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Resenha: Foe

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Título: Foe
Autor: J. M. Coetzee
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535926927
Ano: 
2016
Páginas: 
144
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Sinopse:

Neste clássico contemporâneo, o prêmio Nobel J. M. Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé. No início do século XVIII, Susan Barton se vê à deriva após o navio em que viajava ser palco de um motim. Ao desembarcar numa ilha, encontra abrigo ao lado de seus únicos habitantes- um homem chamado Cruso e seu escravo Sexta-feira. Um ano depois, eles são resgatados por um navio, mas apenas Susan e Sexta-feira sobrevivem à viagem. Determinada a contar sua história, Susan busca um famoso escritor, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva sobre sua experiência na ilha. Traiçoeiro, elegante e inesperadamente lírico, Foe é uma das obras mais complexas na carreira de um mestre absoluto da literatura.

Resenha:

Ao voltar do Brasil, o navio em que Susan Barton estava sofre uma rebelião. Com o ocorrido, os revoltosos a deixam à deriva para que tentasse a própria sorte. Por sorte, ela acaba indo parar em uma ilha habitada. Lá moravam dois homens; Cruso e Sexta-feira. O primeiro, um senhor; o segundo, o servo. O primeiro pode falar, tem sua própria história – apesar de preferir não mencioná-la; o segundo está preso a si mesmo por razões físicas.

Na ilha, Susan convive harmoniosamente, ao menos na maior parte do tempo, com os dois. Também aproveita o tempo livre para tentar descobrir o que aconteceu com esses dois homens e o porquê deles terem certas atitudes. Ademais, preocupa-se excessivamente em não ficar presa naquela ilha por muito tempo. Ela deseja ser salva, voltar ao seu mundo e levar os dois homens com ela. Entretanto, nem tudo sairá conforme o esperado.


Um navio acaba atracando nas proximidades e salvando o trio. Contudo, Cruso está muito debilitado e não resiste à viagem. À Europa, chegam apenas Susan e Sexta-feira. Então, os problemas acabam se agravando. Afinal, eles estão em um lugar onde tudo é movido a dinheiro e não possuem qualquer sustento. Para sobreviver, Susan resolve vender a única coisa que tem: sua história. Daniel Foe será o comprador.
“O coração do homem é uma floresta escura – esse é um dos ditados que circulam no Brasil” (p. 12).
Partindo da premissa anteriormente relatada, Coetzee cria um enredo profundo, instigante e muito poético. Essa é uma daquelas obras que precisamos estar atentos aos detalhes; afinal, nem tudo é realmente o que parece. Como o leitor é refém dos olhos de Susan, muitas vezes suas lembranças e opiniões se misturam e permeiam a obra de uma maneira que é quase impossível definir o que realmente é real, o que é criação e o que é metafórico.

 Além do bom enredo, o leitor é premiado com uma escrita maravilhosa. Muito bem trabalhada, o livro consegue envolver quem lê, mesmo quando praticamente nada está acontecendo – algo que não é incomum na obra. O livro não é apenas um enredo, um apanhado de fatos; Coetzee os costura com o brilhantismo de quem sabe o que está fazendo. Ele permeia toda a sua obra com uma beleza complexa, com uma poesia intrincada e bem construída.


Os personagens também merecem destaque pela excelente construção. O autor preza pelo aprofundamento psicológico e pela construção complexa. Eles são dúbios, humanos, imprecisos, o que os deixa mais verossimilhantes. Na obra, pouca certeza há. É no incerto que a beleza reside. Há muitas possibilidades, muita coisa pode ter acontecido no passado de cada um. A dúvida é que faz a união dos núcleos narrativos ser tão profunda.
“‘Se a Providência fosse cuidar de todos nós’, disse Cruso, ‘quem restaria para colher o algodão e cortar a cana-de-açúcar? Para os negócios do mundo prosperarem, a Providência deve às vezes acordar e às vezes dormir, como fazem as criaturas inferiores’” (p. 24).
Quanto à parte física, não há o que reclamar. A capa é bonita e segue o padrão de publicação de outros livros do autor pela Companhia das Letras. A diagramação é simples, mas confortável, cumprindo seu objetivo. A revisão e tradução são perfeitas, como já é comum nos livros da editora. 

Em suma, Foeé uma obra bela, profunda e complexa. Não possui grandes reviravoltas e muitas certezas, o que pode irritar alguns leitores. Contudo, para quem busca um livro inteligente e que fuja de padrões pré-formatados da indústria cultural, esse título é uma excelente opção.




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