Título: O Papel de Parede Amarelo
Autora: Charlotte Perkins Gilman
Editora: José Olympio
ISBN: 9788503012720
Ano: 2016
Páginas: 112
Ano: 2016
Páginas: 112
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Sinopse:
Este clássico da literatura feminista foi publicado originalmente em 1892, mas continua atual em suas questões. Escrito pela norte-americana Charlotte Perkins Gilman, ele narra, em primeira pessoa, a história de uma mulher forçada ao confinamento por seu marido e médico, que pretende curá-la de uma depressão nervosa passageira. Proibida de fazer qualquer esforço físico e mental, a protagonista fica obcecada pela estampa do papel de parede do seu quarto e acaba enlouquecendo de vez. Charlotte Perkins Gilman participou ativamente da luta pelos direitos das mulheres em sua época e é a autora do clássico tratado Women and Economics, uma das bíblias no movimento feminista. Esta edição de O papel de parede amarelo, que chega às livrarias pela José Olympio, traz prefácio da filósofa Marcia Tiburi.
Resenha:
Quando peguei o diminuto livro O Papel de Parede Amarelo não imaginava uma leitura tão densa, profunda e perturbadora. Quem julga o livro pela capa e tamanho irá se enganar; a qualidade da obra é inversamente proporcional ao número de páginas. Com uma poesia e uma metáfora potente, Charlotte Perkins Gilman conquista e choca o leitor.
Nossa protagonista, supostamente, sofre dos nervos. Ela foi diagnosticada com propensão à histeria leve por seu marido e por seu irmão; sendo os dois médicos reconhecidos. Mesmo não concordando muito bem com os métodos de cura e com o diagnóstico, a protagonista resigna-se ao tratamento. Afinal, o marido dela é tão bom para ela e apenas quer o seu bem. Então, para que se trate, a protagonista, John – o marido – e Jennie – a irmã do cônjuge da protagonista – vão ficar por algum tempo em uma casa campo.
Contudo, nada nessa casa acontece como imaginado. Primeiro, a protagonista é obrigada a ficar em um quarto que não deseja, onde há um horroroso papel de parede amarelo. Depois, o marido a priva de companhias interessantes, pois ela precisa esvaziar a sua mente. Por fim, é obrigada a ficar no quarto, descansar e está proibida de escrever. Ela o faz apenas escondido, o que gerará o relato que temos em mãos. A pergunta que fica é: esse quase cárcere privado irá curá-la ou piorar a sua situação?
“Não sei por que escrevo isto. Não é algo que eu queria fazer. Não me sinto capaz. E sei que John acharia um absurdo. Mas tenho que expressar de alguma forma o que sinto e penso – é um alívio tão grande!” (p. 35).
Partindo dessa premissa, Gilman cria um conto profundo e que reflete sobre o papel que é imposto à mulher pela sociedade. Percebemos como as mulheres são obrigadas a se resignar ao lar, a apenas cumprir ordens e ser, praticamente, meras reprodutoras. Claramente, nossa protagonista quer romper com esse padrão, mas não consegue, visto que seu marido não permite. Ademais, ainda há a cunhada que se porta como uma perfeita “mulher do lar”. Mesmo que esta não comente em nenhum momento sobre o papel da mulher ou sobre a doença da protagonista, a mera presença constante é aterradora.
Além disso, a autora trabalhada com um recurso muito interessante durante o conto: a personificação do papel de parede. Ele parece ser metamórfico, adaptando-se sempre aos desejos e aos anseios da protagonista. O que parecia ter um padrão abstrato transforma-se em uma prisão da alma, das vontades, do desejo de ser diferente. No fim das contas, a protagonista vive através do papel de parede, já que é nele que ela se enxerga, se encontra.
Outro detalhe muito importante para a compreensão do texto é a percepção do leitor. O conto, claramente, possui diversas camadas. Dependerá do grau de leitura de quem desbrava a obra para construir o sentido do que está ali relatado. Você pode ler o conto como um realismo médico de cunho psicológico, pode entender como terror leve e psicológico ou pode ir mais profundamente e captar nos detalhes todas as críticas sociais.
“De todo modo, não estranho nem um pouco seu comportamento, depois de três meses dormindo sob esse papel.
O papel só interessa a mim, mas estou certa de que John e Jennie foram secretamente afetados por ele” (p. 62).
Quanto à parte física, não tenho o que reclamar. O texto é acompanhado por um material de apoio maravilhoso, contando com explicações históricas e uma possível interpretação do conto. Além disso, temos uma capa que reflete bem o que deve ser esperado da obra e uma diagramação muito confortável, proporcionando uma excelente leitura.
Em suma, O Papel de Parede Amareloé um conto denso, mas de escrita simples; as diversas camadas que possui permitem múltiplas interpretações, o que é genial. Por fim, é uma crítica sutil e inteligente, que deve ser lida por homens e mulheres. Sem dúvidas, mais do que recomendado.