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Resenha: À sombra de uma mentira

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Título: À sombra de uma mentira
Autora: Alex Marwood
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528618471
Ano: 2016
Páginas: 462
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Sinopse:

Em uma manhã de verão, duas meninas se encontram pela primeira vez. Ao final do dia, elas serão acusadas de assassinato. Poucas horas depois de se conhecerem, Jade e Bel, ambas com 11 anos, veem-se envolvidas na morte de uma garotinha e tachadas de assassinas. As duas meninas são enviadas a diferentes reformatórios, onde recebem novas identidades e são instruídas a nunca mais entrar em contato uma com a outra. Agora elas são Kirsty, uma respeitável jornalista freelancer de Londres, e Amber, gerente de um parque de diversões no sul da Inglaterra. Quando Amber encontra um corpo em uma das atrações do parque, a mídia fica em polvorosa, e Kirsty, enviada para cobrir os assassinatos, acaba cruzando o caminho de sua velha conhecida. Não demora muito para as duas se darem conta de o quanto sabem uma sobre a outra. Com medo de que seu passado seja descoberto e exposto pelo frenesi da imprensa, Kirsty e Amber lutam para manter o segredo a salvo.

Resenha:

Resenha escrita pela Thaís Snape.

Setembro chegou e com ele novas histórias e novos livros, e o primeiro livro lido foi À Sombra de Uma Mentira, um romance policial recheado de suspense. Gostei do livro logo de cara, por vários fatores como o título, sinopse e o gênero, havia um tempinho que não lia romance policial e estava ansiosa com a leitura e com grandes expectativas. Posso dizer que o livro cumpriu seu papel. Quer saber como? Confira abaixo.

Se você gostou da sinopse assim como eu, provavelmente adorará o livro, o número de páginas te assustou um pouco? Não se preocupe, garanto que conseguirá ler com facilidade. O que mais chamou minha atenção na história é por tratar-se de um assunto que nunca tinha lido antes em outro livro: Assassinato cometido por duas crianças. Com todos esses ingredientes, a Alex Marwood criou uma história intensa e intrigante.

Ao serem acusadas pelo assassinato de Chloe, uma garotinha de quatro anos, Jade Walker e Annabel Oldacre, por serem muito novas recebem um tratamento adequado e são separadas com uma ordem judicial de que nunca mais deveriam se encontrar. Anos passaram-se depois do assassinato e a fúria das pessoas foram aos poucos suavizando e caindo no esquecimento. Em contrapartida, Jade e Bel recebem novas identidades e seguem rumos muito diferentes, desde a carreira profissional à questão família.


O livro alterna entre o passado, como as meninas se conheceram e chegaram ao assassinato de Chloe, e o presente, vinte e cinco anos depois, alternando entre as protagonistas, onde Jade Walker virou Kirsty, uma sucedida e respeitável jornalista freelancer que conseguiu montar uma família com seu marido Jim e seus dois filhos Sophie e Luke, enquanto que Annabel Oldacre virou Amber Gordon, uma gerente do Parque de Diversões de Whitmouth que mora com seu namorado Victor Cantrell e suas duas cachorrinhas Mary-Kate e Ashley.

Aos poucos, o leitor irá descobrindo a história de cada uma das protagonistas juntamente com alguns personagens coadjuvantes como Martin, Jackie e Victor, que pra mim foram os três personagens mais odiados da série. O que mais odiei mesmo foi o Martin; logo nas primeiras páginas que ele aparece, você já tem uma primeira impressão que se confirma nos outros capítulos e vai só piorando, por ele ser tão repugnante e bizarro que me deixou um pouco impotente junto com a Jackie – ela ainda não tinha se mostrado uma idiota. Com uma raiva enorme, ele a perseguia e não a deixava em paz – os motivos vocês saberão somente ao ler. Acabei ficando curiosa para saber o destino desse personagem e qual seria seu verdadeiro papel na trama, além de ser o personagem inconveniente.
“Pode passar um ano, três anos sem um incidente, então, um dia, abre sua caixa de entrada e descobre que alguém que você sempre pensou ser ajuizado e civilizado enviou um e-mail dizendo que você está prestes a perder sua liberdade condicional e nunca mais sairá.”
A exploração que a autora faz dos personagens e do ambiente é bastante intensa; além disso, dá uma carga emocional enorme para os personagens, principalmente Amber ou Kirsty. Fui entendendo aos poucos as dificuldades, lutas, vulgaridades, segredos dos personagens, alguns com poucas informações, outros em como comportam-se no dia a dia.  Nesse quesito, tenho que parabenizar a autora: a rotina deles foi tão bem escrita que se tornou até familiar para mim, diria que pareciam até parentes ou conhecidos meus.


A sensação constante de que algo ruim acontece continuamente e deixa o suspense mais acentuado e impetuoso, fazendo com que eu desbravasse as páginas com uma voracidade e atenção absurda que me deixava pensativa e reflexiva sobre os diferentes caminhos que Jade e Bel tiveram. Parece que o destino inverteu os papéis, enquanto no passado Jade era filha de criador de porcos e com uma família nada estável e exemplar, Bel era educada e de boas maneiras, sendo enteada de um homem rico. Excluídas das respectivas famílias ao serem transferidas para unidades diferentes de reformatórios, suas vidas mudam drasticamente uma para melhor e a outra nem tanto assim.

Eu fiquei alucinada e com uma obstinação em saber o que aconteceria com as personagens e ao mesmo tempo não sabia o que descobrir primeiro: Quem é o assassino das mulheres em Whitmouth, como realmente foi o assassinato de Chloe e se Kirsty e Amber seriam descobertas. Pois, a cada capítulo fui descobrindo as ambições, desejos, anseios, mágoas, obsessões das protagonistas, as diferenças que antes elas possuíam e as novas diferenças que obtiveram depois do que fizeram.

As revelações começam muito antes do que eu esperava, pegando-me de surpresa. Os desastres vão acontecendo, parecendo uma fila de dominós; cada episódio que ocorria ia desencadeando outro pior e percebia as pessoas maldosas aproveitando-se do sofrimento alheio, sentiam-se felizes com as desolações e atrocidades do próximo. A mídia usava e abusava de seu poder e manipulação contra inocentes. A vida de Amber parecia desmoronar-se a cada dia ao perceber o quanto sentia-se angustiada e com um grande vazio dentro de si, e Kirsty ficava mergulhada em preocupações e aflições com seu futuro que poderia ser destruído com apenas um nome.


As últimas cem páginas são angustiantes, pois as descobertas estão começando a trazer sérias consequências, algumas chegando a serem horríveis. A todo momento ficava esperando que algo ruim iria acontecer no final do capítulo, pois a hora da verdade estava chegando, era hora de saber como o assassinato realmente aconteceu, já que o livro foi mostrando aos poucos como tudo ocorreu, através dos capítulos intercalados. Eu fiquei sentindo empatia com as protagonistas por mais terrível que tenha sido o passado delas e questionava-me se estava errada em sentir essa empatia, enquanto a população mostrava o contrário, ou se estava certa em querer o bem delas e que tenha sido um equívoco e descaso no passado, por ter acompanhado a vida de ambas e perceber o quanto ainda sofriam e sentiam medo.
“ A sociedade é um problema, e sei. Eu sei. A sociedade. Mas vamos enfrentá-la: a sociedade realmente não se importa com quem culpa, desde que haja algum culpado.”

Reflexões pairam no livro, e uma delas fiquei questionando até quando finalizei a leitura: Uma criança pode ser tão má ao ponto de matar e fazer atrocidades? Ou as pessoas corrompem essa inocência? Uma família violenta e nada instável pode destruir e transformar uma criança? A negligência, a falta de afeto, ensinamentos errados, falta de limites e outros motivos podem ser fatores em potencial? Já nascemos com a maldade enraizada dentro de nós? Qual seria o melhor destino para uma criança que cometeu um crime, mesmo que por acidente ou sem consciência?

São indagações como estas que deixam o livro peculiar, você termina a leitura, mas esses pensamentos permanecem. Se defendê-las é mesmo o correto, esse é o tipo de livro que merece ser debatido entre as pessoas por abordar um tema que envolve política, religião, filosofias e opinião pessoal.


A Bertrand Brasil mais uma vez nos trouxe um romance policial incrível e valioso, fizeram um excelente trabalho com a construção da capa que contém detalhes que remetem aos principais fatores da história. A revisão está ótima e a tradução da Verônica Radulescu ficou impecável. Por fim, a diagramação ficou adequada, deixando a leitura mais leve e fácil.

Se você gosta de uma boa história repleta de suspense e que no final te deixa com várias questões reflexivas, não pode perder essa intrigante e sombria trama. 

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