Título:O Livro das Coisas Estranhas
Autor:Michel Faber
Editora:Rocco
ISBN:9788532530394
Ano:2016
Páginas:528
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Sinopse:
Último romance do aclamado Michel Faber, autor de Sob a pele e Pétala escarlate, flor branca, entre outros, O livro das coisas estranhas teve calorosa recepção do público e da crítica, figurou na tradicional lista do The New York Times dos 100 livros notáveis do ano em 2014 e reafirma a posição de Faber como um dos mais inovadores e interessantes escritores contemporâneos. A trama se desenrola num futuro próximo e acompanha o pastor Peter Leigh na missão de catequizar a civilização extraterrestre do planeta Oasis. Afastado de sua mulher, seu gato, seu mundo, Peter vê sua fé ser testada até o limite, progressivamente se alienando de sua própria espécie, numa narrativa tocante que leva o leitor a refletir sobre temas como amor, separação e a natureza da fé religiosa.
Resenha:
O Livro das Coisas Estranhasé uma obra peculiar, que tem tudo para agradar o leitor em muitos aspectos, mas que também pode decepcioná-lo em alguns momentos. Pelo sim e pelo não, é uma obra que precisa ser conferida. Os móvitos? Conto para você abaixo.
Peter Leigh está indo para outro planeta habitado que foi recentemente descoberto: o Oasis. Contudo, se você já começou a imaginar naves estelares, batalhas épicas e um intercâmbio cultural profundo, você está completamente enganado. Peter não é um guerreiro e nem um sociólogo; ele é um pastor. Seu objetivo na viagem é ajudar a disseminar a palavra do Salvador nessa nova terra tão carente de salvação.
Peter viaja estando em uma contradição emocional. Por um lado, há euforia por ir pregar a palavra do seu Deus e ajudar uma nova população a encontrar o caminho correto. Por outro, há o afastamento de sua esposa e seu gato, que ficaram na Terra. Esse distanciamento mexe com seu coração e com seu psicológico, alimentando saudades. Isso se torna ainda mais destacado quando determinadas situações começam a acontecer no seu planeta natal.
“Provavelmente é apenas físico e temporário, mas fico duvidando se estou à altura disso. Os outros homens nessa nave, embora barulhentos, têm sido bem legais comigo, de forma um tanto condescendente. Mas sei que devem estar se perguntando por que a USIC pagaria uma fortuna para me transportar para Oásis, e preciso admitir que eu mesmo estou confuso” (p. 55).
Partindo dessa premissa, Faber constrói uma obra bem escrita, inteligente, mas que não convence por completo. Sua forma de narrar e sua maestria com as palavras são notadas quase de imediato, tornando o livro envolvente e interessante. Contudo, isso não esconde alguns problemas contidos na obra. O primeiro é que esse não é um livro de ficção científica. Ao contrário, está muito mais para um romance com fundo científico do que o contrário. Isso não é necessariamente um problema, mas pode incomodar dependendo das expectativas criadas pelo leitor por causa da sinopse.
O que incomoda de fato é a falta de aprofundamento em alguns aspectos relacionados à cultura de Oasis. O leitor aguarda por respostas que não chegam; busca informações que são inexistentes. A obra se converte muito mais em um drama acentuado pelo amor e pela distância entre Peter e a sua esposa. Nesse aspecto, aliás, o autor merece elogios. O envolvimento é belo e gera inúmeras reflexões, alcançando muito bem o objetivo de tocar a alma daquele que lê.
Outro ponto que merece destaque é o conteúdo religioso da obra; ele é farto, extenso e ostensivo. Quem tem uma fé cristã e gosta de obras que a retratem certamente sairá muito satisfeito; quem não gosta de livros religiosos ou não tem intimidade com a Bíblia poderá se incomodar demais. Afinal, um dos pontos centrais da obra é o relacionamento do protagonista com a palavra divina e com o próprio Criador. Ademais, por ser um pregador, diversos trechos do livro contêm transcrições da Bíblia. Isso pode ser um ponto positivo ou negativo, depende exclusivamente de quem lê. A verdade é que esse aspecto foi muito bem trabalhado; cabe ao leitor apreciar ou não.
“Quanto ao nosso velho amigo são Paulo, talvez ele não aprovasse o tamanho do meu desejo de me enrodilhar contigo na cama agora. Mas sim, ouçamos seus sábios conselhos em outras áreas. Meu amor, os dois sabemos muito bem que o efeito de sua viagem vai acabar passando e você, descansando, não vai mais ficar sentado em seus aposentos escrevendo epístolas para mim e observando a chuva. Você vai ter que abrir a posta e começar a trabalhar. Como disse Paulo: “Procedei com sabedoria com os que não creem, sabei aproveitar as oportunidades.” E lembre-se de que estou pensando em você!” (p. 92).
Quanto à parte física, restam apenas elogios. A capa é simplesmente maravilhosa, tridimensional, gerando um dos efeitos mais bonitos que já vi. A diagramação é simples, mas muito confortável, propiciando uma excelente leitura. Também não tenho reclamações quanto à tradução e revisão. Ou seja, tudo contribui para que o desbravador tenha uma boa experiência.
Em suma, O Livro das Coisas Estranhasé uma obra peculiar, sensível e bem elaborada. Possui falhas e pode desagradar quem esperava mais ficção científica e menos romance. Ainda assim, merece uma chance.
Outras fotos: