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Resenha: Eu Sou a Lenda

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Título:Eu Sou a Lenda
Autor:Richard Matheson
ISBN:9788576572718
Editora: Aleph
Ano: 2015
Páginas:384
Compre:Aqui

Sinopse:

Uma impiedosa praga assola o mundo, transformando cada homem, mulher e criança do planeta em algo digno dos pesadelos mais sombrios. Nesse cenário pós-apocalíptico, tomado por criaturas da noite sedentas de sangue, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ele passa seus dias em busca de comida e suprimentos, lutando para manter-se vivo (e são). Mas os infectados espreitam pelas sombras, observando até o menor de seus movimentos, à espera de qualquer passo em falso... Eu sou a lenda, é considerado um dos maiores clássicos do horror e da ficção científica, tendo sido adaptado para o cinema três vezes.

Resenha:

Eu Sou a Lendafoi um livro que me surpreendeu e acabou entrando para a minha seleta lista de favoritos sem qualquer dificuldade. Diferente da última versão do filme homônimo – que eu resenharei, em breve, aqui –, a obra é envolvente, profunda, questionadora e desesperadora. Por quê? Confira abaixo.

Robert Neville está sozinho. O mundo, em caos. Algo aconteceu, Robert não sabe ao certo, mas o mundo enlouqueceu. Mortos andam pelas noites buscando sangue. Neville, provavelmente, é o último humano; o último a resistir aos vampiros, aquele que ainda tenta manter seu corpo vivo e a mente sã. Porém, estar sozinho em meio ao caos é enlouquecedor.
Durante o dia, Robert se prepara da melhor maneira possível para enfrentar o que virá durante a noite. Ele pendura alho na janela, espalha espelhos pelo muro, coleciona estacas, prega madeiras nas janelas e se utiliza de alguns crucifixos. Quando a escuridão chega, ele tenta manter-se salvo; tenta não enlouquecer. Porém, essa rotina começa a tornar-se angustiante. Ele precisa de um motivo para a sua vida, precisa descobrir o que está acontecendo e o que foi que tirou as pessoas amadas da sua vida.
“Um homem pode se acostumar a qualquer coisa, se for obrigado a isso” (p. 26).
Partindo dessa premissa, Richard Matheson reinventa o terror. Cultuado por gênios do estilo, como o Stephen King, ele tirou o medo da área fantástica e passou para a área científica, para a cidade, para a vida comum. Sim, o livro possui vampiros, mas eles são explicados pela ciência, completamente. As estacas, os crucifixos, os espelhos, a contaminação... para tudo existe uma explicação lógica. Exatamente aí está o diferencial da obra.

Além disso, Richard reinventa o terror por outro motivo: o monstro não é o grande vilão, o que evita aquela narração de pura ação e violência besta e sem propósito. Claro, os vampiros estão matando e impedem o protagonista de sair durante a noite; porém, esse não é o causador do medo. A fobia origina-se do estar sozinho diante do desconhecido. O abandono, a solidão e a falta de ter alguém para conversar são os grandes vilões. Matheson explora o psicológico do protagonista, não os vampiros sedentos por sangue. A obra é angustiante porque sentimos medo de ficar só, não porque vemos vampiros por todos os lados. Solidão existe; vampiros ainda não.
Além desse terror mais inteligente e dessa inovação, o autor também se destaca pelo cunho ideológico que a obra carrega. Você pode ler o livro como uma história sobre vampiros; porém, também pode analisá-la como uma visão do que pode acontecer com a humanidade. Há um medo latente nas palavras do autor de uma possível guerra nuclear e as suas consequências. Não obstante, o autor também aborda o medo do diferente, o conflito entre as raças. A obra torna-se, através desses aspectos, profundamente questionadora.
“Ele se deitou na cama e respirou fundo na escuridão, querendo dormir. Mas o silêncio não ajudava muito. Ainda podia vê-los lá fora: os homens pálidos perambulando em volta da casa, procurando incessantemente por uma forma de entrar para pegá-lo. Alguns deles, era provável, estavam de cócoras como cachorros, com os olhos cintilando, voltados para a casa, e os dentes raspando lentamente, para lá e para cá, para lá e para cá” (p. 37).
Por fim, ainda há um protagonista completamente humano no livro. Robert poderia ser eu ou você. Isso, sem dúvidas, deixa a obra muito mais pungente. Além disso, a aposta no psicológico deixa o protagonista mais profundo. Desbravamos o seu âmago; conhecemos seu passado e seu anseio. As angústias e psicoses são compartilhadas com quem lê de maneira incrível.

Como não poderia ser diferente, para coroar essa criação genial, era necessária uma parte física à altura. Felizmente, a Aleph conseguiu trazê-la ao mercado. Com capa dura e uma ilustração bela, a obra já nos ganha de primeira. O livro ainda conta com uma diagramação primorosa e um extra: um artigo sobre a obra publicado por Mathias Clasen, professor da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Esses aspectos só engrandecem ainda mais a qualidade do exemplar.
Como dito inicialmente, Richard Matheson conseguiu emplacar um livro nos meus favoritos. Logo, eu indico a obra. Se você quer um livro para se distrair, é provável que você goste de Eu Sou a Lenda. Se você quer um enredo profundo, enriquecedor e questionador, certamente você vai gostar do livro. Por suas diversas camadas, Eu Sou a Lenda pode e vai surpreender todos os públicos.
“O mundo ficou louco, pensou. Os mortos andam por aí e eu acho isso normal” (p. 124). 


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