Título:Colega de Quarto
Autor:Victor Bonini
ISBN:9788562409509
Editora:Faro Editorial
Ano:2015
Páginas:280
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Sinopse:
Eric Schatz, carioca que se mudou para São Paulo por conta do curso universitário, começa a perceber indícios de que há mais alguém frequentando o seu apartamento.
Primeiro, um par de chinelos.
Então, uma outra escova de dentes. Um micro-ondas que é ligado sozinho durante a noite, barulhos estranhos a qualquer hora e luzes que se apagam de modo misterioso.
Até que, em determinada noite, Eric enxerga o vulto do colega de quarto entrar em seu apartamento pela porta da frente.
Desesperado, o rapaz vai atrás de um detetive particular, mas parece ser tarde demais. Em menos de 24 horas, tudo acontece de modo acelerado e depois de uma ligação desesperada, cortada abruptamente, Eric despenca da janela do seu apartamento.
Em seu livro de estreia, o autor nos apresenta uma história urbana de tirar o fôlego. Um mistério que passa por uma relação familiar complicada, suspeitas por todos os lados, e camadas e camadas de culpados. Há alguém inocente?
Resenha:
Colega de Quartofoi uma surpresa para mim. Eu esperava um livro bom, mas não um livro tão incrível e envolvente. Se for pensar que é uma obra de estreia, o autor merece meus parabéns ainda mais. Motivo? Confira abaixo.
Eric é um rapaz muito rico, o típico playboy. Namora uma garota estilo modelo, possui roupas de marca, um carro caríssimo e mora em um dos melhores condomínios de São Paulo. Porém, ele não está feliz. Pior, ele acha que pode estar ficando louco. O motivo é simples: ele acredita que pode ter um colega de quarto “invisível” morando com ele.
Indícios não faltam; o micro-ondas liga sozinho durante a madruga; a descarga do banheiro é ativada sem qualquer comando. Ainda tem o chinelo que aparece, misteriosamente, no quarto de hóspedes. Uma escova dental também surge no seu banheiro, como em um passe de mágica. É enlouquecedor, sem dúvidas.
“Por um segundo, Eric não se moveu. Respirou fundo, hesitante. Caminhou silenciosamente até o sofá, agarrou o controle remoto nas mãos trêmulas e desligou (...). Tinha certeza de que deixara a televisão desligada. Nem sequer ligara durante o dia” (p. 13).
Querendo provar para si mesmo que não está louco, Eric procura ajuda. Primeiro, de um psicólogo. Após, vai atrás do detetive particular Conrado Bardelli. Contudo, aparentemente, nenhum deles pode ajudá-lo. Ainda naquela madrugada, o jovem Eric despenca da janela do seu quarto. Seria suicídio por causa da loucura ou o colega de quarto o assassinou?
Partindo dessa premissa, Victor Bonini cria um enredo complexo e envolvente. Com uma narrativa detalhada, mas não cansativa, consegue prender o leitor do começo ao fim. Ele ganha pontos por construir um caso muito plausível; melhor ainda: apesar de deixar boas dicas para o leitor, consegue surpreender no fim.
Outro ponto que merece muito destaque na construção do enredo são os bons personagens. Todos eles são muito humanos; possuem falhas e qualidades, até mesmo os “vilões”. Eles são tão reais que eu não me surpreenderia se me deparasse com qualquer um deles por aí. Isso, sem dúvidas, é um mérito enorme. Poucos são os autores que conseguem tal feito.
“Conrado manteve o olhar no caminho de pedra, quinze andares abaixo, e sentiu um mal-estar quando imaginou como seria cair daquela altura. A acrofobia o fez remontar imediatamente à foto da queda de Janela para a morte, de Raymond Chandler, e o detetive subitamente se viu pronto a despencar naquele vão, como fizera o falecido personagem de Horace Bright” (p. 39).
Dentre os ótimos personagens, destaco o detetive e advogado Conrado Bardelli. Como advogado, parece ser um pouco preguiçoso, mas, como detetive, ele se revela. Mostra-se um homem sagaz, altamente inteligente e consegue perceber nuances dos casos que até mesmo a polícia ignora. Não é um “sabe-tudo”, pois se mostra equivocado em alguns momentos durante a obra. Porém, ainda assim segue em frente e não para até resolver o caso.
Outro ponto que merece ser salientado é a realidade que a obra carrega. Desde os trâmites policiais até as falhas do sistema – como um civil ter acesso a dados privilegiados –, o autor consegue trabalhar muito bem a verossimilhança. Não há cenas “forçadas” como em alguns livros policiais. Outro ponto que contribui para essa questão mais real é a ausência de super-heróis. Sabe aquele maniqueísmo profundo de algumas obras do gênero? Não existe em Colega de Quarto, felizmente.
Se todo o enredo merece parabéns, a Faro Editorial não fica atrás, pois entrega ao leitor um trabalho de primeira. A capa está belíssima e tem total relação com a obra. A diagramação está bonita e um pouco sombria, o que combina com o enredo. Além disso, como o espaçamento é confortável, as letras são grandes e a revisão é boa, o livro ganha em agilidade na hora da leitura.
“– Sempre encarei o suicídio como um desvio de personalidade. Pessoas fracas é que desistem de tudo (...)” (p. 71).