Título:O Século de Sangue
Organizadores: Emmanuel Hecht e Pierre Servent
Editora:Contexto
ISBN:9788572449274
Ano:2015
Páginas: 288
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Sinopse:
Os últimos cem anos favoreceram enormes avanços civilizatórios (a internet, a penicilina, a pílula anticoncepcional e tantos outros), mas também propiciaram enorme avanço na capacidade dos homens se autodestruírem. Este livro narra vinte dos conflitos mais sangrentos a que o mundo assistiu de 1914 até os dias de hoje. Há guerras globais, como a Segunda Guerra Mundial, e embates localizados, todos eles fundamentais para desenhar o mapa do mundo da forma que ele tem hoje. Escrito de forma saborosa e enriquecido por 26 mapas, O século de sangue nos leva para o front.
Resenha:
O Século de Sangue, a princípio, pode parecer um livro apenas para quem estuda história ou para quem gosta desse conteúdo acadêmico. Contudo, apesar das aparências, a obra é muito mais; ela representa o tipo de conteúdo que deveria ser conhecido por todos. Afinal, as guerras são reflexos da sociedade e, mesmo sendo reflexos, acabam por também modificá-la. Logo, conhecer o passado sangrento é essencial para compreender o presente e projetar um futuro menos tenebroso.
Partindo desse sentido, os autores da obra apresentam vinte guerras que assolaram o planeta nos últimos cem anos. Há algumas mais conhecidas, como a Primeira e a Segunda Guerra. Outras são menos divulgadas, como a guerra da Argélia, a do Líbano e do Golfo. Contudo, todas elas tiveram influências na sociedade atual. Apresentando-as, os autores visam mostrar algumas especificidades que não são mostradas na escola e fazer com o que o leitor fuja do senso comum.
Abordar todas as guerras na resenha seria inviável pelo tamanho e também retiraria muito da descoberta do livro. Desta forma, comentarei sobre duas delas que me chamaram muito a atenção porque, apesar de conhecidas, mostram ter aspectos que fugiam da minha concepção. São elas: Primeira Guerra Mundial e Guerra da Coreia.
“Se é justo considerar que nenhum governo procurava a conflagração deliberadamente, é forçoso reconhecer, com Jules Isaac, que “a obsessão da guerra dominava a todos, os rondava” e que cada um atribuía ao outro os projetos de agressão. Numa palavra, os europeus se julgavam “em estado de legítima defesa”, e a guerra podia surgir, no clima de tensão do ano de 1914, como uma solução, uma solução terrível e radical, certamente, mas talvez como a melhor das soluções” (p. 7).
Em relação à primeira, a obra conseguiu despertar meu interesse porque, anteriormente, eu achava tal conflito um tanto confuso. O motivo é simples: a Segunda Guerra possui motivações bem claras; a Primeira, nem tanto. Então, Jean-Yves Le Naour, autor do texto sobre tal conflagração, explora exatamente esse aspecto. Ele apresenta, de maneira simples e concisa, muitos dos aspectos que influenciaram na declaração da guerra. Outro aspecto enfocado é o “redescobrimento da guerra”, até porque o homem, naquele período, nunca tinha causado algo tão desastroso.
Em relação à Guerra da Coreia, o texto escrito por Ivan Cadeau apresenta também as diversas motivações para o conflito e como ele se desenvolveu. Esta me chamou a atenção porque foi além do que é sempre ensinado na escola: comunismo x capitalismo. Há uma série de interesses particulares e nacionais envolvidos e que pouco se fala. Observar tal fato e perceber como essa “desavença” ainda repercute na comunidade mundial é mais do que interessante.
Além do conhecimento histórico que é agregado ao leitor, com fatos poucos explorados pela história oficial, o livro também chama a atenção por ter uma característica incomum aos livros acadêmicos: ele possui uma superfície textual leve e direta, o que permite que a leitura seja alcançada por todos. Isso, sem dúvidas, acrescenta muito na atratividade da obra.
“Ganhar a guerra é uma coisa, ganhar a paz é outra” (p. 20).
Outro ponto que merece ser ressaltado é a preocupação com a didática. O livro possui 26 mapas que deixam todos os conflitos muito mais visuais. Através deles, além das fronteiras, é possível observar onde ocorreram as movimentações das tropas, quais eram as verdadeiras áreas de interesse e como foram colocadas em prática as estratégias militares.
Além disso, vale ressaltar que o livro possui uma bibliografia extensa, o que confere credibilidade à obra. Ela não é construída sobre “achismos e suposições”, mas sobre bases confiáveis. Aliás, outro aspecto que dá tal credibilidade são os autores: todos com extensos estudos na área, sendo a maioria doutores em história. Ou seja, além de ensinar muito e de maneira fácil, pode ser uma fonte confiável de pesquisa para quem deseja utilizá-lo em estudos acadêmicos.
Se toda parte teórica é muito boa, também tenho que parabenizar a editora Contexto pelo excelente trabalho em relação ao físico da obra. A capa está belíssima e muito atrativa; a diagramação está perfeita: o livro possui letras grandes, espaçamento confortável, os mapas foram impressos com excelente qualidade e as páginas são amareladas, o que facilita a leitura. Além disso, houve uma atenção especial tanto na tradução quanto na revisando, entregando ao leitor um trabalho de alto nível.
“Ao amanhecer de 25 de junho de 1950, a artilharia norte-coreana abre fogo ao longo do Paralelo 38 que separa a Coreia do Norte de sua vizinha do sul: a Guerra da Coreia acaba de começar. Ela vai durar três anos e figurar entre as mais homicidas do século XX” (p. 93).
Diante de tantas características positivas, O Século de Sangue torna-se mais do que uma boa pedida pelo seu extenso conteúdo e linguagem direta, mas um livro obrigatório para quem deseja ter uma visão mais ampla da nossa história e sociedade.