Título: Mr. Mercedes
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9788556510020
Ano: 2016
Páginas: 400
Ano: 2016
Páginas: 400
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Sinopse:
Nas frigidas madrugadas, em uma angustiante cidade do Centro-Oeste, centenas de pessoas desempregadas estão na fila para uma vaga numa feira de empregos. Sem qualquer aviso um motorista solitário irrompe no meio da multidão em um Mercedes roubado, atropelando os inocentes, dando ré e voltando a atropelá-los. Oito pessoas são mortas, quinze feridos.
Em outra parte da cidade, meses mais tarde, um policial aposentado chamado Bill Hodges é ainda assombrado por um crime sem solução. Quando ele recebe uma carta enlouquecida de alguém que se auto-identifica como privilegiado e ameaça um ataque ainda mais diabólico, Hodges acorda de sua deprimente e vaga aposentadoria, empenhado em evitar outra tragédia.
Brady Hartfield vive com sua mãe alcoólatra na casa onde ele nasceu. Ele adorou a sensação de morte sob as rodas da Mercedes, e ele quer aquela corrida de novo. Apenas Bill Hodges, com um par de aliados altamente improváveis, pode prender o assassino antes que ele ataque novamente. E eles não têm tempo a perder, porque na próxima missão de Brady, se for bem sucedido, vai matar ou mutilar milhares.
Mr. Mercedes é uma guerra entre o bem e o mau, do mestre do suspense, cuja visão sobre a mente deste obcecado assassino insano é arrepiante e inesquecível.
Resenha:
Mr. Mercedestinha tudo para ser ruim, previsível e clichê. A premissa não é tão surpreendente, afinal, a luta do bem contra o mal é presente em praticamente todos os livros. Contudo, quando um mestre escreve, mesmo a premissa mais comum pode ser tornar de alto nível. E esse é o caso. Em Mr. Mercedes, o surpreendente não é a trama, mas o que Stephen King consegue fazer com ela. Criar algo bom a partir do lugar comum é para poucos.
Na presente obra, temos basicamente dois grupos narrativos. Do lado dos mocinhos temos Hodges: policial aposentado, acima do peso, com problemas para aceitar a inatividade após anos de serviço, com desejos suicidas. Junto a ele, acabamos conhecendo outros heróis, como Holly, Janelle e Jerome. O investigador, a princípio, não é nada surpreendente. Ao contrário, parece uma figura típica de filmes americanos. Porém, aí King entra com seu poder de transformar o comum no genial. Com um aprofundamento psicológico surpreendente, vamos além dessa casca, encontrando um homem com anseios, dúvidas, mas ainda com muita lenha para queimar.
No polo sombrio da obra, temos Brady. A princípio, também mais uma caricatura de livros policiais: um homem solitário, com uma infância difícil, uma mãe alcoólatra e que desenvolveu certo tipo de impulso sociopata. Clichê? Sim. Contudo, novamente, King entra em ação. Temos novamente um desenvolvimento psicológico forte, indo além de um simples transtornado querendo destruir o mundo. Entendemos com precisão os motivos de Brady: sua violência, seus transtornos, o fato de jogar um carro e matar diversas pessoas, nada disso é gratuito.
“Tenho certeza de que você fez “o melhor que pôde”, mas infelizmente (para você, não para mim) você falho. Imagino se já houve um “bendito” que você quis pegar, Detetive Hodges, foi o homem que dirigiu deliberadamente para cima da multidão na fila para a Feira de Empregos no City Center no ano passado, matando oito e ferindo muitos mais. (Devo dizer que superei até minhas maiores expectativas.) Era em mim em quem você estava pensando quando lhe deram aquela placa na Cerimônia Oficial de Aposentadoria?” (p. 27).
Ou seja, King parte do que seria apenas mais um livro de suspense e o transforma em um ótimo livro de suspense, com direito a um final eletrizante e cheio de surpresas, mesmo o leitor sabendo, desde o princípio, quem é o vilão e quem é o mocinho. O quesito psicológico e o apoio em personagens secundários são fundamentais para essa surpresa e esse efeito de novidade. Sem eles, dificilmente isso seria possível.
Ademais, outro ponto que contribui para que a obra seja acima da média é a retirada da pose de herói das costas de Hodges. Em livros policiais, em geral, os investigadores são quase deuses: eles podem tudo, deduzem tudo, vencem tudo. Nesta obra, não funciona assim. Nosso protagonista possui limitações físicas, de conhecimento tecnológico e tem restrições de ação. Além disso, não tem um ego exacerbado; sabe que precisa dos outros e solicita ajuda. Isso deixa a obra mais palpável, mais verossimilhante.
Outro ponto que merece destaque é a escrita do autor. Em muitos dos seus livros, King aposta em uma escrita mais cadenciada, detalhista. Nesta obra, o autor modifica a sua escrita para se adaptar ao gênero suspense. Com isso, a trama passa a ser mais veloz, mesmo nos momentos de aprofundamento psicológico. As descrições são ótimas, mas menos detalhistas, conferindo agilidade à leitura. Isso deixa o livro mais envolvente para um público maior.
“Hodges leu que há poços tão fundos na Islândia que você pode jogar uma pedra lá dentro e nunca ouvir o barulho dela batendo na água. Ele acha que algumas almas humanas são assim” (p. 34).
Quanto à parte física, devo apenas elogiar o trabalho da Suma de Letras. A capa é maravilhosa e possui diversos elementos que remetem aos personagens do livro. A diagramação é simples, mas muito confortável. A revisão e diagramação estão muito boas, algo que já é comum nos trabalhos da editora. Ou seja, tudo contribui para uma boa leitura.
Em Suma, Mr. Mercedesé um livro que surpreende pela profundidade acima da média e pelo bom trato dado ao lado psicológico dos personagens. Pode não ser o melhor livro do King, mas é, sem dúvidas, um thriller exemplar e que merece ser lido.