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Entrevista: Alex Mandarino

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Foto de Natacha Lopez
Hoje iremos conhecer o Alex Mandarino, autor do livro O Caminho do Louco, publicado pela AVEC. Confira, abaixo, a entrevista completa:

1. Olá, Alex. Primeiramente, agradeço a disponibilidade para conversar com o blog. É uma honra tê-lo aqui conosco. De início, conte para os leitores do que se trata o seu livro.
Olá, o prazer é meu em estar no Desbravador de Mundos. Meu livro, O Caminho do Louco, é um thriller conspiratório com elementos de fantasia e subversão. Mistura magia do caos, druidas, parkour, anarquismo, tarô, linhas Ley, Templários e muitos outros temas. É o primeiro volume da trilogia Guerras do Tarot, lançamento da AVEC Editora. A trilogia, por sua vez, é apenas a primeira de uma das várias histórias que serão contadas neste universo.
Neste primeiro livro o leitor poderá acompanhar o início da trajetória de André Moire, um jornalista carioca que se cansa da sua vida e abandona tudo para sair pelo mundo em busca de si mesmo. O que ele acaba encontrando é um grupo secreto, o Tarot, que incorpora as características dos arcanos do baralho de tarô. E descobre que ele mesmo é o novo Louco deste grupo. A partir daí o livro mostra uma trama que se passa por vários lugares do mundo: da floresta amazônica às pirâmides astecas no México, da Riviera francesa às highlands escocesas, do Rio de Janeiro ao interior da Inglaterra. É um livro que, assim como os próprios arcanos do tarô, mistura diversos climas e gêneros, estilos variados e complementares.

2. Conte-nos: de onde surgiu essa ideia de misturar Tarot e conspiração? Você já conhecia sobre o Tarot antes do livro ou pesquisou para escrever a obra?
Tive as minhas primeiras ideias de um romance conspiratório no início dos anos 2000. Logo em seguida pensei em criar um universo no qual existisse uma organização subversiva secreta que representasse os arquétipos do tarô. Juntar as duas ideias foi uma consequência natural, na época. Os primeiros esboços do livro surgiram ainda em 2001, mas um imprevisto aconteceu: o lançamento em 2003 de O Código Da Vinci, que abordava vários dos mesmos aspectos e teorias que eu pensava em incorporar ao Tarot. Isso me obrigou a alterar o curso da história, cortar alguns elementos e adicionar outros. Uma primeira versão ficou pronta em 2009, contendo os elementos principais do livro. Uma versão aumentada quase foi lançada em 2012. O livro lançado pela AVEC agora é esta versão de 2012, acrescida de alguns capítulos e conceitos a mais.
Eu já gostava do tarô e de magia do caos antes de começar a escrever o livro. Foi essa predileção que fez com que estes elementos surgissem na trama. Ao longo do processo de escrita acabei pesquisando sobre características mais obscuras das cartas de tarô, à medida que a história ia pedindo isso. Mas o maior trabalho de pesquisa foi mesmo relativo a lugares e meios de transporte. Mesmo com elementos fantásticos, eu queria que os locais que aparecem no livro parecessem plausíveis. Pesquisei muita coisa relativa a história, geografia, climas, distâncias, tempo necessário para ir de uma cidade a outra, linhas de trem e de metrô. Enfim, tudo que pudesse contribuir para um maior realismo daquele mundo.
Faço leituras de tarô, para mim mesmo e amigos bem próximos, então essa parte acabou sendo mais tranquila do que a pesquisa sobre locais, que me tomou mais tempo do que o tempo realmente escrevendo e reescrevendo o livro.

3. Você trabalhou muitos anos como jornalista. Como essa experiência influenciou na sua escrita? Há reflexos dessa experiência em O caminho do louco?
Eu uso nos meus textos de ficção um estilo bem diferente daquele dos meus textos jornalísticos. Eu cursei jornalismo porque sempre gostei muito de escrever, mas no fim das contas isso é uma das coisas que menos contam na condução da carreira de jornalista. Não acho que jornalismo ajude a escrever ficção, talvez seja até o contrário: o texto jornalístico cria vícios de estilo e estrutura do texto que são péssimos quando transportados para o texto literário. Desde cedo eu percebi que tinha entrado na profissão errada. Por mais que minhas matérias e colunas fossem elogiadas na época pelos editores e leitores, eu sabia que o ato de escrever era um dos poucos elementos dos quais eu gostava no exercício da profissão. E minha carreira de jornalista, que se estendeu por 15 anos, entre 1990 e 2005, acabou atrasando meu exercício da escrita de ficção: após passar 9 a 10 horas em média numa redação, escrevendo, chegar em casa e continuar na frente de um computador ou máquina de escrever é a última coisa que você pensa em fazer. Por isso, acho que os únicos reflexos da minha experiência como jornalista na criação do Caminho do Louco foram meu desgosto pela profissão (refletida nas ações do protagonista, André Moire) e uma certa facilidade para apurar dados e pesquisar detalhes e referências.

4. Você citou no release distribuído pela AVEC que é fã do Rubem Fonseca. Faço parte desse mesmo time, inclusive, tenho estudado mais profundamente as obras do autor. Dessa forma, fiquei bastante curioso sobre a influência desse autor sobre a sua escrita. Até que ponto há uma intertextualidade entre você e Fonseca?
 Gosto muito do trabalho de Fonseca. O que mais admiro nele é a facilidade com que consegue mesclar elementos literários e de gênero, principalmente mistério e policial, nos mesmos livros. Também acho louvável um certo aspecto direto que ele apresenta em sua prosa, mesma qualidade que enxergo em outros autores que admiro, como Elmore Leonard, Georges Simenon. Gosto de experimentalismos com a forma, mas é importante que a história tenha um ritmo, uma cadência, que não entedie o leitor. Escrever é muito parecido com a música, no sentido de que o ritmo precisa ser ao mesmo tempo natural e cuidadoso, matemático e dançante.
Esse mesmo cuidado com o ritmo está presente em diversos autores que admiro, mesmo aqueles que escrevem em estilos distintos dos que eu já citei: Poe, Borges, Wilde, Kerouac, Chandler, Patricia Highsmith, Tolkien. Não necessariamente o ritmo da velocidade ou a secura, mas um ritmo de qualidade. O pior erro que vejo nos livros que não gosto é a monotonia musical: todas as frases muito curtas ou todas muito longas.

5. Como foi a decisão de largar a carreira jornalística para se dedicar a literatura?
Tomei essa decisão em 2000, quando fiz 30 anos. Decidi que era melhor sair de jornalismo aos 30 do que aos 40 ou, pior ainda, aos 50. Demorei 5 anos para realizar essa transição. Em 2001 já dava para perceber que os grandes jornais e revistas entrariam numa crise econômica e qualitativa profunda, com cada vez mais gente perdendo o emprego. Achei mais saudável sair logo. Foram necessários 5 anos fazendo frilas inconstantes e mal pagos, com uma grana mensal inconstante, até conseguir passar num concurso público. A literatura ainda não é o que me sustenta, mas como funcionário público tenho a certeza de trabalhar 9 horas diárias, de segunda a sexta, enquanto como jornalista eu trabalhava às vezes 14 horas por dia, incluindo finais de semana e muitas vezes feriados. O fato de não ter mais um day job que me obriga a escrever também permite que eu tenha vontade de escrever quando não estou nele.

6. Qual é o sentimento ao ver seu esforço se tornar realidade? A AVEC criou um trabalho gráfico impressionante para o livro; foi assim que você sempre sonhou a obra?
O sentimento é de extrema alegria. É um alívio saber que essa história finalmente está solta, sendo lida por aí. tenho certeza que os arcanos também estão felizes.
Quanto ao trabalho gráfico, estou completamente feliz e empolgado com o resultado. A AVEC e o editor, Artur Vecchi, foram muito receptivos desde o início. Artur deu sugestões que apenas engrandeceram o livro e não tentou em momento algum transformar a história em outra coisa. Fred Rubim, da série de quadrinhos do Cão Negro,  realizou um trabalho maravilhoso criando os desenhos dos arcanos do Tarot nas cartas que ilustram o livro, retratando os personagens de forma impressionante. Vitor Coelho fez uma diagramação rica em detalhes e também realizou um trabalho fenomenal na capa do livro, em um excelente trabalho gráfico (a partir de ideias e conceitos de Leandra Lambert, que acertou em cheio em suas escolhas). Enfim, eu não poderia estar mais contente com a editora. E, claro, este O Caminho do Louco é apenas o início da trilogia. 

7. Alex, agradecemos novamente a disponibilidade. O espaço agora é todo seu. Deixe uma mensagem para os leitores, fala mais sobre a sua obra, formas de contato, locais de venda e etc
Eu que agradeço este espaço, foi uma honra e uma alegria. Obrigado!
O Caminho do Louco está a venda nas principais redes e livrarias, como a Amazon, Saraiva, Blooks, Travessa, Cultura, Livraria Curitiba e diversas outras. Além, é claro, da própria loja no site da AVEC. O livro está disponível também em ebook e, muito em breve, em ebook em espanhol. Os livros seguintes, O Laço do Enforcado e A Noite do Julgamento, deverão sair em 2017 e 2018, respectivamente. Acho que o livro pode agradar a fãs de thrillers, fantasia e mistério, a fãs dos quadrinhos da Vertigo e aos adeptos das teorias conspiratórias. É um universo rico e abrangente, que permite diversas abordagens distintas. É apenas o início do Caminho. As cartas estão na mesa, é só puxar uma delas. Mais informações sobre o livro estão no site oficial ( www.guerrasdotarot.com ).
Além de O Caminho do Louco, estão disponíveis online em ebook meus contos O Rabo da Serpente (FC) e A Aventura do Penhasco dos Suicidas (uma trama de mistério com um Sherlock Holmes aposentado). Este mesmo conto está na versão impressa da antologia Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Já meu conto Hiriburu, um dos finalistas do Argos 2013, está na antologia impressa Caminhos do Fantástico (e no mês que vem será publicado em alemão na revista austríaca Visionarium).
Meu trabalho como tradutor pode ser conferido nas edições da série Discworld, de Terry Pratchett, em alguns livros da série Star Wars, e na estreia de China Mieville no Brasil, no romance Rei Rato.
Também sou editor da revista literária Hyperpulp, que pode ser lida em www.hyperpulp.com
Minha mensagem final para os leitores é que ousem experimentar e ler coisas fora de suas zonas de conforto. Se você costuma ler fantasia, tente ler um romance policial. Se lê thrillers, tente ler um clássico. Tente experimentar a voz de autores e personagens de diferentes épocas, sexos, idades e etnias. Vocês só terão a ganhar. É um mundo rico aí fora, extenso, esquisito, variado. Ignorá-lo é bobagem. O mais legal da literatura é exatamente sua variedade. Não permitam que os preconceitos dos outros se tornem os seus.
Por fim, gostaria de convidar a todos a assinar minha newsletter ( em www.alexmandarino.com/newsletter ). Todo mês vocês receberão uma janela com uma vista incrível para mundos de fantasia, arquiteturas estranhas, músicas esquisitas, magia e, é claro, novidades sobre o Tarot e meus outros trabalhos. Obrigado pelo bate-papo e que as cartas estejam com vocês!


 

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