ficção, Anedotário do Rádio Brasileiro, pela Editora Nova Bandeira. Os demais são juvenis, pela Editora Melhoramentos – O Segredo da Chave, O Segredo da Invisibilidade, O Segredo da Longevidade, Jardim do Céu, Internautas, coletânea de contos, e Meio Circulante, finalista do Prêmio Jabuti/2013, e O Colecionador de Histórias-Pintura, pela Editora SESI-SP. É realmente mais do que imaginei quando em 2002 lancei O Segredo da Chave. Com ele e os demais conheci muita gente, viajei, participei de encontros e palestras, convivi com professores, alunos e pais, pude me aproximar do ambiente em que meus livros juvenis circulam. O maior valor deles é a discussão que geram em sala de aula, os temas crispados na contemporaneidade, mas sem abrir mão de mistério, fantasia e realidade. Sejam todos bem-vindos na aventura literária. Há lugar para todos, o importante é somar.


Desbravadores de Livros: Imagino que você tenha outros projetos literários para o futuro. Conte-nos mais sobre eles. Os leitores podem esperar um novo livro em um futuro próximo?
Edison R. Filho: Há sim, esboços, propostas, vontade. Só não tenho disponibilidade. Escrever uma história longa, um romance, com toda a exigência de pesquisa e leitura específica, acrescidos da dedicar por meses, tem sido impossível. Mesmo assim, poder dedicar um tempo para leitura também é muito bom, e proveitoso. Sinto que essa também é uma boa coisa a fazer.

Desbravadores de Livros: Edison, novamente, muito obrigado pela entrevista. Fique à vontade e deixe um recado para seus leitores e futuros leitores. A casa é sua!
Edison R. Filho: De autor para leitor: Não se incomode por não poder ler tudo o que gostaria, o que você considera pouco é tudo o que precisamos.
Agradeço a oportunidade e até a próxima!

http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2015/06/top-comentarista-de-junho.html



Viewing all articles
Browse latest Browse all 1532