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Resenha: Cobra Norato

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Título: Cobra Norato
Autor: Raul Bopp
Editora: José Olympio
ISBN: 9788503005289
Ano: 2016
Páginas: 96
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Sinopse:

Cobra Norato, poema genial de Raul Bopp, situa o autor como um dos maiores escritores de nosso país e presença de grande importância no movimento modernista da década de 1920, que tanto influenciou (e influencia até hoje) os caminhos da cultura nacional.
Em "Cobra Norato" (1931) é detectado um retorno ao pré-tempo, ou seja, ao mito. O autor, após uma série de viagens pelo país, em que conhecera diversos costumes e tradições, traz a magia e o misticismo para a sua literatura, buscando encontrar o Brasil primitivo anterior à lógica e ao racionalismo científico.
Resultado de uma pesquisa iniciada para o doutorado em Línguas e Literaturas Ibéricas e Ibero-americanas da Universidade de Palermo, este livro mostra como os autores escolhidos propuseram um relacionamento crítico e consciente com o passado nacional, reivindicando uma literatura capaz de refletir as peculiaridades nacionais dentro de um âmbito artístico de qualidade universal.

Resenha:

Desde o seu lançamento, Cobra Noratoé visto como um dos melhores poemas épicos da literatura brasileira. O motivo para tal é o bom trabalho com o verso, o tema intrínseco à nossa cultura e a qualidade das figuras de linguagem utilizadas. Esse conjunto gera mais do que uma boa poesia, mas um trabalho com a cara do brasileiro, algo que era um dos grandes ideais da Semana de Arte Moderna.

Logo no início da obra, acompanhamos o eu lírico se aproximar da serpente e brincar com ela de amarrar uma fita no pescoço. Contudo, o que acontece é um estrangulamento e o eu lírico toma posse do corpo da serpente, podendo caminhar pela florente em busca da filha da rainha Luiza, com quem ele desejava se casar.


Contudo, como em todo poema épico, a jornada não pode ser tão simples. Para conseguir o que deseja, “antes tem que passar por sete portas / Ver sete mulheres brancas de ventres despovoados / guardadas por um jacaré”. Cumprindo todas as provas, Norato poderá, então, alcançar o seu grande objetivo.
“Bocejam árvores sonolentas / Ai que a noite secou. A água do rio se quebrou / Tenho que ir-me embora / Me sumo sem rumo no fundo do mato / onde as velhas árvores grávidas cochilam / De todos os lados me chamam/ – Onde vais Cobra Norato?” (p. 19).
Partindo dessa premissa, Raul cria uma grande ode à nossa cultura. Por ter uma riqueza vocabular e de costumes, objetivando um transporte do leitor através das palavras, ler Cobra Norato tornar-se um verdadeiro mergulhar na selva, sentir na própria pele todas as sensações do réptil. A cada parte da poesia, o leitor é convidado a conhecer um pouco mais sobre a natureza do seu país e da sua cultura.

Para que isso aconteça, Raul Bopp se utiliza de uma série de expressões e palavras regionais, o que pode causar uma certa dificuldade na leitura, contudo, não é nada que um leitor verdadeiramente interessado em desbravar a obra não possa superar. Afinal, são esses termos que ajudam na verossimilhança e na construção tão natural da obra.


O mais interessante é a utilização que Bopp faz do mito original. Apesar de buscar a essência nos contos amazônicos e pincelar toda a obra com a cultura da região, o livro também guarda pontos peculiares, únicos, tornando a leitura uma descoberta agradável. Ou seja, mesmo que o leitor conheça o conto original, poderá se surpreender com a escrita de Bopp e com a construção do enredo.
“Acordo / A lua nasceu com olheiras / O silêncio dói dentro do mato” (p. 32).
Como todo épico clássico, Cobra Noratoé construído em versos. Contudo, aqui não temos uma versificação rígida, quase engessada, como encontramos em muitas obras do estilo. Bopp, que acreditava nos ideais da Semana, traz para a obra uma leveza e uma não rigidez nos versos. Ou seja, a qualidade da obra está mais na construção do enredo, no trabalho vocabular e das metáforas do que na construção métrica dos versos. Isso, sem dúvidas, aproxima o livro de um público que tenha menos costume de ler livros clássicos.

A parte física, por sua vez, não fica devendo em nada para a construção da obra. A capa está maravilhosa e reflete muito bem o que encontraremos no livro. A diagramação está muito boa, contando com diversas ilustrações que apresentam as situações vivenciadas por Norato. Para complementar, temos uma revisão excelente.


Em suma, Cobra Noratoé mais do que um poema épico ou expressão de um movimento literário, é a personificação da nossa cultura em versos, da nossa cara em palavras. É uma obra que merece ser conferida por sua beleza e amada por sua expressividade. Para quem gosta de uma literatura nacional realmente brasileira – e não daquela imitação de padrões americanos produzidos no Brasil –, esse livro será uma excelente descoberta.
“Noite está bonita / Parece envidraçada” (p. 56).
Outras fotos:







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