Título: Correspondente de Guerra
Autores: Diego Schelp e André Liohn
Editora: Contexto
ISBN: 9788572449557
Ano: 2016
Páginas: 240
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Sinopse:
O correspondente de guerra quer estar naquele exato lugar de onde muitos estão fugindo. Entretanto, nunca foi tão perigoso buscar notícia em meio a um conflito quanto neste início de século. O que faz alguém se enfiar em uma guerra, consciente dos riscos envolvidos, apenas para contar uma história? Como a internet e os celulares mudaram a maneira que os acontecimentos nos rincões impenetráveis e conflagrados do planeta chegam ao grande público? O jornalista Diogo Schelp e o experiente fotógrafo de guerra André Liohn se reuniram para responder a essas perguntas em um livro cheio de revelações, histórias emocionantes e fotos de impacto. Em formato especial, o livro possui um caderno 4 cores com dezenas de fotos impactantes.
Resenha:
Correspondente de Guerra, obra jornalística de Diego Schelp e André Liohn, é um livro que vai além do esperado. Não que eu imaginasse um livro ruim, porém, esperava um livro apenas memorialista. Contudo, o que encontramos aqui vai bem além do que um relato de experiências: temos também uma parte teórica forte e inteligente, que dá uma base de sustentação importante para a obra.
Aliás, é com essa base que o livro é aberto. A presente obra é dividida em três tomos: o primeiro, escrita por Schelp, dá uma visão do universo da guerra para o jornalista; o segundo, escrito por Liohn, abrange a parte mais pessoal e memorialista, partindo da vivência do escritor. O terceiro é um apanhado de fotos belas e chocantes que retratam o horror da guerra.
A primeira parte da obra, nomeada de Os Jornalistas e as Guerras, é a espinha dorsal do trabalho. É ela quem permite um aprofundamento no ambiente jornalístico e no entendimento do motivo da importância da cobertura das guerras. O autor relata os tipos de guerra, os modos de cobertura, as diferenças das coberturas jornalísticas nos mais diversos períodos bélicos da história mundial e muito mais. Isso deixa a obra mais interessante e mais acadêmica, fugindo apenas de relatos soltos sobre experiências, algo que não é difícil de encontrar no mercado editorial.
“Quando a Grande Guerra estourou na Europa, em 1914, os governos dos países envolvidos – e especialmente suas forças armadas – já tinham a exata noção do incômodo que era ter jornalistas circulando livremente entre os acampamentos militares e tentado se aproximar da linha de frente. O que eles contavam aos cidadãos em seus países de origem podia expor a incompetência dos generais, a desorganização de seus governos, as péssimas condições em que os soldados precisavam lutar e os abusos contra prisioneiros e civis” (p. 31).
Apesar de parte primeira ser mais acadêmica, possui uma escrita fácil, direta, descomplicada. Ademais, como o tema é interessante, o trecho não fica enfadonho. Mesmo quem não é da área jornalística – meu caso – conseguirá entender bem o conteúdo e se envolver com a leitura. Sem falar que o relato é algo que deveria ser de conhecimento de todos, pois permite que se conheçam melhor os bastidores das guerras.
A segunda parte da obra, por sua vez, complementa a primeira. Isso acontece porque, no segundo momento, temos uma narrativa mais pessoal, mais voltada para as memórias. Se na primeira parte entendemos a teoria, na segunda ver-se-ão os perigos da prática. Aliás, um aviso ao leitor: a verdade choca. Os perigos que os profissionais da impressa enfrentam – sequestros, morte por bombas, estilhaços, balas, assassinatos e outros – para produzir sua visão de um fato são assustadores. Não raro o leitor é levado a se comover com os acontecimentos relatados.
A leitura da segunda parte flui ainda mais rapidamente do que a da primeira. Isso se deve por causa da narrativa pessoal, próxima de uma conversa. A escrita lembra muito uma troca de experiências, o que é envolvente. Ademais, saber que tudo ali relatado é real ajuda no processo de envolvimento emocional com o livro.
“Pergunte a qualquer jornalista com experiência em coberturas de guerra nos anos posteriores aos atentados de 2001 nos Estados Unidos sobre seu maior medo no exercício da profissão, e há uma grande chance de que responda que não é ser atingido por uma bomba, uma bala ou por estilhaços. Ele ou ela lhe dirá que ser sequestrado é o seu maior temor” (p. 45).
A terceira parte, por sua vez, é espetacular. Se as emoções são evocadas no relato de Liohn, neste último momento elas se condensam em imagens belas, mas que beiram ao bárbaro. A habilidade de pegar o ângulo perfeito mesmo nos momentos mais conturbados é impressionante. É impossível ficar indiferente diante de tais relatos visuais.
Quanto à parte física, restam-me também apenas elogios ao livro. A capa é chamativa e já apresenta bem a premissa que será encontrada na obra. A diagramação, por sua vez, é belíssima. Há mapas, fotos coloridas e um material de apoio excelente. Sem dúvidas, temos todos os elementos para uma leitura completamente satisfatória.
Em suma, Correspondente de Guerraé um jornalístico com embasamento teórico interessante, mas que também se aproveita do relato pessoal para envolver o leitor. Além disso, a sua parte física é um grande diferencial para quem lê. Sem dúvidas, uma leitura indispensável para quem se interessa pelo tema.