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Resenha: Tropas Estelares

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Título: Tropas Estelares
Autor: Robert A. Heinlein
ISBN: 9788576572206
Editora: Aleph
Ano: 2015
Páginas: 364
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Sinopse:

Alistar-se no Exército foi a primeira – e talvez a última – escolha livre que Juan Rico pôde tomar ao sair da adolescência. Apesar do árduo e rigoroso treinamento pelo qual é obrigado a passar, o perseverante recruta está determinado a tornar-se um capitão de tropas. No acampamento militar, ele aprenderá a ser um soldado. Mas apenas ao final de seu treinamento, quando, enfim, a guerra chegar (e ela sempre chega), Rico saberá por que se tornou um. Vencedor do prêmio Hugo e um dos maiores clássicos da ficção científica mundial, Tropas estelares traz um enredo repleto de ação, tecnologia, superação de desafios, guerras espaciais e complexas relações políticas e humanas. A obra foi adaptada para o cinema pelo diretor Paul Verhoeven.

Resenha:

Inquietante é a palavra que define, em minha concepção, Tropas Estelares. Apesar de ser um livro de ação, a análise social contida na obra coloca o leitor para pensar e refletir sobre as convicções que possui, o que me deixou inquieto. Nesse misto de adrenalina e reflexão, Heinlein me ganhou por uma série de motivos. Confira tudo na resenha abaixo.

O jovem Rico está próximo a deixar de ser considerado um adolescente e de passar a ser um adulto. Nesta fase, ele tem a opção de se alistar nas forças armadas. Pela Constituição, ele não é obrigado; porém, caso queira, tem o direito de se alistar. A princípio, ele não tinha o menor interesse. Contudo, por ser impulsivo, acaba se deixando levar por um amigo e uma garota. Segundo o pai dele, Rico acabara de fazer a maior besteira possível em sua vida.


Ao ser aceito nas forças armadas, Rico acaba sendo destinado à infantaria. Definitivamente não era o que ele desejava, mas ele acaba se conformando. Aliás, se conforma até chegar à parte do treinamento. Quando o treinamento inicia, o protagonista começa a se questionar se o pai realmente não tinha razão. Afinal, correr por quilômetros, ficar noites sem dormir, “quicar” sempre que o general mandar e ser açoitado ao cometer uma infração não estava nos planos do protagonista.
“Mais uma coisa: isto é só uma incursão, não uma batalha. É uma demonstração de poder de fogo e terror. Nossa missão é deixar o inimigo saber que podíamos ter destruído a cidade deles, mas não destruímos, e que eles não estão seguros mesmo que a gente não use bombardeio total. Não façam prisioneiros. Matem apenas quando não puderem evitar. Mas toda a área que atingirmos é pra ser esmagada” (p. 14).
Para entender o futuro distópico baseado na ficção científica criado por Heinlein, é necessário compreender o conceito de cidadania. Dentro da estrutura política constituída, só é cidadão quem serviu por, ao menos, dois anos nas forças armadas; os demais são apenas civis. Ou seja, quem não serve não pode votar, não pode participar das decisões políticas e nem se candidatar, mas tem todos os outros direitos dos demais cidadãos: saúde, educação, liberdade e outros. Aliás, na obra os direitos são sim colocados em prática, diferente do que acontece atualmente.

Isso se dá porque o conceito de cidadania, nessa sociedade, é: colocar o direito, segurança e liberdade de todos acima da sua. Desta forma, você só é cidadão se estiver disposto a morrer para garantir a segurança da comunidade; você pode votar se estiver disposto a lutar por dias sem dormir, se preciso, para garantir a liberdade do grupo. Como se pode fazer isso? Nas forças armadas.


Esclarecendo esse conceito, é possível pensar a obra de Heinlein é um nível acima de uma mera ficção. A obra permite pensar discutir o conceito de cidadania, dos direitos dos cidadãos e, principalmente, de até onde o governo pode ou deve ir para garantir o bem comum. Além disso, também é possível observar as demais relações políticas, no âmbito do poder, e sociais, no âmbito do status.
“(...) serviço militar é para formigas. Pode ter certeza. Vejo como eles vão e vejo como voltam... Se é que voltam. Veja o que fazem com eles. E pra quê? Por um privilégio político puramente nominal que não vale um centavo e que, de qualquer forma, a maioria não sabe usar bem” (p. 51).
Apesar de toda essa parte teórica e crítica, a obra se desenvolve em um ritmo relativamente fluído. Digo relativamente porque temos picos de adrenalina nas batalhas e momentos mais lentos, onde são explicadas as relações sociais, a hierarquia militar e a relação diplomática da humanidade com outras raças alienígenas inteligentes. Ou seja, se pensar de maneira geral, a obra é equilibrada, apesar de haver momentos bem mais lentos.

Além de construir uma estrutura narrativa muito boa, Heinlein também merece parabéns pela qualidade de seus personagens. Eles são profundos, inteligentes e refletem muito bem a estrutura social do período. Ou seja, através deles também podemos verificar como “seres daquele tempo” pensariam e agiriam.


Outro ponto que merece destaque é a construção do enredo na área militar. O autor consegue apresentar bem as hierarquias, as funções e, principalmente, as batalhas. Aliás, que batalhas! Bem construídas, tecnológicas e muito estratégicas, elas nos deixam vidrados. Por mim, poderia até ter mais delas.
“– Acabei de receber minhas ordens.– Para quê?– Infantaria Móvel.Seu rosto se partiu num grande sorriso de felicidade, e sua mão agarrou a minha.– Minha unidade! Aperte aqui, filho! Vamos fazer de você um homem... Ou te matar tentando. Quem sabe os dois” (p. 60).
Se o enredo é muito bom, a parte física também o é. A capa é bonita e, apesar de parecer meio nebulosa no princípio, faz todo sentido após a leitura da obra. O livro também conta com uma boa revisão e tradução. A diagramação, por sua vez, está simples, mas bem confortável.

Diante de todos os aspectos, me resta apenas indicar a obra. Tropas Estelaresé um livro que merece ser lido. Mesmo eu não concordando com todos os posicionamentos filosóficos do autor, considero a obra um dos expoentes dentre as boas obras clássicas de ficção científica.






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