Título: Homens sem mulheres
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
ISBN: 9788579624384
Ano: 2015
Páginas: 240
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Sinopse:
Murakami é um autor capaz de criar universos próprios, que se desdobram em romances de fôlego e personagens cativantes. Mas ele é também um excelente contista, e sua produção mais recente está reunida neste volume: sete histórias que tratam de relações amorosas e trazem o estilo único do autor.
São contos sobre o isolamento e a solidão que permeiam as relações amorosas: homens que perderam uma mulher depois de um relacionamento marcado por mal-entendidos. No entanto, as verdadeiras protagonistas destas histórias — cheias de referências à música, a Kafka, às Mil e uma noites e, no caso do título, a Hemingway — são as mulheres, que misteriosamente invadem a vida dos homens e desaparecem, deixando uma marca inesquecível na vida daqueles que amam.
Resenha:
Sempre tive curiosidade em conhecer a escrita de Haruki Murakami, porém, não sabia por onde começar. Após ler algumas resenhas e sinopses, além de críticas especializadas, decidi-me por Homens sem mulheres. O motivo da escolha foi simples: se o autor me encantasse em contos, certamente também o faria nos romances. Afinal, um bom conto é muito mais difícil de construir do que um bom romance. Após terminar a leitura do exemplar, o saldo é extremamente positivo: Murakami venceu todas as minhas resistências e ganhou-me com sua narrativa única.
Homens sem mulheresé um livro de contos, logo, não temos um enredo único. Entretanto, há características que se espalham por toda a obra. A primeira é a que já dá título ao livro: Haruki expõe uma série de homens traumatizados, fragilizados e solitários, cuja origem de tal problema se deu no relacionamento com mulheres. Na contramão do que se costuma ver com mais frequência na literatura ocidental – é comum encontrarmos mocinhas sofrendo de amor pelos “príncipes” –, o autor mostra como o amor e a solidão é implacável com todos.
Para alcançar tal efeito, Haruki aposta em narrativas bem desenvolvidas e profundas, que permitem que mergulhemos nas entranhas mais íntimas dos personagens. Esse mergulho faz-nos entender, um pouco melhor, como o relacionamento amoroso é complicado. Muitas vezes algumas palavras ou ações, aparentemente inofensivas, podem marcar alguém para sempre. Ademais, até a ternura e a intimidade, quando em excesso, podem ser fatais.
“Mas não importava a circunstância, ele considerava que o conhecimento superava a ignorância, sempre; isso era uma premissa básica em sua vida. Por mais terrível que seja a dor, eu preciso saber. Afinal, somente através do saber as pessoas conseguem ser fortes” (p. 21).
Murakami desfila personagens em situações estranhas, mas reais e vívidas. No primeiro conto, por exemplo, conhecemos melhor Kafuku, homem viúvo e submergido em memórias; até o couro do carro parece estar impregnado da essência de sua ex-esposa. Porém, ele guarda um segredo que o machuca: sua esposa dormia com outros homens. Ele não sabe bem o motivo e nem como ela os escolhia, porém, isso o machucava. Apesar disso, nunca tocou no assunto; apenas desfrutava a companhia da esposa. Após o falecimento desta, porém, ele tenta encarar essas marcas e diluir esta dor. Contudo, certas marcas são eternas.
No conto supramencionado, a tensão emocional é elevada ao máximo. O autor apresenta um homem fragilizado, quase desesperado, em busca de entender o que lhe faltava para que sua esposa buscasse outros. Nessa corrida insana contra o próprio o coração e alma, ele dispõe-se, inclusive, a ser amigo de um dos amantes, a fim de conhecer melhor o que encantava a sua esposa. No fim, a conclusão é: mesmo quando desfrutamos da maior intensidade e amor, alguns cantos das pessoas são inacessíveis; deles surgem as surpresas, boas e más.
Nesse mesmo ritmo, de amores imperfeitos, de problemas, de solidão e com uma pitada de dor, Haruki vai desenvolvendo seus contos. O que encanta e prende o leitor é verdade contida em cada palavra. O autor demonstra ser especialista na agonia dos corações partidos e apresenta com beleza, mas também morbidez, os desfechos dos relacionamentos amorosos. A verdade é que o resultado é tocante e indescritível. As sensações e reflexões que o livro gera não podem ser completamente explicadas; precisam ser sentidas.
“As palavras que falamos formam o nosso caráter. Pelo menos era isso que eu pensava aos dezoito anos” (p. 51).
O livro segue nesse ritmo, contagiante e tocante. A editora Alfaguara, por sua vez, não ficou atrás e trouxe um exemplar que é digno dos enredos de Murakami. A capa é belíssima e muito curiosa; é difícil ficar indiferente diante dela. A diagramação do livro, por sua vez, é simples, mas muito confortável, proporcionando uma excelente leitura. Temos também uma ótima tradução e revisão; ou seja, tudo contribui para que tenhamos uma experiência rica e vasta.
Em suma, conhecer a escrita de Haruki Marukami foi uma experiência única e maravilhosa que, sem dúvidas, eu indico a todos. Vocês precisam conhecer o autor e as suas obras. Certamente não irão se arrepender.