Autor: Eduardo Prota
Editora: Clube de Autores
ISBN: 9788591780709
Ano: 2014
Páginas: 318
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Sinopse:
Uma terra. Muitos corações. Assim são as Ibyranas, terras distantes colonizadas pelo Reino de Calus, que, imerso nos próprios problemas, as trata como uma posse e nada mais. Os ibyranos se veem constantemente assolados por fugas de negros de seus engenhos e ataques de tribos nativas às suas terras, tornando cada vez mais difícil a vida dos donatários, que, isolados e esquecidos, procuram resolver suas questões por conta própria. Porém, nem mesmo os senhores das capitanias, que defendem os interesses de Calus na região, poderiam prever que, naquela terra, havia muito mais do que política: os angás, antigas entidades que já habitavam as Ibyranas, não têm mais paciência com os abusos dos homens. Uma única fazenda é atacada e um donatário é capturado. Também sua filha e suas duas melhores amigas são levadas, e ninguém sabe ao certo quem foi o responsável ou o porquê. Cabe agora a alguns poucos amigos resgatá-los entre esses, um casal de escravos que conhece a terra como ninguém, um capataz misterioso, um menino imortal e até mesmo o próprio filho do Rei de Calus. Enveredando-se pelas Ibyranas, descobrem a real natureza daquela terra, que, de tão extensa, guarda mistérios inimagináveis. Alguns desses mistérios sorriem para eles e os chamam de amigos. Já outros têm seus próprios interesses e não sorriem para ninguém. . .
Resenha:
Ao ler a sinopse, eu imaginei que As Ibyranas fosse um bom livro, com mistério, fantasia e ação. Ao terminar a obra, fiquei mais do que satisfeito. Eduardo Prota conseguiu superar em muito minhas expectativas e colocou seu livro entre minhas obras nacionais favoritas.
O livro se passa em Ibyranas, uma terra dominada e colonizada por Calus. Por lá, nós conhecemos Anna Gabriella, Aurora de Meneghal e Helena. As duas primeiras são filhas de latifundiários que controlam capitanias. A última, escrava da família de Anna. Porém, apesar das diferenças sociais, as três demonstram afinidade e amizade.
No aniversário de quinze anos de Anna, ela recebe uma ilustre visita: Rafael, filho do rei de Calus. Foi aí que a vida da menina começa a sair dos eixos. Ela se sente, automaticamente, atraída pelo rapaz. E o destino acaba os aproximando por causa de um misterioso sequestro.
“– Ah, Júlio – disse Aurora, com um sorriso irônico, pegando da mesa uma garrafa de vinho quase cheia – Dom Afonso tem duas qualidades que eu muito admiro: uma invejável adega e um sono muito pesado” (p. 32).Anna, Aurora e Helena são raptadas por um grupo de seres mágicos e, até então, considerados apenas como lendas. Rafael vai atrás de Anna, obviamente. Porém, o que ninguém imaginava que aquele sequestro poderia ser muito mais do que um simples rapto, mas uma declaração de guerra.
Com o enredo acima retratado, o autor conseguiu misturar muito mistério e fantasia, dosando com uma pequena quantidade de romance, tornando toda obra muito atraente. Aliás, não só o enredo chamou a atenção, mas também a construção dos personagens e das criaturas mágicas.
O primeiro ponto que cativou na obra foi a linguagem utilizada pelo autor. Ele soube mesclar bem a linguagem mais culta, usada pela aristocracia, com as variações linguísticas dos escravos. Conseguimos, claramente, pelo simples falar, saber muito dos personagens que são apresentados.
“A senzala, sempre opressiva, estava alegre, cheia de vida. Fora uma grande surpresa para os humildes trabalhadores da Fazenda Monte Branco quando a sinhazinha deu as caras por lá” (p. 33).E, falando deles, é impossível não se deixar cativar pela gama de personagens marcantes que o autor criou. Entre eles, destaco Helena, Avelino e Aurora. A primeira, como já dito, é uma escrava. Porém, pela proximidade com Anna, fala muito bem, mas não esquece suas raízes. Corajosa e destemida, uma guerreira e capoeirista nata, ela nos ganha um pouco mais a cada página.
Avelino, por sua vez, nos mostra como a bondade e o coração aguerrido podem conviver dentro do mesmo ser. Ele também é um escravo e criou Helena, apesar de não ser pai da menina. Porém, mesmo sendo escravizado e agredido, mostra-se o mais sábio de toda a obra, chamando a atenção do leitor imediatamente.
Aurora, por fim, conquista os leitores por ser tudo que uma dama da época não deveria ser. Ela se mistura com os escravos, gosta de estar entre o povo para conversar e descobrir costumes locais. Além disso, ela guarda um coração bondoso e é extremamente corajosa, o que nos faz esquecer aquelas damas frágeis e bobinhas.
“Cavalo mantinha a pose robusta. Tinha que manter. Isso lhe cobrava forças. O frio era penetrante o bastante para fazer qualquer homem tremer, mas não era um frio comum. A neblina era como o hálito de uma besta medonha. Um gélido hálito, que agora era exalado sobre sua nuca. Suas mãos tremiam copiosamente” (p. 88)E se os personagens cativam, a fantasia criada é cobertura de chocolate no bolo. Esqueça os dragões, sereias, gigantes... Eduardo Prota se utiliza da nossa cultura para construir a parte fantástica. Você encontrará no livro o saci, caiporas, curupiras, ingás e, até mesmo, a Cuca. Como não adorar?
Por todos esses elementos mencionados e muitos outros, eu mais do que recomendo a obra. Se você quer ler um bom livro e, ao mesmo tempo, conhecer mais da nossa cultura, você não pode deixar de ler esse livro. Você não irá se arrepender!