Título: Morada das Lembranças
Autora: Daniella Bauer
ISBN: 9788578481360
Editora: Biruta
Ano: 2014
Páginas: 200
Ano: 2014
Páginas: 200
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Sinopse:
Através dos olhos de uma menina, o leitor acompanha a trajetória de sua família que, em meio à Revolução Russa de 1917, viu‑se obrigada a deixar para trás tudo o que conhecia e a empreender uma audaciosa e perigosa fuga rumo a um destino totalmente desconhecido. Com novas vidas e identidades, vê-se despertada pelas inúmeras perguntas que permanecem sem resposta. Mas, essa é a chave da morada. Não ter as respostas lhe permite seguir em frente e abrir todas as portas.
Resenha:
Morada das Lembrançasfoi um livro que me surpreendeu demais, positivamente, é claro. Eu esperava algo totalmente diferente por causa da sinopse, mas a prosa poética de Daniella Bauer surpreendeu-me e desarmou-me. Os motivos? Confira abaixo.
Apesar de não ser um fato tão conhecido, os judeus, antes de serem perseguidos na Alemanha, já haviam sofrido ataques em outros lugares. Um país que tomou tal atitude foi a Rússia, em 1917, na época de sua revolução, após uma conturbada saída da Primeira Guerra. Com os combates internos, alguém deveria ser culpado pelas perdas. Os judeus foram alguns dos que pagaram as dívidas com a vida.
Na obra, acompanhamos a fuga de uma garotinha, com sua mãe e seu irmão, da Rússia. Porém, essa fuga não seria nada fácil. A mãe poderia levar apenas um dos filhos. Sendo o menino mais novo, ele iria viajar no colo, sendo visto por todos. Para nossa narradora-protagonista restou uma viagem clandestina, desconfortável e sem a certeza de chegar viva em outro lugar.
“É piegas pensar que passamos nossa vida orbitando ao redor do amor ou de sua ausência. Somos moscas sedentas por migalhas nas quais pousar, nem que por instantes – breves momentos desse sentimento que faz de nós o que somos” (p. 16).
Morada das Lembrançasé um livro que parte, como bem diz o título, das lembranças da protagonista sobre a sua fuga. A narradora vai reconstruindo suas aventuras, tristezas, dilemas e desafios a partir da memória, criando uma prosa em primeira pessoa altamente poética e intimista, o que dá à obra uma profundidade incomum, além de uma beleza rara de ser encontrada.
Não parando na beleza, o livro também desperta uma centena de sentimentos no leitor, além de ser ponto de partida de uma série de reflexões. Seus trechos profundos levam quem se propõe a desbravar a pensar sobre a guerra, dor, morte, perdas, relações humanas e o amor. Ademais, os sentimentos são tão palpáveis que submergem quem lê, envolvendo-o completamente.
Porém, por outro lado, exatamente por essa característica intimista e poética e por possuir uma profunda contextualização histórica, a leitura se torna bem mais lenta do que o comum. Se o leitor quiser apoderar-se com propriedade de tudo que o livro desperta, precisará, muito provavelmente, de alguns dias para leitura e reflexão. Isso não é um defeito da obra, é claro, mas pode frustrar os leitores mais apressados e que procuram um enredo de fórmulas prontas.
“Somos feitos das escolhas que fazemos ou das que deixamos escapar? Nunca saberemos. São tantas as teorias a respeito do que somos de fato que, às vezes, nos perdemos no básico. Somos resultado entre vácuo e preenchimento, escuro e claro, doce e amargo, amores e dissabores, derrota e vitória, vigor e fragilidade, firmeza moral e fraqueza de caráter” (p. 18).
A parte física, por sua vez, me surpreendeu tanto quanto o enredo. Espetacular é pouco para definir a capa e a diagramação interna. Seguindo a linha do livro, a Biruta preparou um trabalho gráfico belo, sentimental e intimista, que instiga o leitor a prosseguir a leitura, tornando tudo mais envolvente.
Assim sendo, diante de todos os aspectos, tanto físicos quanto de escrita, certamente indico Morada das Lembranças e afirmo: lerei outras obras da Daniella Bauer. Ela fez uma ótima estreia na literatura, mas ainda possui potencial para melhorar e tornar-se uma escritora reconhecida nacionalmente. Beleza e qualidade há de sobra em sua escrita.
Outras Fotos: