Quantcast
Channel: Desbravador de Mundos
Viewing all articles
Browse latest Browse all 1532

Resenha: Nós

$
0
0
Título:Nós
Autor: Evgueny Zamiatin
Editora:Editora Aleph
ISBN:9788576573111
Ano:2017
Páginas:344
Compre:Aqui

Sinopse:

Nós é um romance distópico escrito entre 1920 e 1921 pelo escritor russo Yevgeny Zamyatin. A história narra as impressões de um cientista sobre o mundo em que vive, uma sociedade aparentemente perfeita mas opressora, e seus conflitos ao perceber as imperfeições dele, ao travar contato com um grupo opositor que luta contra o "Benfeitor", regente supremo da nação. O livro só adentrou legalmente a pátria-mãe do autor em 1988, com as políticas de abertura do regime soviético, devido à censura imperante no país.

Resenha:

O mundo, depois de uma guerra de 200 anos, está na mais perfeita ordem. As pessoas são supostamente felizes, apesar de viverem em uma ditadura. O Benfeitor, ditador dessa sociedade, determina a hora de dormir, de comer, de trabalhar e até de fazer sexo. Tudo é previamente organizado. Você não precisa fazer nada, apenas viver e ser feliz.

Nessa sociedade onde a ordem e o progresso andam juntas, as paredes são de vidro, literalmente, para que todos vejam os que os demais estão fazendo. Afinal, se todos são cidadãos de bem, não há nada o que esconder. Pensar e agir contra o sistema é crime punido com morte; ter esperança também. A imaginação, o amor, a cumplicidade... Todos são pecados mortais. Porém, alguns humanos ainda carregavam uma chama que, mesmo tímida, não fora apagada: eles ousavam imaginar.


O indivíduo, obviamente, era proibido de imaginar, ainda mais se fosse imaginar um mundo sem o Estado Único. D-503, nosso protagonista, é um dos que não pensam em nada além do que o governo determina. Ele é racional, metódico e segue exatamente o que é mandado. Ao menos até conhecer I-330. Ela é uma mulher que deseja mais do que um sistema opressor, mais do que o Benfeitor pode prover. Ela quer liberdade e contamina D-503 com esse sentimento. Porém, a mente de nosso protagonista entre em confusão. Ele deveria mesmo lutar contra as bênçãos do Estado Único?
“– E que última revolução é essa que você quer? Não há última, as revoluções são infinitas. Último é para as crianças: o infinito as assusta, e é imprescindível que as crianças durmam tranquilamente à noite” (p. 273).
Partindo dessa premissa, Yevgeny Zamyatin cria um enredo envolvente, profundo e que ainda é atual, mesmo mais de 90 anos após a sua escrita. Sua obra foi tão perturbadora e intrigante que foi censurada e inspirou escritores como George Orwell e Aldous Huxley. A trama forte, os diálogos subversivos e os personagens profundos compõem um enredo que é impossível de ser ignorado. Ele se faz presente por força; grita aos nossos ouvidos.

A construção do Estado Único, em primeiro lugar, é brilhante. Apesar de ainda estarmos um pouco longe de um regime tão abusivo, a metáfora é totalmente pertinente. Vemos, ainda hoje, questões que são tratadas no livro. Afinal, ainda há, infelizmente aos montes, pessoas que defendem um regime totalitário, que reprima a liberdade, mas que traga “a felicidade para os bons”. Ademais, a repressão que o Estado Único estabelece é também possível de comparação com alguns pontos da nossa realidade, como quando manifestações são reprimidas com bombas, força e medo.


Além do livro ser atual, outro ponto que se destaca é a qualidade da construção psicológica dos personagens. Por ser desenvolvido através de uma espécie de diário, escrito em primeira pessoa, entramos na cabeça do protagonista e entendemos seus anseios, o medo da mudança, o temor pelo que pode dar errado. A lavagem cerebral feita pelo Estado Único é tão forte que modifica o ser até nos mínimos detalhes. É essa construção e desconstrução pessoal que acompanhamos na obra.
“O homem é como um romance: até a última página não se sabe como vai terminar. Do contrário, não valeria a pena ler...” (p. 220).
Ademais, o livro também ganha pontos pela boa escrita e pelo envolvimento que estabelece. Mesmo sendo um trabalho idealizado há muitos anos, a linguagem é direta, de fácil acesso e envolvente. Além disso, o autor tem uma forma de construir o enredo que demonstra um domínio gigantesco sobre as estruturas narrativas. Juntos, todos esses elementos formam um clássico que marcará a vida do leitor.

Para completar, a Editora Aleph preparou uma edição muito especial para os leitores brasileiros. A obra conta com uma capa dura belíssima e uma diagramação maravilhosa; o corte é vermelho e preto, e as páginas que dividem os “capítulos” são também escuras. O livro ainda conta com uma resenha escrita pelo George Orwell e também com uma carta, escrita pelo próprio autor, para Stálin. Ou seja, tudo contribui para uma leitura profunda e fluida.

Em suma, Nósé uma leitura mais do que recomendada, visto que, além de um clássico, é uma obra que ainda tem muito a nos ensinar sobre a nossa realidade. Seja você fã ou não de distopias, dê uma chance para o livro. Zamiátin irá surpreender-te.

Outras fotos: 








Viewing all articles
Browse latest Browse all 1532