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Resenha: Elite da Tropa

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Sinopse:

Na primeira parte do livro, concentram-se relatos impressionantes sobre o cotidiano dos policiais de elite. Na segunda, um dos nossos personagens seguirá numa trama envolvendo autoridades de segurança, traficantes, políticos e policiais - uma rede que tece alianças improváveis entre os vários atores deste cenário. Depois de cavalgar 100 quilômetros, sem arreio e sem descanso, mortos de fome e sede, eles têm licença para um descanso brevíssimo até que alguém anuncie que a comida está servida - sobre a lona, onde o grupo exaurido vai se debruçar para comer tudo o que conseguir, com as mãos, em dois minutos. Esta é apenas uma das etapas de treinamento da tropa de elite da polícia. Eles obedecem a regras estritas, as leis da guerrilha urbana. Na dúvida, mate. Não corra, não morra. Máquinas de guerra, eles foram treinados para ser a melhor tropa urbana do mundo, um grupo pequeno e fechado de homens atuando com força máxima e devastadora.

Resenha:

Elite da Tropa é, definitivamente, um livro para alguém que tem estômago, sangue frio e não tem medo de desilusão. Sim, desilusão; você não leu errado. Se você acredita que o Brasil ainda tem jeito, não recomendo a leitura desse livro. Ele é revelador, instigante e um destruidor de utópicas soluções para o Brasil.

Na primeira parte do livro, nos é apresentado pequenos casos acontecidos dentro da elite da tropa da polícia militar do Rio de Janeiro, o BOPE. Em alguns momentos, as situações são tão extremas, tão inesperadas, que você solta gargalhadas. Em outras, a revolta toma conta do leitor, pois encontra uma corporação (PM) tomada pela corrupção.

Todo mundo sabe que existe policial corrupto, assim como existem pessoas corruptas em todas as profissões. O mundo não é perfeito, é claro. Porém, neste livro, percebemos a corrupção em um nível extremo, de uma forma angustiante. É demonstrado como os órgãos competentes – secretaria de segurança, prefeitura, governo do estado, coordenadoria da polícia e órgãos de inteligência – sabem do ocorrido, mas nada fazem, porque a inércia lhes é mais vantajosa, financeiramente falando.


“Há quem pense que as pessoas se corrompem porque ganham pouco. Raciocínio estranho. Afinal, há milhões de pobres no Brasil: gente séria e honesta. Por outro lado, os crimes de colarinho branco multiplicam-se feito epidemia.” (pág. 7)

Com a leitura, ficamos na dúvida de quem são os verdadeiros bandidos: os traficantes ou os policiais. Com o tempo, você percebe que o inimigo é o Comando Azul, o batalhão da polícia militar. É ele quem permite e financia o tráfico, a prostituição, o roubo e o jogo do bicho. E pior: ainda lucra por isso, fazendo, até mesmo, segurança de estabelecimentos ilegais.

“Em outras palavras, a polícia tem sido uma grande mentira, que afeta, em primeiro lugar, os próprios policiais. Para rasgar as cortinas e tirar máscaras, nada como a verdade. Santo remédio. E não me venha com aquela velha história: a dose pode matar o paciente. Se matar, paciência. Quanta gente já morreu nessa brincadeira. O que não aceito é que continuemos o joguinho, a farsa, em silêncio, fingindo que não está acontecendo nada.” (pág. 299)


Ao terminar a primeira parte, você pensa que já viu de tudo e nada pode piorar. Aí é que mora o erro. Tudo esta apenas começando. Nos é apresentado uma grande conspiração dentro do Rio de Janeiro. O pior de tudo: os fatos são verídicos. Um policial militar sequestra a esposa de um líder de uma organização criminosa e culpa a organização rival, afundando a cidade maravilhosa no caos e no sangue.

Como carioca, o livro doeu-me profundamente, me tirou do meu ponto de conforto. Apesar de morar na capital, pouco convivi com a violência. Porém, o livro me chocou, muito mais que o filme inspirado na obra. Em parte, foi por perceber que os governantes sabem de tudo e nada fazem.

“Sim, senhor”, foi o que me ocorreu dizer, enquanto eu pensava na merda que é o nosso país – com o perdão da heresia antipatriótica. Aliás, se meu pai fosse vivo eu não teria coragem de escrever isso, assim, com essa franqueza. Mas, o que fazer? O país é ou não é uma merda?” (pág. 93)

Para mim, o livro é uma aula de sociologia na vida real. Esqueça teorias chatas; ligue-se na realidade. Existe análise social em cada página. O narrador, um policial culto, aluno de direito da PUC, faz observações críticas muito contundentes. O sangue se esparrama nas páginas e você não sabe o que esperar. Ou melhor, sabe. Espera-se sempre o pior. O que não se espera é que sempre pode piorar.
 

Sem dúvida alguma, o livro é recomendado para todos. Esqueça a fantasia por um tempo, leve um banho de água fria da vida real. 


Livro:Elite da Tropa
Autores:Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel
Editora:Editora Objetiva
ISBN:9788573028942
Ano:2006
Páginas: 308

http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2014/03/1-top-comentarista-de-marco2014.html

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