Um Visitador do Santo Ofício confronta bruxa no Brasil colonial. O drama de um mundo mágico abalado pelo preconceito. As aventuras de uma menina em um conto de fadas nada convencional. Uma prisão onde o demônio não é o único inimigo. O terror de um homem envolvido por uma maldição em seu próprio lar. Inspirado pelo infame texto de dois monges dominicanos, Martelo das Bruxas apresenta histórias cunhadas por cinco proeminentes autores da Literatura Fantástica brasileira.
Resenha:
Confesso que, até começar a leitura desse livro, nunca tinha me interessado por literaturas que falavam sobre bruxas. Sagas – Martelo das Bruxas mudou minha visão sobre esses interessantes seres fantásticos. Acho que meu desinteresse até o momento era devido às referências que eu tinha sobre as bruxas – basicamente filmes americanos e alguns livros bem fracos.
No primeiro conto do livro, Cada história tem..., de Christopher Kastensmidt, conhecemos Beatriz, uma bruxa forte e decidida, que vê sua amiga, também bruxa, ser perseguida e morta pela Igreja Católica. Porém, Beatriz resolve que não aceitará o fim das bruxas tão fácil assim.
Christopher, imediatamente, me ganhou com esse conto, pois Beatriz tem uma personalidade forte, o que eu gosto muito. Além disso, o autor, apesar de escrever uma narrativa curta, soube aprofundar seus protagonistas, o que nos faz criar um apego com eles. Outro ponto positivo é que o conto se passa no Brasil, o que nos faz criar uma familiaridade com o texto.
“Aquele primeiro vislumbre chocou-a. Os esvoaçantes cachos negros de Felipa haviam sido raspados, assim como suas sobrancelhas. Ela padecia descalça sobre os paralelepípedos lamacentos, a multidão como um muro de escárnio em ambos os lados. Um torturador a seguia de perto por trás, e um golpe bem colocado de seu chicote recortou outro talho através de um manto acinzentado que pendia de seus lados em farrapos sangrentos” (p. 19).
No conto seguinte, O quão forte um gigante pode gritar, de Ana Cristina Rodrigues, conhecemos Fomori, um gigante que vive na região da Irlanda. Lá ele se casou com uma humana druidisa e teve um filho. Porém, a Igreja chega até suas terras e começa a caçar criaturas mágicas. Por tal motivo, Fomori conhecerá uma bruxa da pior maneira possível.
Assim como o conto anterior, este também conseguiu me prender de uma maneira muito rápida. Fomori me fez ver os gigantes de outra forma, de uma maneira menos bruta. Porém, o seu encontro com a bruxa faz lembrar o lado mais letal e conhecido dos gigantes.
Na terceira narrativa, Encruzilhada, de Douglas MCT, conhecemos Mara, uma jovem aprendiz de bruxaria. Porém, para conseguir se tornar uma bruxa de verdade, ela terá que passar por provações que nem mesmo adultos suportariam. Será que ela resistirá e conseguirá seu objetivo?
“Circulou a cama com a terra, colocou as mandrágoras nos pontos cardeais e fez um intricado símbolo com as varetas de carvalho. Deitou-se, esperando que a noite trouxesse alívio” (p. 46).
Este é mais um conto onde encontramos uma personagem forte e decidida. Porém, por se tratar de uma jovem, acabamos vendo a bruxa de uma maneira mais humanizada, menos negativa. Afinal, Mara era uma jovem pura. Ou será que não?
No penúltimo conto, A justiça desse mundo, de Ana Lúcia Merege, nos é apresentado Benjamin: um jovem que faz parte do clero. Porém, com a chegada da inquisição em sua cidade, todo o seu cotidiano é modificado. Benjamin terá que passar a enxergar pessoas que conhecia há muito como bruxas e feiticeiros. Será que ele suportará tal fardo?
Gostei bastante desse conto, afinal ele nos mostra uma visão diferente das bruxas, já que a narração é através da perspectiva de um membro do clero. Benjamin é um personagem que eu me identifiquei, pois ele não se mostra invulnerável: pelo contrário, constantemente percebemos suas dúvidas e fraquezas.
“O corpo de Benjamin se encolhe à menção do nome de seu primo. Por um momento, tem a impressão de que as pessoas se viram para fitá-lo, mas isso dura pouco, se é que de fato acontece (...)” (p. 86).
O último conto, Missa Negra, de Duda Falcão, é narrado em primeira pessoa e apresenta um cenário desolador. Em uma cidade pequena, as plantações secaram e as pessoas estão passando necessidade extrema. Porém, em uma fazenda, inexplicavelmente, há fartura. Com fome e com medo, os fazendeiros começam a desconfiar de bruxaria.
Neste conto encontramos a narrativa mais pesada e sombria do livro, mas também uma das melhores, junto com a do Christopher Kastensmidt. Duda Falcão enfoca o aspecto mais demoníaco das bruxas. Os mais medrosos sentirão pavor, muito provavelmente. Porém, é de se admirar a capacidade do autor de transmitir as sensações através das palavras.
Esse é o quinto livro que leio da editora Argonautas e fico maravilhado com a qualidade de suas obras. Todos os livros são extremamente bem escritos e possuem enredos fascinantes. Se já não bastasse a qualidade literária, as diagramações também não ficam atrás. Sem falar das capas que são desenhadas a mão por Fred Macedo.
“Primeiro foram as plantações. Os campos tornaram-se estéreis. No rastro desse infortúnio, logo os rebanhos pereceram. O mau augúrio começou na minha fazenda quanto um bezerro nasceu com duas cabeças” (p. 112).
Pela qualidade de todos os contos, sem dúvidas, eu indico demais a obra, seja para quem gosta do assunto ou para quem, assim como eu, quer se deslumbrar pela primeira vez. Conheça mais sobre os livros da Argonautas; certamente você não vai se arrepender.
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Livro: Sagas – Martelo das Bruxas
Autores: Ana Cristina Rodrigues, Ana Lúcia Merege, Christopher Kastensmidt, Douglas MCT, Duda Falcão
Editora: Argonautas Editora
ISBN: 9788564076020
Ano: 2011
Páginas: 128