Título: Ovelha – Memórias de um pastor gay
Autor: Gustavo Magnani
ISBN: 9788581303253
Editora: Geração Editorial
Ano: 2015
Páginas: 232
Compre: Aqui
Sinopse:
Este livro, estreia impressionante de um jovem e talentoso escritor, é o relato pecaminoso de um decadente. A história de um homem religioso e carismático, temente a Deus, mas amante insaciável de sua própria carne exótica, a carne de outros homens.Um pastor gay, casado com uma ex-prostituta, filho de uma fanática religiosa. Neurótico e depravado. E agora condenado. Internado no hospital, debilitado e com um segredo de uma tonelada nas costas, este personagem atormentado decide libertar-se de seus demônios e relatar seu drama.Num relato cru e sem censura, ele literalmente vomita seus trinta anos de calvário e charlatanice na cara da congregação (e de qualquer um que se interesse por um bom inferno). Sexo, paranoia, corrupção e destruição são os ingredientes tóxicos dessa obra provocante, polêmica e inovadora.
Resenha:
Eu adoro livros polêmicos. Se a obra tem a intenção de quebrar paradigmas, adoro mais ainda. Foi exatamente por isso que me interessei em ler Ovelha. Esperava uma leitura que me fizesse pensar e que desconstruísse algumas figuras canonizadas. Felizmente, o livro fez exatamente isso, mas com algumas surpresas. Positivas, aliás.
Nosso protagonista é um pastor. Porém, esqueça aquele padrão de pessoa “reta segundo os padrões bíblicos”. Ele é gay, mente descaradamente para proteger seus segredos, engana seus fiéis e, algumas vezes, até a si mesmo. Contudo, não pense que ele é um mau-caráter. Ao contrário, é um homem extremamente atormentado por seus erros e por suas falhas diante de Deus.
A vida do protagonista já não era fácil. Porém, tudo piora quando ele descobre uma doença terrível. Internado, vendo sua vida esvair, ele resolve contar ao leitor suas falhas, seus pecados e, talvez, alcançar a remissão. Ele abre o seu coração através de um diário, na expectativa que um dia ele seja publicado. Afinal, talvez assim as pessoas o compreendam.
“Este diário é como uma autobiografia ou carta de suicídio prolongado de quem morre aos poucos, sem ter vivido direito, inspirado por coisas que li e que vivi, de capítulos sem ordem lógica, gosto duvidoso e linguagem questionável” (p. 16).
Partindo dessa premissa, Gustavo Magnani cria uma obra enxuta e para lá de polêmica. Como bem diz a sinopse, a escrita é crua e sem censura. Aliás, foi exatamente essa parte que me surpreendeu. Apesar de esperar algumas coisas bem claras, aguardava uma escrita mais trabalhada e “literária”. Porém, encontra-se o contrário: uma narração em primeira pessoa que é quase uma conversa, onde o narrador/protagonista despeja sobre quem lê tudo que há no seu âmago.
O livro é visceral, essa é a palavra. O narrador deixa claro a sua situação e seu passado. Quando digo claro, é claro mesmo. Ele expõe de forma cristalina como as coisas aconteciam, das suas falcatruas aos seus relacionamentos. Exatamente por isso, o livro possui palavras de baixo calão, cenas de sexo heterossexual e homossexual, mentiras aos montes e canalhices.
Obviamente, o autor não faz isso de forma leviana. Uma simples observação basta para notar que o Gustavo o faz para chocar o leitor, objetivando uma reflexão. O que autor consegue, por sinal, sem muita dificuldade. Não é difícil pensar em certa hipocrisia que há no meio religioso, em como as pessoas nos enganam e, principalmente, como o sofrimento e a vergonha pode moldar o homem.
“Drogados, assassinos, bêbados, ladrões, mentirosos, adúlteros, caluniadores, falsos, todos sempre foram aceitos na igreja. Gays, não. “Amamos o pecador, mas não o pecado”, quanta balela...” (p. 23).
Além dessa reflexão indireta, o protagonista propõe uma série de reflexões diretamente. Ele desafia o leitor a pensar na nossa sociedade mentirosa e enganadora; questiona padrões, derruba construções sociais e, principalmente, em tom muito irônico, faz fortes críticas à igreja.
Se o conteúdo do livro, com todas essas características, é muito bom, a parte física também não deixa a desejar. A capa é bonita e imita o padrão de bíblias antigas. A diagramação está bonita e muito confortável, o que proporciona uma ótima leitura. Além disso, o livro conta com uma boa revisão.
Diante desses aspectos, só me resta indicar o livro. Mesmo que a obra não tenha uma linguagem bela e poética, toca o leitor de uma maneira única. Se você procura uma obra crua, visceral e que descortine a realidade, esse livro é para você.
“Deus me deu o livre-arbítrio, minha mãe o tirou” (p. 28).