Título: O Filho da Feiticeira
Autora: Kelly Barnhill
Editora: Galera Junior
ISBN: 9788501105219
Ano: 2016
Páginas: 308
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Sinopse:
Para leitores de fantasia, “O filho da feiticeira” traz a típica jornada do herói
De um menino desvalorizado em sua aldeia até a única esperança de todo o seu mundo, Ned já se acostumou ao seu apelido: o garoto errado. Desde que nasceram, foi sempre o irmão gêmeo, Tam, a estrela da aldeia; o mais habilidoso e querido. Quando decidem construir uma balsa para encontrar o mar, um plano que sai pela culatra, Ned se torna mais que o garoto errado: se torna o único. Agora, Ned é visto como um pária. No entanto, numa reviravolta, ele se transforma no único capaz de impedir que a magia caia nas mãos do ambicioso Rei dos Bandidos. E, para isso, arruma uma insuspeita aliada: Áine, a filha do ladrão. E eles terão de aprender a confiar um no outro se quiserem impedir uma guerra entre dois reinos há muito separados...
Resenha:
Ned não foi sempre filho único; ele tinha um gêmeo. Aliás, ele tinha um maravilhoso irmão. Talentoso, querido, simpático: Tam era a estrela da aldeia onde os garotos moravam. Contudo, quando um acidente de barco acontece, o pai das crianças consegue salvar apenas um dos garotos: Ned, o garoto errado. Todos afirmam isso, sem parar, sem peso na consciência. O pai salvou o garoto errado. Ninguém desejava Ted; a aldeia preferia que Tam estivesse vivo. Viver à sombra do irmão é difícil; viver à sombra de um irmão falecido é ainda mais.
A mãe do garoto é uma feiticeira. Porém, não pense em uma mulher desgrenhada, feia, nariguda e com uma enorme verruga na ponta do nariz. A mãe de Ned não é assim. Ao contrário, ela é uma pessoa normal e ainda usa a magia para o bem, o que incomoda muita gente. Ela é poderosíssima, uma verdadeira heroína. Quando a rainha visita a aldeia e acaba perto da morte, a feiticeira mostra a sua bondade e valor. Contudo, isso mudaria tudo na vida de sua família.
Algum tempo depois, a feiticeira tem que se ausentar. A magia fica guardada em um pote, na casa dela, tendo Ned, o garoto franzino e um tanto medroso, como guardião. Vendo assim a oportunidade perfeita, o Rei dos Bandidos resolve que esse é o momento de roubar a magia e fazer o certo com ela: muitas maldades. Nesse momento, só resta uma pessoa que pode impedir que o bandido ponha a mão em tamanho poder: Ned. Como companheira para salvar o mundo, ele tem a sua improvável, mas verdadeira amiga: Áine, a filha do bandido. Juntos, eles precisarão salvar o dia.
“– Ele salvou o errado. O garoto errado sobreviveu” (p. 10).
O Filho da Feiticeiraé um livro juvenil e que já deixa, desde a sinopse, claro qual é o seu objetivo. Em um mercado editorial onde muitas editoras trapaceiam para vender, achei maravilhosa a atitude da Galera ao anunciar, já no texto de entrada, que se trata de uma releitura da jornada do herói. Isso evita que o leitor se engane e saia decepcionado com o que encontrará nas páginas. Só aí o livro já ganhou muitos pontos comigo.
Em relação à trama, ela não surpreende, ao menos não um leitor mais maduro e experimentado no gênero fantástico. Como muito bem diz a sinopse, trata-se da típica jornada no herói. Contudo, como o livro é voltado para o público jovem, É fato que a autora se saiu muito bem no que pretendeu. Usando o melhor do estilo e acrescentando algumas características a sua maneira, ela constrói uma obra convincente e que tem tudo para agradar os leitores mais novos.
Os personagens, como já é comum em livros do gênero, não são muito aprofundados. Conhecemos seus medos e anseios até certo ponto, o suficiente para criar uma trama interessante, mas sem muito aprofundamento psicológico, o que poderia deixar o livro enfadonho para quem está começando no mundo das palavras. Contudo, se falta profundidade, sobra carisma. Kelly Barnhill cria dois heróis improváveis, mas que se assemelham muito com crianças reais, além de conseguirem envolver e divertir o leitor.
“E assim Ned cresceu. O garoto errado, dizia a aldeia. O garoto errado, dizia o mundo. Ano após ano. E Ned acreditou” (p. 20).
A linguagem utilizada na obra é simples e direta, perfeita para uma boa compreensão de texto por parte de leitores de qualquer idade. Contudo, vale um elogio: Kelly sabe a diferença de um texto simples e de um texto fraco. A sua escrita é muito boa, mesmo sem contar com uma alta elaboração e frases mais complexas. Isso, sem dúvida, faz toda diferença quando um leitor mais velho se propõe a desbravar a obra.
Em relação à parte física, não tenho o que reclamar. A capa é muito bonita e reflete bem o enredo do livro. A diagramação é simples, mas bem confortável, propiciando uma ótima leitura. A tradução e a revisão foram bem-feitas, corroborando para que a leitura seja agradável.
Em suma, O Filho da Feiticeiraé uma obra que não surpreende os leitores mais experimentados, mas que certamente envolverá os pequeninos. Os personagens cativantes e a boa escrita são o ponto alto; a previsibilidade, um efeito esperado da utilização da “jornada do herói”. Ainda assim, uma obra recomendada.
“– O que vai fazer, filho da Feiticeira? Chutar nossos calcanhares? Vai nos desafiar para uma guerra de palavras? Brincar de pique-pega? Parece que você é um rato numa ratoeira, garoto. – O Rei dos Bandidos inclinou a cabeça para trás e uivou, e os outros bandidos uivaram com ele; um grito enorme, zombeteiro, aterrorizante. – Um rato numa ratoeira” (p. 65).