Autor: Tico Sta Cruz
Editora: Belas-Letras
ISBN: 9788581741567
Ano: 2014
Páginas: 168
Compre:aqui
Sinopse:
A novela policial originalmente publicada na internet com mais de 300 mil leitores. Pólvora é o livro proibido do roqueiro Tico Santa Cruz, definido pelo próprio autor como uma narrativa "psicótica, suja e violenta". Inicialmente escrito em capítulos curtos para postar em seu blog, em poucas semanas virou fenômeno na rede. Uma leitura intensa e chocante sobre terror e caos, hipocrisia e preconceitos, política e serial killers. Mas, acima de tudo, sobre o lado mais sombrio de cada um de nós.
Resenha:
Um bancário, dono de uma vida monótona e chata, encontra uma mulher sagaz e sensual. Ele resolve fugir do tédio ao lado de Lore, porém nem imagina que sua vida será mudada completamente. Com ela, ele embarca em uma viagem sem destino e sem volta, vivendo um dia de cada vez. Nesta viagem não existem regras e juízos de moral, apenas vontades satisfeitas.
Para conseguir dinheiro, eles precisam roubar. E, aos poucos, os escrúpulos escorrem pelos dedos e se perdem completamente. Eles se tornam ladrões violentos e serial killers. A viagem passa a ser regada por drogas, sexo e prazeres diversos. Porém, os caminhos do mundo podem ser mais perversos do que eles imaginam.
No meio dessa viagem alucinada, eles encontram mais uma tripulante para a sua comitiva: Milene. Porém, o que nosso protagonista não imaginava é que essa nova viajante fosse tão parecida com Lore em suas loucuras. O trio está formado e a estrada será banhada a sangue.
“O motorista parecia nervoso, o que me deixou atento. Peguei um bastão de ferro e fiquei à espreita. Percebi quanto o ajudante do motorista deu a volta no carro. Ele quis atingir Lore com uma pedra que pegara no acostamento. Ela estava tão conectada com aquilo tudo que, antes de desviar da pedra atirada pelo assistente, deu um tiro certeiro entre os olhos do homem ao volante” (p. 8).Tico Santa Cruz, em seu terceiro livro, nos apresenta uma história diferente. Não tem fantasia, apesar dos personagens não serem reais; não é um livro de terror, apesar de a vida real ser assustadora. Tico nos mostra a realidade nua e crua e isso reflete na linguagem usada na obra: tão crua quanto a realidade. Porém, acima de uma história, o livro é uma crítica escarrada.
Não é segredo para ninguém que o Brasil é um país com muita coisa para ser ajustada. Tico aborda exatamente isso, colocando o dedo na ferida: ele critica o governo, políticas públicas quanto às drogas, a monotonia e a rotina estressante da cidade, preconceitos múltiplos, inclusive o religioso, o esquema eleitoral e, também, o envolvimento de famosos e poderosos com o tráfico.
Para dar conta de tudo isso, o autor utiliza-se de personagens profundos e politicamente incorretos. Eles falam o que pensam, fazem o que sentem. Primeiro vem a vontade e depois a consciência. Todos os personagens principais têm essas características, apesar de em gradações e níveis de consciência diferentes, tornando-os únicos.
“Ninguém tem o direito de me dizer o que devo ou não fazer com meu corpo ou com minha mente. Já não sou mais adolescente e isso não é uma atitude de rebeldia como pode parecer. Além do mais, se esses políticos podem encher a pança de uísque e relaxar, por que eu não posso fumar meu beck?” (p. 46).Outro ponto interessante e que agregou muito valor à obra foi a narração em primeira pessoa, o que nos permite conhecer melhor o protagonista. Entendemos seus medos, seus receios e sua vontade de se libertar. Suas opiniões fortes também ficam nítidas através desse tipo de narração.
Como já dito, a linguagem do livro é crua e direta, deixando a leitura ainda mais rápida. Há alguns palavrões no livro, mas nada demasiado. Todos eles foram colocados no texto de forma inteligente. Há também algumas cenas hot, mas, como não estão em excesso, não devem incomodar quem não curte esse tipo de literatura.
Pólvora nos proporciona uma leitura rápida e com altas doses de realidade. Dá para ler o livro em um dia apenas, tranquilamente. Para quem gosta desse tipo de literatura, o livro é mais do que indicado. Vocês não vão se decepcionar.
“Essa gente não tá nem aí para isso, não! Eles só votam porque são obrigados! Acho que é bem feito! Já trabalhei em posto de saúde e sei qual é a realidade. Se tiver a cervejinha e o futebol no fim de semana, não importa se os filhos estudam ou se precisam ficar horas numa fila de hospital” (p. 51).