Título: As primeiras quinze vidas de Harry August
Autora: Claire North
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528621426
Ano: 2017
Páginas: 448
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Sinopse:
Certas histórias não podem ser contadas em uma única vida. Harry está no leito de morte. Outra vez. Não importa o que faça ou que decisões tome: toda vez que ele morre, volta para onde começou; uma criança com a memória de todo o conhecimento de uma vida vivida diversas vezes. Nada nunca muda... até agora. Ele está perto da décima primeira morte quando uma garotinha de 7 anos se aproxima da cama: “Quase perdi você, doutor August. Eu preciso enviar uma mensagem de volta no tempo. O mundo está acabando, como sempre. Mas o fim está chegando cada vez mais rápido. Então, agora é com você.” Este livro conta a história do que Harry faz em seguida, do que fez antes, e do que faz para tentar salvar um passado inalterável e mudar um futuro inaceitável.
Resenha:
Harry August poderia ser uma pessoa normal no século XX se não fosse por um pequeno e importante detalhe: ele consegue renascer. Não é um imortal e nem está imune às diversas mortes que podem lhe proporcionar, entretanto, apesar de ser um humano, carrega uma grande bagagem de conhecimento já sempre quando nasce de novo sua memória permanece intacta ao atingir certa idade.
Ele se considerava o único que possui esse poder, mas, ao conhecer um espião, toma ciência de uma sociedade chamada Clube Cronus, pessoas que são iguais a ele e atravessam os séculos repassando as mensagens do passado, presente e futuro e ainda são regidos por algumas regras que são fundamentais para manter o equilíbrio do tempo e espaço. Curioso por respostas, embarca em uma busca pelo grupo.
Nas primeiras quatro vidas, Harry conta sua história com muitos detalhes, retomando, muitas vezes, em certo ponto para explicar alguns fatos ou momentos importantes, por exemplo: Como lidou quando renasceu pela primeira vez, as guerras que participou, como foram suas mortes, as universidades que frequentou, sobre sua esposa Jenny e quando virou ateu. Sua quarta vida foi uma das mais interessantes.
São muitas histórias para ser contadas de uma vez, então, aos poucos, Harry intercala falando sobre seu passado, sobre suas vidas, o presente, além de tentar saber mais sobre o Clube Cronus, conhecendo outros iguais a ele e tentando descobrir o aceleramento do fim do mundo e o futuro, onde tentará impedir o fim do mundo e revelar as pistas que deixou ao decorrer do livro para a pessoa que estava escrevendo.
“Tempo não é sabedoria; não é inteligência. Ainda sou capaz de me sentir oprimido”.
Saber sobre eventos futuros seria uma dádiva ou maldição? August já nasceu, morreu e nasceu tantas vezes que sua memória fica cada vez mais infalível e sabia melhor sobre as guerras, o Holocausto, escândalos, e tantos outros fatos históricos. Por isso, já sabia de cor sobre os rumos dos eventos e, diretamente e indiretamente, intervia em alguns deles, impedindo um cataclismo.
Os kalachakra, como são chamadas as pessoas idênticas ao Harry, possuem uma história antiga e fascinante. Eles contam como conseguem lidar com as pessoas que descobrem que são diferentes – algumas enlouquecem e são muitas vezes incompreendidas pela ignorância da humanidade. É uma sociedade tão autossuficiente que acaba por buscar sempre ajudar seu próximo e a manter a ordem sem alterar o tempo, porém, infelizmente, alguns não estão satisfeitos pelo modo de vida que levam, motivo pelo qual geraram um cataclismo que teve uma grave consequência.
Ao decorrer dos relatos, Harry nos mostra que alguns personagens e acontecimentos terão algum efeito futuro, seja ele bom ou ruim. A mensagem que recebeu em sua décima primeira vida estava intimamente ligada com acontecimentos de suas outras vidas. Além disso, conhecemos um pouco o personagem, que é tão encantador e cativante por possuir um coração incorruptível, ser leal, gentil e com um enorme senso de justiça; mesmo quando cometeu alguns deslizes, não deixou de mostrar que é um homem inteligente e singular.
Ao mesmo tempo que Harry retornava a alguns pontos de suas vidas que já conhecíamos, mostrava que aconteceram algumas mudanças, mas o desfecho era sempre o mesmo. Entretanto, ao regressar nesses fatos, parece tentar encontrar uma redenção, um perdão ou uma conformidade pelos seus atos passados e futuros e tentar entender o porquê de ser o escolhido para evitar o fim do mundo.
“A mente sofre para recriar o prazer de um beijo, mas por alguma razão consegue se lembrar com uma clareza incrível do terror da dor, do rubor da humilhação e do peso da culpa”.
As descrições do rumo que o mundo estava tomando pareciam tão reais que não duvidava da precisão dos acontecimentos. A evolução é boa e é sempre para melhor, porém, tem lá suas desvantagens, já que a tecnologia cada vez mais torna-se importante para humanidade, o que também gera um grande mal, afinal, observa-se isso nos avanços das guerras, bombardeios, massacres, além de prejudicar excessivamente a natureza de uma forma irreversível na maior parte das vezes.
“– A humanidade aprendeu a esculpir com as ferramentas da natureza, mas ainda não consegue ver o resultado de sua obra”.
Conflito de ideias, ambições, decepções, mentiras e traições são os principais elementos desta trama tão bem arquitetada envolvendo muitos momentos históricos e viagens no tempo. Esse último ponto requer bastante atenção, já que envolve muitas informações e explicações científicas que serão extremamente importantes para entender o clímax da história.
O desfecho foi incrivelmente lindo e comovente por causa da intensidade das palavras do Harry; o amor e tristeza que transbordaram das últimas páginas é capaz de emocionar qualquer um. Uma história sobre amizade, o poder das palavras, ações e principalmente do tempo. Não poderia nunca imaginar como seria a décima quinta vida dele e, sinceramente, se as próximas vidas do personagem fossem assim, leria todas com grande afinco.
A escrita da Claire North é tão envolvente que as páginas fluíam com uma facilidade enorme, mesmo com uma história tão densa. O livro é tão bem escrito que não deixou falhas e o enredo não se tornou maçante; ao contrário, era tão bem conduzido que havia momentos que estava ávida pelas respostas e o desfecho de algumas situações.
A Bertrand Brasil fez um trabalho maravilhosos com este exemplar; a capa está linda demais e foi uma das que mais gostei. Ademais, o trabalho gráfico está incrível; a revisão, por sua vez, está muito boa e a tradução do Ângelo Lessa ficou impecável. Sem dúvidas, uma obra que você precisa conferir.