Título: Investigação Olímpica
Autor: Fernando Perdigão
Editora: Oito e Meio
ISBN: 9788555470219
Ano: 2016
Páginas: 258
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Sinopse:
O gordo, mal humorado e politicamente incorreto, o detetive Andrade, em sua mais nova aventura, é convidado a trabalhar em Olimpíadas fictícias que se desenrolam no Rio de Janeiro. Ele desconfia de uma série de mortes de atletas estrangeiros – por motivos fúteis como intoxicação alimentar ou a picada de uma espécie de vespa inexiste no Brasil – e passa a investigar as ocorrências contra a vontade de seus superiores, chegando a um desfecho imprevisível e cômico.
O novo livro segue o ritmo do primeiro da série – A pedido do embaixador (Record, 2015) – e o protagonista continua em sua melhor forma, criticando e fazendo observações e piadas inconvenientes sobre tudo e todos. Lurdes, a assistente lésbica está mais feminina e não menos eficiente. Suely, a namorada, se revela ciumenta de seu ‘ursão’. Dó, a empregada, continua seus embates com o patrão, que faz o que pode para atrapalhar sua rotina de cuidar da casa.
Investigação olímpica é um livro envolvente que deixa saudade. O plano é que, em breve, chegue às telas em formato de seriado.
Fernando Perdigão é escritor e roteirista. É autor do livro de contos de humor Clínica moderna (Salamandra) e do romance policial A pedido do embaixador (Record), primeiro da série de aventuras do detetive Andrade.
Resenha anterior:
A Pedido do Embaixador (Os livros são da mesma série, mas independentes)
Resenha:
As Olimpíadas do Rio estão chegando e é necessária uma força policial presente para que seja evitado o pior. Nas ruas, a polícia e o exército farão a segurança. Porém, e dentro da Vila dos Atletas, o escolhido é o detetive Andrade. Entre muitas reclamações e intempéries, o intrépido Andrade mostrará porque é conhecido como um dos melhores detetives do Rio de Janeiro.
Os problemas na Vila são muitos. Brigas entre atletas, um ou outro osso quebrado, roubo de passaporte... até que algo mais grave acontece e Andrade, enfim, precisa mostrar porque foi escolhido para aquele cargo. Entre muitas confusões, ele e Lurdes, sua assistente, mostrarão a verdadeira face da polícia brasileira.
Partindo dessa premissa, Perdigão cria um enredo envolvente, rápido e que brinca com as múltiplas possibilidades que a Olimpíada no Rio de Janeiro poderia causar. Com sua visão afiada para descobrir crimes – ao menos Andrade acredita nisso – e algumas suposições aparentemente descabidas – o que é a marca do comissário –, vamos acompanhar uma divertida investigação nas terras olímpicas cariocas.
“Aos ouvidos de Andrade, a palavra comissário sempre sugeria um deboche burocrático a quem dedicava a vida a investigar criminosos. Era um detetive. Detetive!” (p. 7).
Investigação Olímpicamantém o mesmo estilo do livro anterior, apresentando uma escrita leve, ágil, direta, mas que consegue ter um nível de profundidade o suficiente para que os personagens sejam mais do que cascas ocas e estereotipadas. A ambientação da trama continua tão boa quanto na anterior, fazendo com que o leitor mergulhe no espírito olímpico e também na vivência carioca, além de conhecer um pouquinho da famosa malandragem dos nascidos no Rio de Janeiro.
Novamente, a crítica social é forte na obra. Aliás, está ainda mais presente do que na obra anterior. Aqui, além de fazer uma sátira de pessoas racistas, homofóbicas e xenofóbicas, deixa pitadas ácidas sobre a possibilidade econômica e estrutural do Rio de Janeiro abrigar um evento tão grande. Sem dúvida, a escolha não poderia ser mais acertada. Com essa boa combinação, Perdigão consegue criar uma obra que critica sem ser enfadonho e que ironiza pelo humor corrosivo.
Ademais, a obra mostra-se um pouco superior à primeira. Se no livro anterior, Lurdes e Andrade eram um tanto intragáveis devido aos seus preconceitos – eles são a encarnação do Bolsonaro na pele de uma dupla policial –, neste, eles parecem mais maduros, envolvendo melhor quem lê. Continuam altamente preconceituosos, é verdade; porém, a formação dos personagens como método de crítica fica mais clara.
“O Rio continua igual, inspetora. Uma bela moldura para um quadro desolador. A verdadeira Cidade Olímpica é aquela fantasia cinematográfica construída na Barra da Tijuca para abrigar atletas e competições, e durar três semanas” (p. 11).
Na parte física, porém, o livro apresenta alguns problemas. A capa é interessante, chamando a atenção de um público específico, e com total conexão com a obra. A revisão, por sua vez, merece uma segunda visitação; há uma série de problemas, principalmente na digitação, que apresenta erros, e algumas falhas na separação das palavras.
Em suma, Investigação Olímpicaé um livro policial razoavelmente profundo, mas que ganha o leitor pelo humor e pela crítica. Seus personagens, por serem altamente preconceituosos, podem despertar o amor ou ódio – ou até mesmo os dois – nos leitores. Não é o tipo de obra policial que te marcará para sempre pelo forte suspense psicológico – até porque esse não é o objetivo do livro–, mas que certamente merece ser conferido.
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