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Resenha: Cenas de um casal publicitário ou qualquer outro nas galáxias

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Título: Cenas de um casal publicitário ou qualquer outro nas galáxias
Autor: Raul Otuzi
Editora: Alternativa Books
ISBN: 9788568125083
Ano: 2016
Páginas: 160
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Sinopse:

O livro retrata o relacionamento conturbado, mas bem-humorado entre Lauro e Lidiane. Ele, redator, 28 anos. Ela, diretora de arte, 25. Namorados desde a faculdade, eles são bem diferentes. Ambiciosa e com personalidade forte, ela sonha em ganhar Cannes, o festival publicitário mais famoso do mundo. Imaturo e preguiçoso, ele não sabe direito o que quer. De família rica, oscila entre a publicidade, a música e a poesia. Quem trabalha ou trabalhou em agência vai rir, chorar e se emocionar. E quem não trabalhou vai encontrar uma história de opostos que se atraem muito além do clichê.

Resenha:

Otozi já havia me surpreendido em Tristes finais para começos infelizes, então eu imaginava que já sabia o que esperar em Cenas de um casal publicitário.  Engano meu; Raul se mostra bem diferente nesse seu romance de estreia, conseguindo prender o leitor de uma forma sem igual.

Na obra, conhecemos Lauro e Lidiane, um casal que vem para redefinir os seus conceitos de “os opostos se atraem”. Ele é um rapaz bem de vida, meio preguiçoso, meio perdido nas suas escolhas. É redator, mas sabe que não tem muito talento para isso. É músico, mas não consegue engrenar. Escreve poesia, mas comete erros grotescos de português. Profissionalmente, Lauro está confuso; emocionalmente, não. Ele tem certeza que ama Lidiane e que faria tudo por ela, até mesmo uma tatuagem. Aí é que começam os problemas.


Lidiane, por sua vez, veio de uma família mais pobre e teve que lutar para alcançar o posto que ocupa. Ela é ambiciosa, batalhadora e sonha alto; ganhar o Cannes é a sua meta de vida. Apesar de viver razoavelmente bem em Ribeirão Preto, ela quer mais, quer ir para São Paulo e mostrar o seu verdadeiro potencial. Porém, uma das coisas que a prende em Ribeirão é Lauro, o namorado meio estranho, lerdo e que não sabe o que quer da vida. Apesar de tudo, ela o ama. O problema é que ele resolveu fazer uma maldita tatuagem.
[Pensamento de Lauro] “Eu devia ter pedido para alguém revisar o poema. Cometi um errinho bobo de português e pus tudo a perder. De repente junto e com dois erres chamou mais atenção do que o presente e o meu poema juntos. Porra, velho! Me sinto um idiota. Dá vontade de não fazer mais nada para a Lidiane. Talvez eu não faça. Mas talvez seja isso mesmo o que ela quer, que eu não faça mais nada, daí eu vou fazer justamente o que ela deseja. E ela vai continuar me controlando. Mais uma vez. É. Talvez. Será? Sei lá. Tô confuso. Não tenho certeza de mais nada. Sempre pensei que de repente era escrito com dois erres...” (p. 32).
Otuzi, partindo dessa premissa, cria uma das obras mais divertidas que eu já li. As risadas, que muitos autores se esforçam para retirar dos leitores, aqui são naturais. Cena a cena, as interações do casal são cativantes e cômicas, mostrando que um relacionamento sério pode ser muito divertido, principalmente para quem olha de fora. A arte de conviver é complexa, principalmente para Lidi e Lauro; para nós também é. Nas cenas trágicas deles, nós nos reconhecemos e, pelo riso, sofremos uma catarse profunda. De sorriso em sorriso, terminamos por questionar a nossa própria vida e escolhas.

Para alcançar tal efeito, Otuzi aposta em um aprofundamento dos personagens, inclusive dando voz aos pensamentos deles. No fim de cada capítulo, inclusive, há um espaço reservado onde o casal diz o que pensa um do outro. Além disso, o autor também usa saltos temporais para mostrar a evolução do casal ao longo do tempo, aprofundando a sua relação e suprindo aquela necessidade do leitor de descobrir o que poderia acontecer depois na vida do casal.


Outro ponto que merece destaque é a escrita do autor, que é leve, ágil e envolvente. Com uma narrativa jovem, irônica e que critica diversos aspectos da sociedade moderna, Otuzi consegue ir além do entretenimento, mesmo que, aparentemente, a obra seja apenas para divertir. Isso faz com que o livro ganhe uma profundidade maior, agradando também os leitores mais exigentes.
[Pensamento de Lauro] “Não me incomodo de ser cobrado. Desde que seja uma cobrança sadia, sem pressão extrema. Se eu não fosse cobrado em minha vida, se dependesse só de mim, eu ainda estaria sem faculdade, sem rumo, sem Lidiane. Só fazendo música, só fumando maconha. [...]. Velho! Até que não seria ruim” (p. 143).
Além do bom enredo e desenvolvimento, o livro também possui uma ótima parte física. A capa é bonita, apesar de simples, e retrata bem os protagonistas da obra. A diagramação é bela, confortável e proporciona uma excelente leitura. A obra também passou por um bom processo de revisão, tornando tudo melhor.

Em suma, Raul consegue dar um bom primeiro passo no universo dos romances, criando uma obra leve, divertida, mas que também é crítica. O autor demonstra muito potencial e tem tudo para se tornar um escritor famoso futuramente; talento e criatividade não faltam. 

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