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Resenha: Toda Poesia de Augusto dos Anjos

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Título:Toda Poesia de Augusto dos Anjos
Autor:Augusto dos Anjos
Editora: José Olympio
ISBN: 9788503010948
Ano: 2016
Páginas: 320
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Sinopse:

Incompreendido e não reconhecido em vida, Augusto dos Anjos (1884-1914) ganha sua mais completa antologia. Em Toda poesia de Augusto dos Anjos, prefaciada por ensaio crítico de Ferreira Gullar, encontram-se os poemas de Eu, único livro publicado em vida pelo autor, e trabalhos até então inéditos.
Frequentemente apontado com um dos escritores que influenciaram o Movimento Modernista, Augusto dos Anjos ficou conhecido pelos versos ácidos e fortes, comparados a de ícones como Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire. Tais características estão presentes em toda a sua obra, como o leitor pode comprovar nesta compilação definitiva. 
Além dos 58 poemas de Eu, o leitor poderá apreciar verdadeiros achados inéditos. Alguns deles, como A caridade, que encerra o livro, foram escritos poucos meses antes de o autor morrer. 
Apesar de terem sido escritos há quase um século, os versos de Augusto dos Anjos mostram-se atuais. Sem dúvida, uma obra de importância ímpar.

Resenha:

Meu primeiro encontro com Augusto dos Anjos aconteceu no ensino médio; foi amor à primeira vista. De forma instantânea, encantei-me pela forma diferenciada e original que Augusto trazia para os seus versos. Depois de desbravar os românticos, os parnasianos e simbolistas, ler trechos do livro Eu foi como uma brisa de novidade. Então, ao ter a oportunidade de conferir toda a obra do autor, prefaciada por Gullar – outro escritor que eu amo –, mergulhei fundo. Felizmente, saí revigorado; essa, sem dúvidas, está entre as melhores leituras que fiz até agora em 2016.


A escrita de Augusto dos Anjos é esmagadora e apaixonante. Sim, a leitura é densa, complexa, profunda, mas totalmente prazerosa. O autor possui um jeito único, até por isso é considerado um dos poetas brasileiros mais originais. Encontramos na obra uma melancolia profunda, versos reais e dolorosos, uma métrica invejável e sentimentos exacerbados. Ademais, o fato de o autor ter sido um acadêmico traz para sua escrita um elemento novo: a cientificidade. Seus textos possuem elementos científicos, termos filosóficos e culturais. Isso faz com que seus versos exijam mais do leitor; porém, é nos desafios que somos verdadeiramente agraciados.


Contudo, vale ressaltar, a escrita de Augusto dos Anjos não deve ser confundida com a dos parnasianos, por exemplo, e nem com a dos simbolistas. Apesar de usar palavras mais incomuns e prezar pela métrica em alguns de seus textos, o autor passa longe do ideal de tais escolas literária. Em primeiro lugar a escrita do autor, apesar de ainda rebuscada, é muito mais próxima do leitor do que as dos parnasianos. Os temas tratados e a forma quase sepulcral da escrita também diferem totalmente das supracitadas escolas. Assim sendo, Augusto aproxima-se muito mais do modernismo do que das escolas anteriores. Isso, sem dúvidas, deixará seu texto mais aprazível para quem lê.


Quanto à edição da obra propriamente dita, tenho apenas elogios. Além de trazer a poesia completa do autor, ainda conta com um prefácio crítico perfeito. Para quem nunca leu nada de Augusto, ou até mesmo para quem já leu e quer se aprofundar, o texto ali contido é excelente. Temos uma visão da vida de dos Anjos e dos elementos que podem ter influenciado a sua escrita. Gullar também faz um estudo da obra, apresentado as principais características e mostrando o motivo do autor ser tão adorado. Ademais, a parte física está maravilhosa: temos folhas de papel pólen, uma fonte em bom tamanho e espaçamento adequado. A revisão e o trabalho com texto estão no nível José Olympio de qualidade: altíssimo.


Assim sendo, diante dos aspectos abordados no presente texto, resta-me indicar veementemente a obra. Leia! Augusto dos Anjos é essencial e deve estar na estante e nos corações de todos os leitores brasileiros.

Se você ficou curioso sobre a obra, deixo, abaixo, algumas poesias e trechos:

Psicologia de um vencido (p. 94)
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.


Trecho do texto Idealismo (p. 123)
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
– Alavanca desviada do seu fulcro –

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!


Trecho do texto Versos de Amor (p. 166)
Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.

Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!


Versos Íntimos (p. 179)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!





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