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Resenha: Pensando bem...

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Título: Pensando bem...
Autor: Hélio Schwartsman
Editora: Contexto
ISBN: 9788572449663
Ano: 2016
Páginas: 304
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Sinopse:

Este é um livro necessário, especialmente quando pululam nas redes sociais “sábios” com respostas prontas para todos os problemas do país e do mundo, com base em fé ideológica, religiosa ou de qualquer outra espécie. Hélio Schwartsman, filósofo e jornalista da Folha de S. Paulo, não tem, é claro, todas as respostas, mas formula perguntas com muita perspicácia. Em seus textos reunidos especialmente para este livro, ele trata de liberdade, religião, história, política, violência, comportamento, educação e ciência. Ler Hélio Schwartsman é uma experiência única: ninguém sai da leitura da mesma forma como entrou.

Resenha:

Até iniciar a leitura, confesso que eu não conhecia o Schwartsman. Contudo, sua escrita me ganhou logo nas primeiras páginas. O motivo é simples: adoro livros de filosofia ou de outras ciências humanas que trazem questionamentos. Felizmente, Pensando Bem... faz parte desse grupo. Levando em conta a grande quantidade de obras no mercado editorial que trazem respostas definitivas, essa obra se torna um alívio para o leitor que gosta de questionar e manter a mente aberta para múltiplas possibilidades.

Dentro da obra, Hélio desbrava os seguintes temas: religião, educação, ciência, política, comportamento, história, violência e liberdade. Todos eles são assuntos atuais, com grande influência na vida dos cidadãos e que precisam ser pensados e repensados. Afinal, quem nunca encontrou, no cotidiano, um caso de racismo? E situações onde a religião – leia-se líderes religiosos – tenta influenciar na política? A violência é ou não é uma constante na nossa sociedade? A liberdade, como imaginamos, realmente existe? Você pode encontrar possíveis respostas para esse questionamento na presente obra.


Dentre todos os temas, a abordagem que mais agradou-me foi a da religião, visto que é um assunto complexo de ser discutido, principalmente levando em conta apenas o lado racional. Não concordo com todos os posicionamentos do autor, obviamente – esse é o princípio de uma sociedade democrática e livre –, mas alguns pontos levantados por ele me pareceram perfeitamente pertinentes. O primeiro é a maioria de nós é descrente ou ateu, mesmo os religiosos. Se não se é um ateu completo – em relação a todos os deuses –, é ateu em relação ao deus da religião vizinha. O que leva também a questionar qual a real diferença entre acreditar em Zeus, Hórus, Shiva, Yahweh e as centenas de outros deuses existentes.
“A religião é um fenômeno fascinante. É uma das poucas coisas que faz homens adultos e normalmente inteligentes se comportarem como crianças à espera de Papai Noel. E isso é só parte da história. Ela também é uma força que pode atuar tanto benignamente, proporcionando conforto e bem-estar aos que nela creem, como de um modo particularmente maligno, motivando massacres e atos terroristas. Numa linguagem mais científica, pode ser descrita como um sistema de crenças que um dia favoreceu a coesão social e agiu como elemento de motivação do grupo. Em sociedades mais complexas, além do bônus, aparecem também os ônus. Seja o que for, é algo sobre o que vale a pena refletir” (p. 55).
Vale lembrar que os religiosos podem ficar tranquilos, Hélio não entra no mérito se deuses existem ou não, afinal, eles são uma possibilidade. O que ele questiona são alguns preceitos tomados como verdades absolutas que são um tanto frágeis. Além disso, entra no mérito de assuntos menos divinos, como a necessidade de igrejas pagarem impostos, a má fé ou desconhecimento de alguns religiosos ao se referirem a assuntos científicos e a questão da moral religiosa que tentam impor à sociedade.

Outro ponto abordado pelo autor e que merece bastante destaque é o da política. Schwartsman não balança diante de assuntos polêmicos, questionando verdades absolutas da direita e da esquerda – aliás, está aí uma semelhança entre os fanáticos religiosos e os fanáticos ideológicos: as verdades imutáveis. O autor mostra pontos a serem levados em consideração nas diversas teorias políticas, além questionar certas defesas – muitas vezes contraditórias – que grupos políticos fazem.


A violência, um assunto que tem total relação com a política e também com a religião – afinal, o que não faltam na história são regimes políticos e religiosos genocidas –, também foi muito bem abordado. O autor questiona afirmações da direita e da esquerda, quando aquela diz que a violência é “caso de polícia”, e esta ao dizer que é “fruto das desigualdades”. Novamente, o autor não crava a resposta transcendental, mas mostra como a verdade pode ser um pouco mais profunda do que simples determinismos.
“O aborto é moralmente justificável? Esqueça essa pergunta. Não chegaremos tão cedo a um consenso. Proponho, então, analisar a questão sob outro ângulo: mulheres que abortam voluntariamente merecem ir para a cadeia?” (p. 19).
Além dos muitos assuntos tratados e dos textos em linguagem acessível, a obra também chama a atenção pela boa parte física. A capa é bonita, moderna e tem total relação com o assunto do livro. A diagramação, por sua vez, é bem confortável, propiciando uma boa leitura. A revisão está perfeita, como é padrão da editora Contexto.

Em suma, Pensando bem...é um excelente livro para quem quer pensar e ter suas posições filosóficas, sociais e ideológicas questionadas. Dificilmente você concordará com tudo ou terá todas as respostas para os questionamentos levantados, mas esse é o interessante das ciências humanas, como a filosofia e a sociologia: o importante é que as perguntas estejam corretas. Sem dúvidas, obra recomendada.
  



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