Título: O Sol Develado
Autor: Isaac Asimov
Editora:Aleph
ISBN:9788576571667
Ano:2014
Páginas:288
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Sinopse:
Após as reviravoltas de sua última missão, o detetive Elijah Baley é recrutado para investigar um caso de assassinato aparentemente insolúvel. Obrigado a enfrentar sua fobia de espaços, ele viaja até Solaria, um planeta Sideral de apenas 20 mil habitantes, mas onde cada ser humano dispõe de um contingente de 10 mil robôs positrônicos para lhe servir.
Volume anterior: As cavernas de aço
Resenha:
Esse texto não possui spoiler da obra anterior
Depois da última missão, o inimaginável acontece com Baley: ele é convocado para investigar mais um assassinato. Contudo, dessa vez, em um planeta Sideral. Se estar com um sideral é ruim, imagine ficar em seu planeta. Pior: por lá, há apenas 20.000 humanos. As extensas propriedades, que chegam a medir quilômetros, abrigam uma ou duas pessoas. Isso torna o caso complexo? Então tem mais: lá as pessoas não se veem pessoalmente, não se tocam, não se aproximam. Isso é considerado um ato inferior, quase “animalesco”. Toda comunicação é feita a distância, através de vídeo chamadas.
Como descobrir um assassino em uma sociedade onde as pessoas não se tocam e onde você pode andar quilômetros sem ver ninguém? Como fazer uma investigação de verdade sem quebrar as regras de etiqueta de uma sociedade tão diferente? É isso que Baley precisa descobrir.
Partindo dessa premissa, Asimov volta a brincar com as três leis da robótica, que são: 1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei. 3. Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. As leis, que na teoria são perfeitas, mostram falhas. E são dessas falhas que nascem os crimes e os assassinatos, tornando todo o livro incrivelmente lógico, inteligente e envolvente.
“Um detetive é um sociólogo também; um sociólogo por uma questão de experiência e de prática, caso contrário não seria um bom detetive”.
Apesar de ter uma premissa parecida com o livro anterior, O Sol Desvelado mostra-se bem superior ao livro As Cavernas de Aço. Isso porque, na presente obra, temos um maior dimensionado das questões políticas e sociais. O autor mostra, de maneira bem inteligente, que mesmo numa sociedade aparentemente perfeita, a ganância pode motivar lutas internas e que desenrolar problemas inimagináveis. Ademais, ainda há um diálogo sutil, mas inteligente, com o pensamento da luta de classes¹.
Além dos aspectos sociológicos, o que mais me chamou a atenção na obra foi a perspectiva filosófica que ela permite empreender. O que Baley alcança no presente livro me parece análogo ao que Platão relata em o mito da caverna². Na primeira obra, o protagonista ainda está preso em suas cavernas de aço, com um pensamento limitado, com uma visão turva da realidade. Na segunda obra, o brilho do Sol lhe permite ver além; faz com que ele passe a enxergar não apenas sobras, mas a realidade como ela é. Isso faz com que o leitor reflita sobre diversos aspectos em sua realidade, além de proporcionar um amadurecimento extraordinário ao protagonista.
Um detalhe importante é a importância de uma leitura não anacrônica. Devido ao autor ter escrito a obra há muito e ter tentado acertar o futuro, alguns aspectos parecem um tanto deslocados diante da nossa visão atual. Contudo, se pensarmos na perspectiva da época, tudo faz muito sentido e o livro merece todo o destaque que sempre recebeu. Dos trabalhos do autor, talvez a série Fundação seja a mais atemporal, já que brinca sempre com os aspectos sociológicos da busca do poder.
“Estava a ponto de descobrir algo. Poderia não ser muita coisa, mas era o tipo de investigação que ele sabia fazer bem. Algo que ele sabia fazer bem o suficiente para ser chamado ao outro lado do universo para fazer”.
Além do bom enredo, a obra também merece destaque pela excelente parte física. O livro possui uma capa bonita e que reflete bem o ar futurista que encontraremos no enredo. A diagramação também é muito boa: objetiva e confortável. A tradução e revisão estão excelentes, como é padrão da Aleph. Desta forma, tudo contribui para uma boa leitura da obra.
Em suma, o que se pode se esperar da obra é uma sequência bem superior ao livro anterior, com um excelente aprofundamento sociológico e uma questão filosófica latente. Apesar de alguns pontos que parecem não encaixar, devido ao tempo em que a obra foi escrita, a leitura ainda é mais do que recomendada.
Notas:
1. Luta de classes é um fenômeno social que prevê um antagonismo entre pessoas de diferentes classes sociais, onde cada uma das classes buscará seus próprios interesses. A luta perpassa os campos econômicos, políticos, sociais e históricos. Karl Marx foi um dos principais pensadores da teoria. Para saber mais sobre, desbrave os livros O Capital ou Manifesto do Partido Comunista.
2. Mito da Caverna pode ser encontrado no livro VII da obra A República, escrita por Platão. O mito mostra a libertação da “escuridão”. Para saber mais sobre, desbrave o livro A República.