Como eu adorei o livro Ovelha (resenha), trouxe alguns quotes para vocês pudessem conferir um pouco mais sobre a obra. Quem gosta de livros polêmicos vai amar!
“Isto não é de deus”, disse ao meu melhor amigo, aos doze anos, quando ele me confessou gostar de meninos. Antes de falar, titubeei. Não sabia se confessava “eu também” ou se o repreendia em nome de Jesus, o todo-poderoso. Ele aguardava minha resposta como quem aguarda um ombro a se apoiar. E eu só pensava em mamãe gritando “melhor morto do que bicha!”, ao pedir às irmãs que orassem por mim. (p. 19)
Ela apareceu na igreja. Mulher da vida. Da minha vida. Recebi na minha casa, como já contei. A futura esposa chegou suja e faminta. Dei banho e comida. Nessa época, eu morava sozinho, depois de muito custo e discussão com Mamãe. Sem saber como agradecer, enquanto eu lia, ela apareceu no meu quarto, lá pro fim da noite, nua. (p. 45)
Agora que o senhor sabe o que de fato sou, talvez não me perdoe. E, se simpatizava com minha figura, talvez a odeie. Eu odiaria. Nunca fui fã de vilões ou de anti-heróis, mas prestar essa alcunha a mim é denegrir a classe de tão bons personagens. Estou mais para indigente literário; sem classificação para cair morto – e ai se o senhor pensa que por isso me considero especial. (p. 66)
O diferente era tratado como normal. Quem sabe o normal fosse o diferente: não porque o mundo quer dar fim aos bons costumes, senhor, mas porque os bons costumes são o fim do mundo. (p. 97)